Capítulo 6: Em busca das Brumas

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Deitada em seu quarto, Mari se perguntava o que Bernardo estaria fazendo e o que diabos deveria achar daquela história.

Havia algo mágico, romântico, sobre um homem que vivera por 1500 anos, mas... como acreditar nessa história? Por favor, ele devia ser maluco! Talvez tivesse uma compulsão por mentir. Gostar de uma fantasia sobre um homem imortal é uma coisa. Acreditar era outra e bem diferente!

Porém, Mari tinha que admitir que, pelo que sabia, a Irlanda tinha mistérios, povos antigos capazes de enfeitiçar humanos e fazer magia. Povos antigos não, criaturas encantadas, corrigiu-se. Assim como Arawn — embora Arawn, como o Google informara, não fosse originário da Irlanda* —, Cernunnus e a Deusa. Será que poderia dar uma chance a isso? Lia os livros com furor e gostava das tramas, se não se permitia observar aquelas páginas e dizer "ora, quanta bobagem!", por que não podia ouvir o que Bernardo dizia e pensar "por que não?".

Porque os livros partiam da premissa de que era uma ficção e não uma biografia sobre seres de outro mundo.

— Mas existem biografias de pessoas que juram que foram abduzidas — ela ponderou.

Mari não tinha uma opinião formada sobre ETs ou abduções. Deveria ter sobre Bernardo?

Ela desistiu, seus pensamentos faziam sua cabeça ferver. Ligou o notebook. Buscou na prateleira de livros um caderno e abriu uma página em branco. Começou fazendo uma pesquisa sobre os reis de Dalriada — e olhe só, existia mesmo uma Dalriada na Irlanda do século VI! Ponto para Bernardo, mas até aí, qualquer historiador poderia saber disso. — Surpreendeu-se com a quantidade de nomes, pegou as datas que pôde e procurou por Daren ou alguém que tivesse um nome semelhante. Não encontrou.

— Muito conveniente que "o nome de Daren tenha sido apagado da história". — murmurou. Ponto a menos.

Ela ficou até a madrugada pesquisando e, quando finalmente foi deitar-se, não conseguiu dormir pensando nas perguntas que faria, tinha quase certeza de que ele estava apenas contando histórias de faz de conta. Com que propósito ela não sabia.

Quando o relógio bateu seis horas, Mari pulou da cama e vestiu uma roupa qualquer. Deixou um bilhete avisando de que estaria com os cavalos — quem imaginaria... — e se encaminhou para o estábulo. Surpreendeu-se ao descobrir que a baia de Majestade estava vazia, fazendo seu coração falhar uma batida.

Olhou para os lados ligeiramente apreensiva. Foi para os fundos do estábulo e deparou-se com um dos tratadores, se espreguiçando. Ele arqueou uma sobrancelha.

— Caiu da cama, moça?

— Eu preciso falar com o Bernardo. — Por um momento, temeu que o homem dissesse que nunca conhecera Bernardo algum na fazenda.

— Está na pista de cima, com aquele cavalo dele. Aconteceu alguma coisa?

— Na pista? Ai que bom! — Ela suspirou sem entender por que ficara tão nervosa. Menina burra, o que mais poderia ter acontecido? Ele ter fugido, evaporado porque ela não acreditara na sua historinha? Francamente! — Não, não aconteceu nada. Eu só preciso falar com ele. Obrigada!

Sob o olhar curioso do peão ela subiu a trilha que levava a pista, se amaldiçoando por não ter colocado uma bota e sim malditas sapatilhas com furinhos que enchiam de terra. Chegou esbaforida à pista com cercas azuis, onde Majestade se exercitava. No momento em que seus olhos encontraram a figura branca correndo, Mari se esqueceu por algum tempo o que estava fazendo ali.

Bernardo montava com destreza, o tronco acompanhando o passo do cavalo mesmo quando Majestade parecia virar rápido demais — para ela isso parecia impossível! — Aliás, que magnífico o garanhão ficava com o arreio completo. Bernardo ergueu os olhos por um momento, encontrando seu olhar. Diminuiu a velocidade de Majestade, virando-o na direção dela e parou a poucos metros de distância.

Majestade: A história do Cavalo BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora