Capítulo 9: O fim de Camelot

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Quando Mariana acordou, Bernardo já tinha deixado a casa. Ele havia passado uma noite agitada, lembrando-se de muitas coisas, observando o teto. Pensava na proximidade de Mariana, logo ali, um pouco à frente no corredor. Sentia-se ligado a ela como se tivesse cavalgado por mil e quinhentos anos para encontrá-la. Se não havia magia nela e se ela não fosse aquela que definitivamente deveria quebrar o encanto, então sua busca estaria perdida. A sensação o inquietava.

Ele saiu cedo para espairecer, esquecer um pouco do passado e se concentrar na história que deveria contar. Tinha urgência em seguir em frente, em contar mais e mais para ela, mas não podia se atropelar. Era fundamental que a fizesse compreender a passagem do tempo, a longa jornada.

Contemplativo, Bernardo e Majestade caminharam pelo jardim e seguiram pela trilha que levava ao lago. Majestade parou sob o sol, a cabeça altiva. Eles não viram a aproximação de Mariana. Ela os vira pela janela do quarto, um pequeno ponto branco caminhando na direção do lago, surgindo e desaparecendo entre as árvores. Mari enfiou um vestido e seguiu-os, se amaldiçoando por ser tão boba. Tinha uma ansiedade sem fim por estar próxima ao cavalo e seu cavaleiro, como se Bernardo fosse um imã.

Ela os alcançou na beira do lago. Um altivo Majestade, livre de cabrestos e qualquer outro tipo de amarras, postava-se como um rei com a cabeça erguida e o vento soprando suavemente por sua crina. Ele parecia digno de ter saído de um conto de fadas. Então ele se abaixou para beber e Mari aproveitou o momento para chamar a atenção de Bernardo.

— Por que saiu tão cedo? — Ela escondeu um bocejo se inclinando para beijar-lhe a bochecha. Fora um gesto automático, mas resultou por deixar ambos sem graça. Ela corou, ele fingiu estar muito preocupado com Majestade, desviando o olhar dela e encarando o cavalo branco.

— Eu não quis incomodar — ele murmurou, quando se sentiu seguro para encará-la. — Não quero que seu pai pense bobagens a meu respeito.

Por algum motivo idiota, Mari sentiu-se desiludida. Ela queria que Bernardo se declarasse louco para entrar em seu quarto, ela queria que seu pai pensasse bobagens sobre eles dois e... "Ora, quanta bobagem, Mariana!", ela se repreendeu. "Por favor, sem fantasias com peões! Já basta essa história maluca do cavalo branco, para a qual você nem sabe que explicação dar."

— De toda forma — ela continuou. — Parece que você tem uma história a contar, não é mesmo?

Ele assentiu, esticando uma mão para ela.

— Onde eu estava? — pestanejou. — Ah sim! Arthur enviou seus homens, pelo menos os poucos de que podia abrir mão, para procurar por Galahad, mas no fim foi o próprio cavaleiro quem nos encontrou, voltando de sua jornada. Ele anunciou que Mordred pretendia atacar em Camlann a qualquer momento, sitiaria Camelot e tomaria o castelo. Ele e o vilão haviam se encontrado em uma cilada, os acompanhantes de Galahad estavam mortos e o rapaz só sobrevivera para levar o recado a Arthur.

— A batalha de Camlann — murmurou Mariana, ainda um pouco intrigada com a mão dele. Estava especialmente lenta com esse contato.

Bernardo assentiu, quase esperançoso por ela ainda não estar tendo reações adversas. Estava com pressa para encerrar a saga de Arthur e chegar logo ao século XXI. A ela e sua decisão final; crer ou não.

— A última de Arthur — ele continuou. — Nós nunca soubemos o que se passou entre Galahad e Mordred, mas o garoto voltou diferente. Ele de repente queria ver Guinevere e antes de partir para sua vigília, despediu-se como um filho se despede da mãe. Ele sabia. Mordred poderia atacar a qualquer momento, aquela era a última chance para todos se despedirem. Eram nossas últimas palavras, aquelas que tinham de ser ditas, pois o amanhã se tornara um mistério. E por mais que Arthur estivesse otimista, por trás do sorriso dele a certeza do fim nos envolvia com dedos frios.

Majestade: A história do Cavalo BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora