Verdades

517 34 58
                                    

- O que cê quer conversar uma hora dessas?

- Me deixa entrar que você vai ver.

Mato Grosso do Sul dá passagem para a mulher entrar. Se sentaram na cama, um de frente para o outro, Helena cruzou as pernas, mantendo a postura ereta.

- Olha, depois de hoje, eu acho que o melhor seria eu abrir o jogo com você.- MS ouvia com atenção.- Vamos ser sinceros, nenhum de nós quer esse casamento. E não precisa se fazer de surpreso. Eu sei que você já não quer isso a um bom tempo. E eu vou ser muito transparente com você, eu também não quero me casar. Pelo menos, não com você.

- Mas... Pra que você veio de tão longe, então? Por que arrumou toda aquela briga na casa do Minas hoje?

- Vamos começar pelo início. Eu nunca quis casório nenhum, com você, apesar de que no início eu até gostava de ti. Eu só entrei nessa porque você falou pros nossos pais que íamos ficar juntos, e eles ficaram extremamente felizes. O maior sonho da minha mãe era me ver casando. E o melhor, com um cara de família rica. Mas, nós tínhamos 19 anos. Só 19! Eu queria viver, aproveitar, e não já estar em um compromisso. Daí eu juntei um pouco de dinheiro, peguei minhas roupas, e fui. Deixei aquela carta pra trás, e fui pro Rio Grande do Sul estudar. E lá eu conheci um cara, e que cara.- os olhos de Helena começaram a brilhar.- Nós começamos a namorar, construir uma vida juntos. Mas aí o dinheiro apertou, ele não tinha um emprego que pagasse bem. E foi aí que eu pensei em você.- a expressão de MS era de confusão.- Eu mantive contato com alguns dos seus primos, que já eram meus amigos antes de a gente se conhecer. E como eles me disseram que você não tinha arrumado mais ninguém, eu vi a oportunidade. Sua família é rica, e se eu me casasse, ia ser muito mais fácil arrancar dinheiro de você. Peguei o resto de dinheiro que tínhamos, e vim pra cá. Mas, chegando aqui, você me engana pra ir atrás de um... Desmunhecado- o Sulmatogrossense se levanta, e interrompe a mulher.

- Olha aqui, cê pode falar o que quiser de mim. Pode me chamar de jumento, porque eu fui mesmo, um. Pode me xingar. Mas você lave essa boca pra falar do Minas!

- Tá, tá! Me deixa continuar. Eu cansei de fingir. Acho que vai ser muito mais fácil, se eu abrir o jogo com você. Eu preciso de R$ 9.000,00.

- Que?! Cê ouviu o que você falou?

- Ouvi sim. E eu preciso desse dinheiro, pra ir embora e reconstruir minha vida, com a pessoa que eu realmente quero casar.- A tranquilidade de Helena irritava MS.

- Eu não tenho esse dinheiro todo. Ao contrário do que cê tá achando, meus pais só deixaram dívida pra nós. Fora que... O estado não tá passando por uma época muito boa.

- Não quero saber.- disse se levantando.- Se você não quer me ver mais na sua frente, acho bom me arrumar esse dinheiro.

- E se eu não arrumar? Cê vai fazer o que?- Mato Grosso do Sul cruzou os braços, olhando a moça.

- Vejamos, talvez espalhar pros seus primos que você anda se engraçando com...outro macho.

- Você não- foi cortado.

- Aah mas eu faço. E eu faço com toda convicção de que eles vão acreditar em mim. Sabe por que? Porquê por aqui, eu já fiquei sabendo que todo mundo comenta sobre vocês dois. Fora que... Você acha que eles vão acreditar em quem? No cara que precisou que o amigo do pai trouxesse a única filha mulher, pra desencalhar? Enquanto o resto já tava até casando. Ou na moça que viajou meio mundo pra casar, e foi dispensada pelo homem que quer quebrar a tradição da família?

Mato Grosso do Sul se sentiu encurralado. Conhece bem a família que têm, e o que Helena dizia não era nenhuma mentira. Mas não tem de onde tirar essa quantia.

- Eu vou ser boazinha, não vou te dar um prazo. Por enquanto...- disse se aproximando, passou os dedos pela barba feita de MS, ele a olhava com raiva.- E eu acho bom você não me passar a perna. Porque cê pode até ser grande, mas eu posso ser ruim que nem um diabo. Eu sei muito bem os pontos que te afetam.- o homem afastou sua mão, que lhe segurava o rosto..

- Cê não pense em encostar nem na minha irmã, nem no Minas!- apontou o dedo para Helena.

- Se você colaborar...- cruzou os braços, com um sorriso malicioso.- Se você desembolsar um dinheirinho agora, eu sumo dessa casa. Já tô cansada de olhar pra cara de nojo da sua irmã. Ela nem disfarça.

O Sulmatogrossense andou até a cômoda, pegou a carteira e entregou uma quantia para Helena.

- Aqui, deve dar pra pagar sua estadia em alguma pousada por um tempo. Amanhã não quero ver sua cara aqui em casa.

- Ótimo.- disse mandando um beijinho para o outro, saiu do quarto em seguida.

- Diacho!- esbravejou, se jogando na cama. Não sabia o que fazer, não quer que ela faça mal a ninguém. A Helena que ele conheceu a anos atrás, não se parece nada com a de agora.

Seu sono fora roubado, sua cabeça está a mil. Até que seu celular vibra, e a tela acende. Ao pegar, viu que era Minas que lhe enviou uma foto. Sorriu sutilmente vendo de quem era a notificação. Abriu a foto, e era uma selfie tirada por Rio de Janeiro, com São Paulo um pouco atrás, Minas e na outra ponta Espírito Santo. Todos sorriam, o lugar estava um pouco escuro, a iluminação era baixa, mas o suficiente para ver os rostos, e um balde de pipoca no colo do mineiro. Em seguida, chega uma mensagem de texto,"Seria legal se você estivesse aqui também:)". MS sorriu mais, "Só ele pra me fazer sorrir numa situação dessas.", pensou. "A gente pode ver um dia.", respondeu.

Na manhã seguinte, Helena saiu bem cedo da casa. Antes que os irmãos pudessem ver. Pediu um carro de aplicativo e foi para um pousada próxima. Pegou um quarto e foi tomar um café na padaria próxima. Ao se sentar em uma das mesinhas do lado de fora, Arthur, o homem que havia dito onde Mato Grosso do Sul tinha ido.

- Opa! Bom dia.- cumprimentou.- Tá acompanhada hoje?

- Bom dia! Nada, senta aí.

- E aí? Aquele dia, ele tava na casa do mineiro mesmo?- Helena deu um gole no café.

- Tava, menino. E pior, tavam juntinhos perto da caminhonete, num cantinho.

- Ih rapaz, aqueles dois não se desgrudam. No início eram que nem gato e rato, mas depois apareceram aí, amiguinhos. Se bem que, pra ele te deixar sozinha aqui pra ir atrás do outro lá, deve ter alguma coisa a mais.

- Hm, eu não tenho dúvidas. Tanto que a gente não vai mais se casar.

- Sério?- Helena afirmou com a cabeça, tomando café.- Mas também, se me permite, uma moça bonita dessas merece alguém melhor.

- Muito fofo da sua parte. Mas eu não tô interessada.- sorriu.

- Nah, tudo bem. Quem sabe a gente se conhecendo melhor.

- Sabe uma coisa que tá me deixando curiosa? Você não me parece gostar tanto do Mato Grosso do Sul. Por que?

- Olha, acho que isso é um pouco pessoal.

- Que isso, pode confiar. Podemos ser bons amigos.- A mulher sorriu pondo a mão sobre a de Arthur.

- Sei.- soltou uma risadinha.- Vou dar um voto de confiança. Eu não gosto de ninguém daquela família.

- E por que?

- Eu ia casar com a irmã dele, a Mato Grosso, o pai deles me apresentou e me prometeu a mão dela. Mas aí ela me dispensou na frente de todo mundo. Me fez passar vergonha. E eu tenho meus desentendimentos com Mato Grosso do Sul também. Acho que já te contei o bastante.

- Sabe, acho que esse desgosto por essa família pode nos unir.

- O que quer dizer?

Continua...

Nota: Espero que tenham gostado. Gosto muito de ver os comentários de vocês.

EntrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora