X - Um novo tempo

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O homem encarou a criança, surpreso:

- Quem é você, menino?

- Eu sou o Marquinhos. Vim com meu pai Beto e meu pai Dimi - o menino explicou um pouco tenso, sem saber o que esperar.

- Como alguém pode ter dois pais e nenhuma mãe? - o senhor perguntou com desdém.

Marquinhos olhou bem sério para o sujeito:

- Eu tenho, ora. Meus dois pais cuidam muito bem de mim. E minha mãe me largou quando nasci, nunca quis cuidar.

- E você não acha estranho?

- Não acho não - o menino afirmou com segurança, tirando um leve sorriso do homem, que fechou a cara de novo ao perceber que estava perdendo a postura.

- O certo é um pai e uma mãe - o senhor insistiu.

- Mas o meu pai Beto gosta é do pai Dimi - Marquinhos continuou firme, franzindo a testa.

- Como o Dimitri pode ser seu pai, garoto? Vocês não têm o mesmo sangue - a fala do homem saiu com leve tom de deboche.

O garoto respondeu com uma franqueza desconcertante:

- Porque eu sinto assim. É pai do coração. O senhor, dessa idade, ainda não aprendeu isso?

- Mas que atrevido... - o senhor murmurou, sem conseguir argumentar mais.

Marquinhos pareceu murchar, com o olhar triste e uma voz arrastada:

- Desculpa. É que eu queria tanto um vô... o pai do meu pai Beto morreu antes de eu nascer.

O homem engoliu em seco, realmente tocado pelas palavras daquela criança.

- Tá bom. Eu posso ser seu avô - balbuciou, quase fazendo força para dizer isso.

- Oba! - o menino abraçou seu novo avô com entusiasmo. O senhor retribuiu apertando de leve o novo neto em seus braços.

Tão envolvidos naquele momento, eles nem perceberam que Dimi e Beto acompanhavam tudo da porta que levava à varanda. Com lágrimas escorrendo pelo rosto, o loiro deitou a cabeça no ombro do parceiro, que o envolveu pela cintura com o outro braço e conduziu para a sala. Dimi parecia exausto, precisando de aconchego, e Beto faria o que fosse possível para ver seu amado mais leve. Após sentarem no sofá, o moreno deixou que o noivo ficasse em silêncio, apenas repousado em seu ombro, enquanto lhe acarinhava os cabelos.


Na varanda, o abraço foi interrompido pela chegada de Daniel com os filhos: João tinha praticamente a mesma idade de Marquinhos, e Amanda um ano e meio a menos que o irmão.

- Vooooô! - as crianças já entraram chamando, e pararam ao ver Marquinhos. Ficaram em silêncio, olhando sem saber o que fazer.

Daniel aproximou da dupla, que tinha se soltado do abraço ao ouvir as vozes:

- Você deve ser o Marquinhos, filho do Beto, né?

- Sim, e do pai Dimi - o garoto respondeu prontamente;

- E sou seu tio Daniel - o rapaz sorriu, emocionado de conhecer o sobrinho.

- Legal! Tenho um tio! - o pequeno deu um pulinho de alegria.

- E primos - Dani puxou as crianças para perto - João, Amanda, mostrem o pátio pro Marquinhos.

- Vem, tem um monte de coisa legal aqui - chamou João, já saindo depressa para o pátio e sendo seguido pela irmã e pelo novo primo..

Daniel esperou os pequenos se afastarem e sentou-se diante do pai, com um leve sorriso de satisfação:

- O garoto estava lhe dobrando, é?

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