Randgried podia ter a beleza da mãe, mas havia puxado o pai. Nos dias que ficou alojado no rústico castelo de Ragnar, Bjorn manteve olhos de águia sobre a moça, sempre atento a qualquer acontecimento estranho que pudesse anunciar o retorno de Mordred, mas o que realmente descobriu foi que sua noiva era uma ótima lutadora. Em qualquer modalidade.
Ela andava com um arco nas costas e sempre que podia aparecia com uma túnica longa, calças e botas de pele, posicionava-se no pátio e treinava sua pontaria, sempre encarando Bjorn com vontade de acertar uma flecha nele. Rane não era contra Bjorn, nem tinha motivos para odiá-lo, embora sua postura protetora a incomodasse. O que ela odiava era o fato do pai ter escolhido quem bem entendesse para casá-la. A moça preferiria ter seu próprio drakkar e navegar mundo afora conquistando povos desprevenidos.
Bjorn não tinha dúvidas de que se Ragnar tivesse permitido, Rane teria conquistado meio mundo.
Ela olhava desconfiada para o homem do cavalo branco, aquele que chamavam de Imortal. Não sabia o que pensar dele, então bolou seu plano.
— Eu quero caçar nos bosques do Leste — anunciou para o pai, certa manhã. Tinha trançado os cabelos e trazia uma aljava recheada de flechas. Além de um pequeno machado no cinto.
Ragnar a olhou desconfiado. Sabia que muitos clãs inimigos se arriscariam a enfrentar sua fúria só pelo prazer de ter Randgried em seu poder.
— Não me oponho, desde que leve seu noivo com você.
Rane sorriu. Era tudo o que desejava.
Como o esperado, Bjorn, o Imortal, apareceu nos limites do bosque acompanhado de seu grande cavalo branco. Rane jamais daria o braço a torcer, mas tinha achado o guerreiro bastante cordial e achava que ele poderia conquistá-la... se ela lhe desse tempo, o que definitivamente não daria. Não tinha intenção de ser conquistada por ninguém.
Ele permaneceu tranquilamente afiando suas adagas enquanto Majestade pastava e ela treinava sua pontaria em diversas árvores. Até agora, Bjorn não vira motivo algum para a moça estar dentro do bosque, a menos que ainda estivesse apenas se aquecendo.
— Você pretende atirar em troncos por muito mais tempo? — ele perguntou no exato momento em que ela disparou uma flecha, já puxando outra e mirando.
— Por quê? Você tem algo mais importante para fazer?
Zum.
A flecha sumiu na folhagem de um arbusto. Bjorn deu-lhe as costas, enfileirando suas armas sobre uma rocha.
— Não, só estou curioso. Não vai caçar presas maiores? Presas animais, de repente?
— Vou começar agora — ela respondeu e sua voz estava mais perto, mais séria. Alarmes de alerta estremeceram o corpo de Bjorn, mas quando ele virou, teve tempo apenas de ouvir outro zunido antes de se dar conta de que ela atirara nele e que agora tinha uma flecha cravada no peito.
Alvejado por suanoiva, ótimo!
***
Ele despertou com a própria voz, gritando. Pássaros debandaram, o silêncio da floresta era quebrado pelo relincho urgente de Majestade. Bjorn virou a cabeça notando duas coisas: a primeira era que estava caído no chão, a segunda é que Majestade estava firmemente amarrado a uma árvore, debatendo-se enlouquecidamente.
— Hum! Interessante. — A voz de Rane pairou acima dele e Bjorn fixou o olhar nela. Tinha a expressão concentrada de uma criança com uma nova descoberta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Majestade: A história do Cavalo Branco
RomanceMariana nunca gostou muito de cavalos, mesmo vivendo em uma fazenda e tendo um pai fascinado por eles. Porém, durante uma exposição, ela acaba se encantando por um que não está a venda. Seu dono diz que o cavalo se chama Majestade e que gostaria de...