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Andrade's Pov

Eu não sei que merda eu tinha na cabeça pra deixar as coisas chegarem a esse ponto.

Eu sinto tanto a falta dela que estou enlouquecendo. Eu até tava tentando seguir a vida, mas depois da última vez que nos falamos, eu perdi o controle da minha vida.

Mais uma vez eu fugi. Por meses eu desapareci de Londres, fiquei em um chalé em Dartford que costumava vir quando era pequena com minha família, me afogando em bebidas mágoas, remorsos e dor de cotovelo até levar uma chamada do meu pai, que me fez pensar e repensar em muitas coisas, mas tudo se resumia a sentir falta de cada partezinha dela.

Eu sei que a culpa de tudo o que aconteceu é minha. Eu explodi de ciúmes, quando vi o caos tava feito. Se eu pudesse voltar no tempo teria feito tudo diferente desde o dia um, teria me deixado apaixonar no dia um, teria tentado evitar o AVC do Lourival, teria casado com ela e com certeza estaríamos juntas.

Eu só quero ela de volta!

Nesses meses eu continuei a terapia. Sem ela e sem meu pai eu ainda estaria afundada. E nesses meses eu percebi algumas coisas.

Eu não tinha coragem de esquecer tudo e voltar pra Juliette não porque não confiava nela, mas porque não confiava em mim. Veja bem, quando ela foi cuidar do pai dela, nos afastamos muito, mal conversávamos. Nosso namoro não era mais o mesmo. E quando eu toquei no assunto "dar um tempo" enquanto as coisas não melhoravam, Juliette ficou tão mal que acabou comigo, alegando ser um fardo. E eu aceitei. Eu não lutei por ela.

Eu poderia ter executado projeto voluntário no Brasil e tentado ficar com ela e segurar a barra, e eu fui pra mais longe ainda.

Continuar minha amizade colorida com Poquita também não fazia sentido nenhum, mas no fundo eu sei que foi por carência. Mas mesmo solteira, depois que Juliette reapareceu, parecia errado e eu só... continuei.

Machucar o amor da minha vida. Ver em seus olhos a decepção ao ouvir as barbaridades que lhe falei me corta cada vez que lembro disso. Eu espero que um dia ela possa me perdoar, eu vou tentar com todas as minhas forças.

E por fim, como tudo isso afetou meu trabalho. Meu rendimento estava caindo a ponto de eu quase cometer um erro em cirurgia. Então o melhor era me afastar.

Nesse meio tempo, meus amigos tentaram entrar em contato, mas eu estava com tanta vergonha que não conseguia atender. Lembro a reação de Roberta ao saber o que eu tinha feito e suas duras palavras.

"É claro que ela não quer te ouvir! Você fez a maior besteira da sua vida, Sarah. Você tem noção do que Juliette tava passando? Ela se afastou da coisa que ela mais ama pra cuidar do pai dela que estava doente!! Enquanto você viajava o mundo curando a dor de cotovelo, Juliette se afundava em depressão e incertezas. Você ter continuado seu lance com Viviane enquanto ela te implorava por uma chance foi mau-caratismo. E pior ainda ir cobrar o uso de uma corrente sendo que você não usa a sua há anos. Você poderia ter aberto o jogo com ela e evitado tudo isso. O que você tem na cabeça?"

O choque de realidade me consumiu nesses meses, eu me perguntava que tipo de pessoa tinha me tornado e depois de me lamentar e chorar tudo o que podia, tomei a maior decisão. Eu precisava parar de fugir.

Arrumei minha bagunça, minha mala, tranquei o chalé e peguei meu carro. Não era muito longe, cerca de 30 min e já estaria em casa, mas como tava com neve na pista, iria mais devagar. Eu só não contava  com um pneu furado no meio da estrada.

Medical Hearts - SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora