A dor da perda

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Depois de uma longa semana após aquela terrível missão, ninguém estava bem, pouco se falava um com o outro, o silêncio invadiu todo o quartel, e todas as bases. Perdemos naquele dia treze colegas, e mais de 100 civis que estavam reféns dos inimigos.

...

- porque você não vai nos salvar ? - disse uma mulher ensanguentada se arrastando em minha direção.

Eu ouvia gritos por toda parte, pessoas chorando e pedindo ajuda.

- Carol, porque você não me ajudou ? - disse uma voz atrás de mim.

Ao me virar era Emily com o rosto todo cheio de sangue, caída no chão.

- me desculpa, eu queria ter salvo todos vocês. - disse enquanto chorava.

Nesse momento todos estavam vindo em minha direção - porque você não nos salvou - sai correndo, mas toda vez que tentava correr parava no mesmo lugar.

- POR FAVOR PARAAA.

- Carol acorda, Carol. - disse a comandante enquanto me chacoalhava. - você está tendo um pesadelo calma.

Acordei em estado de Pânico, totalmente suada, a primeira coisa que fiz foi abraçar ela.

- me desculpa, me desculpa... - disse aos prantos.

- Carol, você não tem culpa de nada, ninguém esperava que aquilo fosse acontecer, temos agora que nos reerguer e lutar mais ainda para que isso nunca mais aconteça. - disse a comandante enquanto me abraçava.

...

Naquele dia pela primeira vez tive um colapso, o médico disse que foram tantas cenas para digerir, tantas perdas, que eu surtei, fiquei quase três dias sem falar com ninguém, sem comer direito e sem conseguir dormir. Todas as vezes que fechava meus olhos, voltava para aquele dia fatídico.
Foram quase cinco dias no hospital para conseguir se recuperar.

Todos os dias me lembro da comandante indo me visitar e conversando comigo.

- espero que você esteja melhorando. - disse sentada ao lado da minha cama. - Anderson ganhou alta hoje e já está bem melhor - disse enquanto sorria. - todos estão perguntando sobre você , eles queriam vir até aqui, mas o médico achou melhor não.

- comandante. - disse com a voz bem baixa.

Ela logo inclinou o corpo em minha direção e ficou feliz em eu estar falando alguma coisa.

- eu quero voltar, eu tô pronta. - disse com a voz um pouco trêmula.

- você vai voltar Carol, todos estamos esperando por você.

...

Ao descer do carro caminhei lentamente até a porta da base 56, ao entrar vi a comandante na mesa de reuniões, com os demais, conversando. Entrei tão silenciosamente que ninguém percebeu, fiquei parada alguns segundos, até que a comandante me viu.

- Porque não avisaram que você estava vindo. - disse ela um pouco empolgada.

Nesse momento todos se viraram, e em um instante estava todos vindo em minha direção, fui recebida com um grande abraço.

- sentimos sua falta. - disse Elena.

- olha garota, tava quase te sequestrando daquele hospital em. - brincou o Cléber enquanto me abraçava.

- oiê pessoal, também senti falta de vocês, desculpa ter demorado tanto. - disse um pouco envergonha e com a cabeça baixa.

- para com isso, o importante agora e que você está bem e estamos todos juntos agora. - disse André.

Quando ouvi a voz dele, no mesmo momento me lembrei daquele dia, foi ele que conseguiu me tirar para fora do quartel, depois daquilo não me lembro de mais nada.

Depois da minha chegada, a comandante ainda falou algumas coisas conosco e todos fomos para fora para comer, o pessoal tentava animar um ao outro, todos sabiam oque havia acontecido, mais não queriam demonstrar a dor.

Estava sentada em um banco sozinha, enquanto olhava todos a minha volta, e nem percebi quando André se sentou ao meu lado.

- como você está em ? - perguntou ele.

- eu tô melhor. - disse enquanto olhava pra frente - obrigado andre por me tirar de lá.

- você não precisa me agradecer. - disse ele enquanto levava sua mão até a minha.

Ao sentir o toque dele, meu corpo de arrepiou, virei minha mão, e elas se entrelassaram.

- naquele dia achei que iria te perder. - disse ele olhando nos meus olhos. - você pareceu ter se desligado de tudo, não respondia ninguém, não parecia nem que você estava mais lá. - disse virando o olhar para frente. - todos ficaram em choque com isso.

- eu não me lembro de nada, a última coisa que tenho na cabeça e de você falando comigo e eu me levantando para sair do quartel.

- sério? - disse ele, agora me olhando fixamente.

- sim, o médico disse que eu tive um colapso, por isso demorei tanto pra voltar. - falei com a cabeça totalmente baixa.

- queria ter ficado ao seu lado os dias que estava no hospital. - disse enquanto pegava uma mexa do meu cabelo e colocava para trás da minha orelha. - mais nunca deixavam a gente ir ver você.

- acho que eles tinham medo de eu surtar. - disse dando um pequeno sorrisinho.

Naquele momento senti o braço dele ao redor dos meus ombros, ele lentamente me puxou para perto dele e ficamos ali abraçados por um bom tempo, sem falar mais nada.

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