03. Parecia ser bom

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Eu e Minho acabamos descobrindo que éramos tão parecidos mas também completos opostos. O que era de certa forma engraçado.

Ele gostava de gatos e eu também. Mas ele amava cozinhar, já eu nem tanto. Ele dançava e jogava vôlei enquanto eu sou só um cantor que gosta de ler romances fofos.

Dois completos opostos.

Mas algo me chamava atenção nele, quase como uma necessidade. Eu ainda não entendia o que era aquilo.

Ainda estávamos sentados na areia e ele continuava a passar soro na parte avermelhada do meu rosto enquanto conversamos.

— Você é de onde?

— São Paulo – disse e ele fez uma careta.

— Não acredito que você é paulista, oh nojeira! – fez uma careta.

— Ah, cala a boca! – revirei os olhos, entrando na brincadeira.

— Jamais! Vocês paulistas são todos metidos, ninguém suporta.

Acabei por rir, pois boa parte dos paulista são realmente metidos e chatos, principalmente os que moram na capital.

— Bom, você não está mentindo, principalmente os da capital são insuportáveis.

Ele franziu o cenho.

— Tu não é da capital?

— Nem, sou de uma cidade pequena próxima da capital – expliquei e ele assentiu.

— Tá' só dando uma volta por aqui então? – questionou, pegando outro algodão e dessa vez molhando no álcool.

— Vai passar álcool? – questionei, fazendo um bico. Sabia que aquilo ia doer como o inferno já que o corte não era tão grande. E é aquilo, né? Cortes pequenos ardem pra' porra.

Ele riu do meu drama antes de sorrir calmo.

— Relaxa, beleza? – ele tentou me tranquilizar mas não funcionou nem um pouco. — Vamo' fazer assim, se arder você aperta o meu braço que eu paro um pouquinho, ok?

Assenti e ele continuou.

— A resposta para a sua pergunta é que eu e meus amigos estamos aqui dando uma volta e procurando algum trabalho – respondi e ele parou para me olhar. — Problemas familiares. Homofobia.

— É uma droga, sinto muito – disse, olhando nos meus olhos. — Se quiser, eu posso te ajudar a achar algo por aqui. Mas não são trabalhos fáceis.

Eu sorri tão grande que senti as minhas bochechas rasgarem de orelha a orelha, além de ter a certeza de que meus olhos estavam, no mínimo, brilhando.

— Sério?! – ele assistiu, rindo da minha alegria. — Eu aceito qualquer coisa!

Ele sorriu e se aproximou.

— Bom, amanhã eu tô' de folga e posso ir com você entregar alguns currículos, o que 'cê acha?

— Incrível!! Obrigado, de verdade. Isso é muito importante pra mim! – sorri ainda mais, enquanto olhava em seus olhos.

— Não precisa me agradecer, sei como a homofobia pode ser cruel e esmagadora – respondeu também sorrindo, só que tentando passar conforto. — Agora deixa de enrolar pra' eu não passar álcool, ou pensa que eu não notei?

— Oh, você é esperto – ri e deixei que ele se aproximasse.

— Eu mereço ter que cuidar de paulista, viu...

Gostei de como nossos rostos ficaram a poucos centímetros. Gostei de como Minho tomava o devido cuidado para não me machucar ou fazer arder. Gostei de pode olhar para sua boca entreaberta em concentração. Gostei de apertar os seus braços, musculosos na medida certa, quando ardia. Gostei do olhar preocupado dele sobre mim.

Eu gostei pra' caralho daquela situação.

Talvez, eu esteja sentindo uma atração por ele. Mas isso não é algo ruim, certo? Por que eu sinto o olhar dele queimando a minha boca nesse exato momento.

E, digamos, que gostei ainda mais por Minho estar disposto a me ajudar. Ele parecia ser bom.

E era tudo que eu precisava.

Bolada Certeira | MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora