Capítulo 12: A cidade saqueada

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Os guerreiros de Ragnar estavam seguindo para uma cidade abandonada que, segundo as lendas — ou pelo menos segundo as histórias que corriam de boca em boca — guardava um grande tesouro e era amaldiçoada. Talvez não nessa ordem.

Loki o havia alertado sobre essa cidade. E sobre sua filha. Um nó formou-se na garganta de Bjorn.

Os nórdicos se organizaram para partir com rapidez, antes que a nevasca caísse, desmontaram o acampamento e arrearam seus poucos cavalos. Ragnar tentou várias vezes montar em Daren, mas o garanhão branco provou-se um desafio maior do que o líder viking esperava. Depois de cair pela terceira vez e ser mordido em pelos menos quatro lugares diferentes, o grande homem desistiu com uma carranca. Atrelaram Daren em uma carroça e amarram seu novo prisioneiro — Bjorn — atrás dela.

Com um dia e uma noite inteira de caminhada, sem pausa — Ragnar dizia que se parassem congelariam antes de chegar a seu destino — se viram de madrugada, sob o arco de um enorme portão de ferro.

A cidade amaldiçoada.

A horda de guerreiros parou diante do monumento, observou a extensão de seus imensos muros e permaneceu boquiaberta.

— Este lugar não pertence aos homens — sussurrou um guerreiro, sua voz reverberando pelo silêncio, mesmo baixa. Os vikings se mexeram inquietos. Já achavam que trazer um homem renascido da morte era uma afronta aos deuses, agora essas muralhas que não pareciam humanas... Não podia ser um bom sinal.

Ragnar se empertigou, dando um passo à frente. Ele ergueu uma tocha para iluminar as aldravas de ferro, na forma de cabeças monstruosas, e arriscou passar a larga mão ali, retirando neve acumulada. Ele encontrou dois archotes, tocou-os com a chama de sua tocha, fazendo com que acendessem.

Apesar da fina camada de gelo e de nada sobreviver naquele frio, os muros da cidade e o próprio portal estavam cercados por hera, viva e vibrante; uma espécie de hera escura, quase negra, com grandes espinhos. Seus ramos retorcidos se erguiam por toda a extensão da cidade, se infiltrando nas aldravas, nas dobradiças, em qualquer lugar. Parecia ser uma guardiã bastante experiente, resistente a todo tipo de temperatura, a julgar pela neve e pelo enegrecido em alguns pontos da madeira, onde talvez tivesse sido incendiado anos antes.

Daren, que estava mais próximo de um ramo, estendeu o pescoço, cheirando curioso a planta. Afastou-se com um relincho ofendido quando o espinho cutucou a pele macia de seu focinho.

— Nós vamos mesmo entrar? — sussurrou outro homem. — O que as runas dizem?

O rosto de Ragnar não tinha expressão. Ele olhou para o céu escuro, fechou as mãos em punhos e virou-se lentamente para seus guerreiros.

— Escutem! Nós fizemos uma longa viagem em busca do que há além destes portões. Nós viemos até aqui e não vamos embora sem nosso tesouro!

Bjorn apertou os lábios. Era uma cidade guardada por uma planta que sobrevivia ao inverno rigoroso, amaldiçoada, e que continha uma filha de Loki no interior — a filha de um deus que estava preso a uma rocha, como castigo. Era bom ter isso sempre em mente, e isso o fazia ter um pouco de receio sobre adentrar aqueles muros e encontrá-la. Contudo, ela poderia ajudá-lo com a maldição... Bem, ele era imortal mesmo. Nada podia piorar, certo?

Com seus escudos e lanças, os homens de Ragnar lançaram ao silêncio da noite seu grito de guerra, indo contra a porta maciça. Precisaram de muitas investidas, mas conseguiram se livrar da hera negra, forçando-a a ceder. O grupo entrou num rompante na cidade, parando no meio da correria para contemplar sua descoberta.

Iluminada pelo brilho das estrelas, a cidadezinha revelou-se menos do que esperavam, com pequenas casas, mais parecidas com brinquedos — ou talvez os vikings que fossem grandes demais. Sobre as paredes, telhados e o próprio chão, a hera se estendia como uma teia, tentáculos escuros e espinhentos aguardando, em armadilhas, por um passo em falso. Dentro dos muros da cidade o vento soprava como o uivo de um lobo solitário.

Majestade: A história do Cavalo BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora