V - Ressurgida das trevas

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- Filho, o pai vai para o quarto fazer uma ligação, assiste seu desenho quietinho, tá? - o advogado avisou com a voz trêmula, enquanto já deixava o número no ponto para chamar. Fechou a porta do quarto e deu o comando. Quando ouviu o alô de uma voz feminina, já saiu despejando:

- Você nunca quis saber do menino, e acha que pode chegar assim de qualquer jeito?

- Ele também é meu filho, tenho direitos - a mulher do outro lado não se abalou.

- Deveres você nunca quis ter mesmo, né? - Beto parecia cuspir as palavras.

- Nunca te enganei - Alice continuava irritantemente calma.

- Isso é verdade, você rejeitou o Marquinhos desde que ele estava em seu ventre - o homem não economizou no sarcasmo..

- Foi mesmo, eu não desejava um filho naquele momento. Mas eu mudei, todo mundo merece uma segunda chance. Jesus nos ensinou a perdoar.

A voz mansa do outro da linha deixou o moreno ainda mais irritado:

- Não adianta vir com esse discurso. É muito fácil aparecer agora que ele está crescido e querer ser mãe. É fácil pular as partes "chatas", né? - o tom dele era cheio de ironia - Nunca trocou uma fralda, deu uma mamadeira, nunca passou uma noite em claro cuidando do menino com febre. Você não tem ideia do que é ser mãe.

Ele ouviu um suspiro, seguido de um pedido direto:

- Eu só quero ver o garoto. E estou tentando de forma amigável.

- Preciso pensar. Deixa que eu entro em contato - Beto queria acabar com aquela conversa.

- Ok, eu aguardo uma resposta - Alice concordou e encerrou a ligação.


Ao desligar, Beto apertou o telefone na mão, bufando. Só não jogava o aparelho na parede porque sabia que isso era inútil e lhe traria mais um contratempo. Mas estava atordoado, e só uma pessoa conseguiria acalmar seu coração. Ele buscou o número na agenda e chamou. Quando o loiro atendeu, o advogado nem deixou que ele falasse o primeiro alô, já foi implorando:

- Dimi, me ajuda.

- Que foi? Quer que eu vá aí? - o professor ficou preocupado.

- Quero. Melhor conversar pessoalmente - a voz do advogado estava trêmula.

- Respira, que daqui a pouco estou aqui - Dimi avisou, tentando acalmar o outro.

Beto voltou para a sala, inquieto.

- Marquinhos, vai pro quarto jogar videogame, porque o pai precisa resolver umas coisas.

- Tá... - o menino percebeu o clima estranho e obedeceu meio assustado.

O barulho do jogo até acalmou um pouco o moreno, porque o filho estava distraído. Mas a ansiedade era tanta que já esperou com a porta aberta. Quando Dimi chegou, o advogado o puxou para um abraço cheio de angústia.

- Que bom que você está aqui - murmurou angustiado.

O loiro olhou com firmeza para o amigo:

- Calma. Eu to com você. Me conta o que houve.

Beto encheu os pulmões e contou, fazendo força para não se exaltar::

- A Alice ressurgiu das trevas.

- A mãe do Marquinhos? - o professor tinha ouvido falar dela poucas vezes, mas gravara bem o nome.

- Mãe? Ela não merece esse título. Só carregou o menino na barriga, e por apenas seis meses - a voz saiu carregada de ressentimento.

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