Capítulo 11: Lokasenna*

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(*Lokasenna: poema Nórdico conhecido como "A discussão de Loki".)


Ele não estava muito certo se aquilo era um sonho estranho, uma alucinação ou algum tipo de magia realmente sinistra. Todo caso, já que ele mesmo era amaldiçoado e seu cavalo não era um cavalo, o que o impedia de seguir outro cavalo esquisito, com oito patas, por exemplo?

Não fazia ideia de onde estava indo — sendo levado, para ser exato —, mas Daren o seguia sem esforço. Baird não se sentia como se tivesse acabado de quebrar a coluna, ser empalado e se recuperar a tempo de uma perseguição a pelo, em seu príncipe montaria, mas também não se sentia com 400 anos de idade — sentia-se velho, sim, mas não aparentava — assim como se sentia ligeiramente machucado no momento. Nada grave. Nada que justificasse uma pira funerária.

Caso aquilo não fosse um sonho e tivesse realmente se recuperado do que os vikings esperavam que fosse a morte certa, como se explicaria? Diria que era um deus ou alguma outra entidade? Talvez pudesse ao menos convencê-los sobre Daren ser um príncipe, o que já seria ótimo!

O cavalo de oito patas passou por dois carvalhos curvados, diminuindo o ritmo. Ali, acorrentado a rocha, estava o cavalo branco.

Uma égua, na verdade.

Que em seu sonho tinha voz de homem. Mas tudo bem, sonhos são sonhos. Baird apeou.

Instantaneamente a égua branca se transformou em um homem acorrentado à rocha. "Ótimo! Outro homem que se transforma em cavalo e vice-versa", pensou Baird em um momento insano. Foi como se uma cortina caísse e ele pudesse visualizar a cena completa, sentiu imediatamente os dedos poderosos da magia, do poder antigo, o mesmo tipo de vibração que sentiu na presença dos deuses no dia da maldição.

Aquele homem lhe era desconhecido, mas seu poder era semelhante e tão antigo quanto o de Cernunnus, Arawn e a dama.

— Quem é você?

O homem sorriu um sorriso estranho, meio fanático, meio prestes a atacar. Pelo menos as mãos acorrentadas acima da cabeça passavam alguma segurança. Baird olhou ao redor e percebeu uma mulher adormecida na rocha ao lado, segurando um jarro perto das mãos do homem. E no topo, vertendo veneno, estava a maior serpente que Baird já vira. Ele se afastou um passo. Daren bufava ao seu lado.

Estava metido com forças poderosas outra vez, pelos céus, por quê?!

— Quem é você? — repetiu.

— Sou um ser antigo, um deus — respondeu o homem de traços bonitos e olhos escuros com um brilho nefasto. Ele tinha uma barba negra pontiaguda que parecia tornar seu sorriso ainda mais... esperto.

— Isso eu sei. — Baird entrou na defensiva. Estava longe de casa e de seus deuses, provavelmente estava na terra de outros deuses, com vontades desconhecidas, e agora tinha chamado a atenção de um deles. O que não era bom. Nunca é bom chamar a atenção dos deuses.

— Eu me chamo Loki — disse o deus, movendo as mãos acima da cabeça até que, com um desconfortável gesto, conseguiu apontar para si mesmo. — Estou acorrentado aqui como castigo. — Deu de ombros.

— Percebi...

— Você e seu cavalo... — ele relanceou para Daren, que bateu a pata no chão. — Não parecem ser daqui. Eu diria que não estão familiarizados com os nórdicos. Acho que você segue aqueles antigos... — ele estreitou os olhos, avaliando Baird. — Realmente antigos, que vivem nas florestas desde o princípio dos tempos. Estou certo?

— Sou um servo de Arawn.

Loki sorriu ainda mais.

— Já ouvi falar. Mas muito, muito por cima. Somos, de certa forma, de mundos diferentes eu e ele. Crenças diferentes, povos diferentes. Mas vocês têm uma maldição, eu diria. E o toque da imortalidade. Posso sentir isso à distância, meus ossos até tremem. Faz tempo que alguém como vocês não vem até aqui.

Majestade: A história do Cavalo BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora