VII - As melhores escolhas

237 30 10
                                    

Dimi encheu os pulmões de ar e respondeu com muita convicção:

- O que é melhor para uma criança? Viver em um lar repleto de amor, mesmo que não seja dentro dos padrões estabelecidos por alguém, e com um pai que ama esse menino incondicionalmente? Ou ir morar com uma genitora que o abandonou na UTI Neonatal, nunca procurou nem notícias do garoto, e ainda vai jogar preconceito pra cima dele, vai deformar sua visão de mundo, ensinar intolerância? Acho que a resposta não é difícil.

O loiro olhou para o parceiro, que sorria orgulhoso mas com os olhos banhados em lágrimas.

- Já é o suficiente - assegurou o juiz, dispensando o educador.

O rapaz soltou um profundo suspiro de alívio e sentou-se novamente ao lado do namorado. Beto apertou a mão de Dimi discretamente mas com força, precisava demonstrar de alguma forma física o quanto estava grato e comovido. O professor olhou para o moreno de um jeito que parecia dizer "estamos juntos!", e o outro sorriu emocionado. Estavam tão enlevados com aquele momento que quase nem ouviram o juiz chamar a próxima testemunha.

Samuel, o marido pastor de Alice, alegou que queria a chance de dar ao menino um lar onde são seguidos os princípios cristãos. E afirmou que receberia Marquinhos como se fosse seu próprio filho. Beto e Dimi se olharam, entendendo que pensavam a mesma coisa: não acreditavam em uma palavra daquele homem. Quando inquirido sobre as condições para sustentar a criança, o pastor respondeu com um "Deus proverá". E o advogado não conseguiu disfarçar a cara de ranço. Não suportava quem usava o nome de Deus para fins duvidosos. E conhecia bem aquele tipo, de discurso manso e lábia perigosa. Quantos desses já tinham cruzado seu caminho em todos aqueles anos de advocacia? E Alice foi se envolver justamente com tal espécie de gente? Parecia surreal que tivesse se apaixonado por aquela mulher algum dia.

Depois de ouvir os argumentos de ambos os genitores, o magistrado fez um breve intervalo e voltou com a decisão:

- O que vejo é que não há razão para tirar o menor Marcos Lourenço do convívio e da rotina a que está habituado, bem cuidado, protegido, com tudo que uma criança necessita. Ainda mais para conviver com pessoas que mal conhece. Pelo bem-estar do menor, o pai permanece com a guarda. Serão ajustadas as condições de visita.
- Mas ele é um promíscuo, pederasta! - Alice exaltou-se.

O juiz a encarou com um olhar severo:

- Por favor, minha senhora, vamos manter o decoro. E manter uma relação homoafetiva não é promiscuidade, nem mau exemplo. Homofobia, sim, é crime.

- Ah, só o que me faltava, o juiz é desviado também - a mulher murmurou para o marido, mas o magistrado ouviu.

- Minha vida pessoal não está em pauta aqui. Mas eu sou homossexual, sim. E isso não diz nada sobre meu caráter. Assim como a relação destes dois homens, que demonstram ter muito amor entre si e pela criança. E quem vê problemas no amor, é que está com a visão distorcida - o magistrado declarou com altivez, mas muita tranquilidade. Alice engoliu em seco e saiu puxando o marido pela mão, enquanto Beto e Dimi sorriam muito satisfeitos com a cena. Eles trocaram um olhar cúmplice com o juiz, os três felizes pelo desfecho justo e tão representativo.


Os dois homens chegaram em casa rindo aliviados.

- Filho! - o moreno chamou assim que abriu a porta.

Marquinhos veio correndo e jogou-se nos braços do pai.

- Vou ficar com você, né pai?

- Ninguém vai tirar você de mim, filho. Ninguém - Beto respondeu abraçando o menino e beijando os cabelos dele, emocionado.

Aprendendo a amarOnde histórias criam vida. Descubra agora