A marola da revolução morre na praia do marasmo
E eu ainda espero a ressurreição
Eu ainda aguardo, aguardo a cada manhã
Pois sem a Justiça, com ela morta
Quem me protegerá nas noites mais frias?
Pois só a Justiça trará meu futuro
Sem que eu me renda às maçãs verdes
A Justiça não me trairá
E eu ainda espero a ressurreição
Porque a Justiça não pode morrer
E é nisso que irei acreditar
Pois ela mais uma vez se fará sentir
Abalará o mundo como nunca abalou
A Justiça ressuscitará
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Capítulo X
"Passado"
No princípio havia o Rei Shinigami. Ou Rei da Morte.
Suspenso sobre o vazio, o cenário desolador e deprimente que estava destinado a habitar, o qual refletia sua atroz função e decadente aparência. Constituído de uma massa disforme da qual pendiam quatro raquíticos membros, a cabeça formada por um crânio medonho inserido na boca de ainda uma outra caveira, sua razão de existência era apenas expandir o tempo desta tirando a vida dos humanos, os quais poderia observar quando quisesse a partir de sua dimensão. Estavam sempre atarefados ou despreocupados, esquecendo-se do que um dia os aguardava. Quando julgasse o tempo certo, o Rei da Morte interromperia a trajetória terrestre de cada um deles.
Para esse fim possuía seu caderno. Um caderno da morte. Bastaria escrever o nome, momento e condições do óbito do respectivo humano para que o mesmo ocorresse e a sobrevida do morto fosse remetida a si. Levava assim uma rotina parasitária, monótona, sendo que nos momentos em que não cumpria seu papel mal podia se mexer, dominado por um sentimento de total letargia. Além do mais, não tinha nada além disso para realizar naquele mundo deserto, a não ser de quando em quando esticar com dificuldade um dos braços para apanhar do chão uma das maçãs daquele plano, saboreando seu gosto amargo.
Até que um dia, no ápice da repetição de um cotidiano em relação ao qual só crescia seu ódio, encarou o céu sem cor e em seguida, baixando os olhos, deparou-se com o portal para a terra dos humanos, através do qual conseguia acompanhar suas ações. E, decidido... resolveu terminar de vez com todo aquele tédio.
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1500 a.C., aproximadamente. Algum lugar no Oriente Médio.
No topo de uma colina árida, um simples pastor, vestido em trapos, os pés descalços e com um tosco cajado imposto firmemente por sua mão direita contra o solo, guardava seu rebanho sob o sol escaldante. O ar seco lhe atingia o semblante, tumultuando-lhe os cabelos negros. Os animais pelos quais era responsável, algumas míseras cabras e cabritos magros e desnutridos, raspavam desesperadamente as patas contra o chão em busca de alguma gramínea que pudessem ingerir. Eram tempos de penúria. Penúria extrema.
Do alto da elevação o pastor conseguia enxergar o povoado de Tileáde não muito distante, no qual residia. Apesar das construções modestas e da maior parte dos habitantes também sofrer com a escassez, sabia que havia um pequeno grupo de pessoas que conseguiam prosperar. Eram os comerciantes, homens ricos que conseguiam manter sua boa vida devido aos preços exorbitantes cobrados de qualquer mercadoria vendida aos pobres aldeões. Mesmo tendo ciência da situação desesperadora que estes enfrentavam, não relutavam em continuar a explorá-los. Eram verdadeiras serpentes, seres sem qualquer traço de compaixão ou misericórdia.
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Death Note: Ressurreição
Fiksi PenggemarTrês anos se passaram desde o encerramento do Caso Kira. Quando o mundo, em seu costumeiro marasmo, ainda debate e reflete sobre o período em que o poder de matar de um Shinigami foi concedido a um humano, novas mortes por parada cardíaca preocupam...