II - Em sintonia

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Beto aproveitou para lavar a louça enquanto Dimi ensinava Marquinhos, com o caderno na mesa da cozinha. Da pia ele conseguia dar umas espiadas na aula e ouvir tudo. O professor orientava com muita calma, enquanto o menino repetia os traçados no seu caderno:

- Assim, ó, Marquinhos. Faz um palito aqui, outro ali, e eles dão as mãos... M!
Agora faz um telhado, e põe uma prateleira... A!

Um palito, uma voltinha e uma perninha... R!

Agora uma boquinha aberta... C!

Esse é o mais fácil, só fazer uma bolinha... O!

E na última a gente faz uma cobrinha rastejando... S!

Agora acompanha meu dedo... MARCOS

- Olha, pai! Escrevi meu nome! - o menino vibrava.

- Que lindo, meu filho! Eu sabia que você ia conseguir - Beto estava emocionado, e quando se tratava do filho, ele não disfarçava.

Dimi pegou algo em sua mochila e entregou ao aluno:

- Trouxe pra você uma folha com o seu nome pontilhado, para você treinar. Como ela é plastificada, pode apagar e escrever várias vezes.

- Legal! Posso fazer no meu quarto, pai? - o menino pediu, sorridente.

Beto largou a última louça no escorredor e se aproximou enquanto enxugava as mãos num pano:

- Pode sim. Mas é pra fazer, depois você brinca.

Marquinhos o encarou:

- Você prometeu jogar videogame comigo, lembra?

O pai olhou com firmeza para o filho, mas sorrindo:

- E vou cumprir, depois que você terminar a tarefa.

- Tá bom - O menino abraçou Dimi pelo pescoço com entusiasmo - Professor, você é muito legal!

Enquanto Marquinhos corria para o quarto, Dimitri comentou com Beto:

- Ele é um menino esperto, vai aprender. Mas no tempo dele.

O advogado balançou a cabeça na vertical:

- Sempre acreditei nisso.

O loiro deu um sorriso comovido:

- Isso é tão importante, acreditar no potencial das crianças. Você é um ótimo pai.

- E você leva muito jeito pra ensinar, nunca vi o Marcos tão interessado e à vontade - devolveu Beto, sincero.

- É que eu amo fazer isso. Ver uma criança ganhando conhecimento, e com isso confiança, é lindo demais - Dimi explicou com emoção.

O advogado olhou para o rapaz com gratidão:

- Te agradeço muito pelo apoio. Às vezes a vida de pai solo é muito solitária. Tão bom quando alguém estende a mão...

O professor ficou pensativo por alguns instantes, e não resistiu a perguntar:

- Você cria o Marquinhos sozinho desde que ele nasceu?

- Sim. A mãe sumiu assim que ela teve alta do hospital. Eu que fiquei indo todo dia pra ver meu menino na UTI, fiz canguru, dei fórmula no copinho - Beto enxugou uma lágrima no canto do olho e abriu a galeria de fotos do celular, buscando um álbum. Então mostrou a foto de um bebê minúsculo, com a pele muito rosada, meio transparente, e vários fios e tubos conectados - Olha como ele era pequenininho.

- Nossa...Deve ter sido uma barra - Dimi também tinha os olhos marejados.

- Foram os dois meses mais longos da minha vida - resumiu o moreno de um jeito que expressava o alívio por aquele momento ser parte do passado.

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