Majestade: A história do Cavalo Branco

Capítulo 8: A Távola Quebrada

Os campos de Avalon se espalhavam até o sopé de baixos morros, atrás dos quais se escondia o mar em sua infinita soberania. O sol fazia as pequenas gotas de água sobre a grama brilharem como joias perdidas entre as flores. Avalon era um paraíso, mas Baird não estava desfrutando dele naquele momento. O garanhão branco lançou-se a galope pelas pastagens, espantando as ovelhas e fazendo o vento zunir entre eles. Tudo, desde o tapete verde que recobria Avalon, as famosas macieiras, o sol e o céu, as pequenas flores, passaram pela vista de Baird como borrões coloridos.

Ele debruçou sobre a sela, deixando de lado a inútil missão de segurar as rédeas de Daren, abraçando o largo pescoço de sua desenfreada montaria. A longa crina do garanhão fustigava seu rosto como um chicote, mas havia um aroma nela que Baird achou que lembrava a colônia de ervas que Deidra fazia para Daren.

— Daren, pare! — ele gritou quando por um momento o cavalo perdeu o equilíbrio. Teve certeza de que iriam cair e quebrar o pescoço. Os dois.

Arriscou um pequeno olhar sobre a cabeça do cavalo e percebeu que se aproximavam violentamente de uma ribanceira sem diminuir a velocidade. Se não morressem ou ficassem gravemente feridos na queda, Daren continuaria correndo até o mar, como Baird suspeitava que o príncipe planejava fazer.

Passaram em seu galope por um pequeno templo onde Merlin meditava. Baird teve um vislumbre da esvoaçante barba prateada do mago. Tentou gritar por ajuda, mas o vento levou seu chamado. Merlin não se moveu.

— Daren, pare com isso! — ele berrou. O cavalo correu ainda mais. — Não tenho culpa por nada que aconteceu com você! Eu nem queria ir na caçada, foi você quem me convocou! Daren, me escute!

O garanhão juntou as orelhas firmemente contra o pescoço, demonstrando seu desagrado e apertou o passo. Mais um pouco e poderiam voar. Baird sentia o corpo imponente do garanhão tremer embaixo de si, vibrar como um trovão enquanto corria. Os deuses certamente faziam bons cavalos, pensou em um segundo de insanidade, antes de esconder o rosto na vasta crina de Daren e orar para que Arawn, o único que parecia se lembrar dele, o protegesse.

— Eu estava tentando ajudar! Deidra pediu que o seguisse, por favor — lamentou baixinho, com os olhos fechados. — Somos só você e eu, Daren, nada mais restou. Estou tentando te ajudar, não me puna por algo de que não tenho culpa.

Então o galope parou abruptamente. Baird retesou o corpo esperando o impacto que certamente viria. Tudo ao seu redor ficou subitamente muito silencioso sem as passadas aceleradas de Daren.

Um minuto inteiro se passou sem que nada acontecesse. Um leve tremor passou pelo corpo do cavalo e ao longe Baird começou a ouvir pássaros e o mar. Tentou abrir os olhos, mas faltou-lhe coragem. Talvez tivesse morrido de forma rápida e indolor, como pedira a Arawn. Seus dedos pareciam ter desaprendido como se mover, tão firmemente agarrados à crina estavam. Quando arriscou erguer um pouco o olhar, percebeu que ainda estava em cima de Daren. O sol banhava seu rosto e além deles o tapete verde se estendia por Avalon.

Baird sentou-se ereto na sela, respirando aliviado. Estava vivo! Daren parara no topo do morro e de lá podiam ver a construção no centro de Avalon, onde as sacerdotisas ficavam, a pequena gruta de Merlin e próximo ao lago, as macieiras onde um casal passeava. "Lancelot e Guinevere", pensou Baird com um estreitar de sobrancelhas. Também dava para ver o campo do lado oposto, onde um cavaleiro em um cavalo dourado treinava junto de outros homens. "Arthur", sorriu o cavalariço. Minúsculas ovelhas baliam aqui e ali na trilha em que Daren seguira para levá-los até o topo. Além deles, do outro lado do morro, estava a praia de areia branca e o mar infinito.

— Obrigado — Baird sussurrou trêmulo, encostando a mão no pescoço de Daren. Esforçou-se para apear, suas pernas pareciam ser feitas de geleia, e permaneceu tremendo e segurando na sela, sem condições para ficar em pé sem se apoiar no cavalo.