VIII - Família, família

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- Ah, Beto... claro que eu aceito! - as lágrimas desceram pelo rosto de Dimi, ao mesmo tempo em que ele sorria de um jeito que parecia preencher todo o rosto.

- Te amo! - murmurou o moreno, parecendo mais apaixonado do que nunca.

- Te amo! - devolveu o outro, com uma voz que era quase um suspiro.

O advogado acarinhou o rosto do parceiro:

- Agora temos mais um motivo para visitar sua família. Convidar pro nosso casamento. Você vai ver se eu não convenço seus pais a estarem conosco nesse momento.

- Ah, isso parece um sonho - Dimi estava emocionado demais para pensar nos problemas familiares.

- Mas é real! - Beto abriu um grande sorriso, e buscou os lábios do namorado para um beijo cheio de amor. Depois o encarou pensativo - Você quer alguma benção religiosa?

- Não faço questão - a troca de olhares foi suficiente para explicar que ambos compartilhavam da sensação de nunca se sentirem acolhidos nos ambientes religiosos.

- Nem eu - o moreno concordou, e em seguida sorriu com jeito de quem estava com uma grande ideia - Mas tenho uma amiga poeta que celebra casamentos. Certeza que ela vai escrever algo lindo pra gente.

- Nossa, você consegue me surpreender ainda mais... - o loiro contemplou o outro com um ar de encantamento.

- Porque você me inspira - derramou-se Beto, puxando o amado para um beijo mais intenso e demorado.

Quando colocaram as alianças na mão direita, Dimitri entendeu que havia chegado a hora de enfrentar aquele momento que vinha adiando há meses. Procurou a diretora e a supervisão, explicando com o maior cuidado sobre seu relacionamento com Beto. As educadoras pareceram ter entendido que o professor jamais desrespeitou o ambiente escolar, e que isso continuaria sendo verdade. Mas a novidade espalhou-se como folhas em dia de ventania. No final do turno da tarde, todos os colegas já sabiam. E o loiro percebia os cochichos com olhares pretensamente disfarçados na direção dele. O jeito era respirar fundo e ignorar.


Por algumas semanas, Dimi conseguiu fingir ignorar aquele clima que instaurou na escola. Mas o incômodo foi se acumulando, até que em uma tarde ele chegou do trabalho com os olhos úmidos, mas uma expressão de raiva.

- Meu amor, o que aconteceu? - Beto foi perguntando assim que viu seu noivo entrando em casa naquele estado.

O loiro soltou um profundo suspiro e respondeu com a voz meio travada:

- Ah, você sabe que eu amo meu trabalho, mas não to aguentando mais. Os olhares, os risinhos, os pais que não falam comigo direito. Não é justo.

O advogado abraçou o parceiro de um jeito muito acolhedor, deixou que o rapaz sentisse aquele aconchego em silêncio por alguns minutos, até que afastou o rosto, sem se soltarem do abraço, apenas o suficiente para olharem nos olhos um do outro.

- A gente não escolheu se apaixonar - argumentou Beto, num tom que demonstrava compartilhar da indignação do outro.
- Mas escolhemos viver esse amor. E eu não me arrependo - Dimi rebateu com firmeza.

- Que bom. Também não me arrependo de nada, e escolheria viver nosso amor quantas vezes fosse preciso - o moreno tinha aquele entusiasmo apaixonado mesmo nos momentos difíceis.

Mas Dimi respirou fundo, com a revolta turvando seu olhar:

- Sabe o que me dá mais raiva? Que se eu fosse hétero e me relacionasse com mãe de aluno, iam ignorar. Homofóbicos de merda! - gritou com os dentes semicerrados.

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