Dois Homens

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André

Ao ver a bala atingindo ela meu coração parou. Fiquei paralisado, só voltei ao normal quando aquele homem gritou e a vi em seus braços.

Corri em sua direção e na mesma hora a peguei, depois disso tudo foi um clarão, corri o mais rápido possível para um dos carros.

- Elena precisamos sair daqui, ela não vai aguentar. - disse desesperado.

- Entra, o Cléber vai ir dirigindo.

Tentávamos estancar o sangramento, ela estava pálida e não se mexia, eu iria perde-la.

Cléber parou o carro na porta do hospital e sai com ela em meus braços.

- Precisamos de ajuda, alguém chama um médico. - falei desesperado.

Alguns enfermeiros chegaram e a colocaram em uma maca levando-a para dentro.

Minha cabeça girava e eu sentia meu coração acelerar, meu corpo está falhando, me ajoelhei ali mesmo e senti lágrimas correrem pelo meu rosto. Será que eu havia matado a mulher que eu amo.

- André calma, você precisa levantar, vamos nos sentar. - disse Cléber me ajudando.

- A culpa é minha, e toda minha. - dizia sem parar.

- André você precisa manter o foco, eles estão fazendo de tudo, ela vai ficar bem. - disse Elena me abraçando.

Depois de alguns minutos me acalmei, minha cabeça parecia um turbilhão, não parava de pensar nela.

Me levantei e comecei a andar de um lado pro outro, queria saber se ela estava bem.

- André. - Cléber me chamou.

Parei e olhei para ele.

- A comandante pediu que eu voltasse, Elena vai ficar com você até que o médico venha. - disse se levantando para ir.

- Tudo bem.

Cléber saiu e eu me sentei novamente.

- Oque aconteceu lá André? - perguntou Elena.

Não sabia por onde começar, mas contei tudo para ela, nos mínimos detalhes que me lembrava.

- André isso não é culpa sua. - me olhando com tristeza. - foi um acidente, você nunca a machucaria.

- Eu sei disso, mas se não tivesse atirado, ela estaria bem agora. - falei sentindo meus olhos encherem de lágrima.

- Para com isso, ela tá aqui agora e logo vai acordar. - disse me abraçando.

Ficamos lá por mais de duas horas, até que vi o médico vindo em nossa direção, me levantei rapidamente e fui ao seu encontro.

- Vocês são os companheiros da Caroline? - perguntou nós olhando.

- Sim, somos nós.

- Ela passou pela cirurgia e ocorreu tudo bem, ela ainda está dormindo e vai ter que descansar por um tempo, ela perdeu muito sangue.

Ao ouvir isso senti um alívio enorme.

- Obrigado doutor, eu não sei nem como agradecer. - disse olhando com alegria para ele.

- Nós só fizemos nosso trabalho soldado. - falou contente. - se quiserem ver ela, podem ir.

Aceitamos e ele nos levou até o quarto em que ela estava. Quando entrei vi ela deitada na cama inconsciente, cheguei perto e segurei sua mão, notei que seu rosto estava machucado, sabia que alguém tinha feito aquilo, senti uma raiva percorrer meu corpo. Nesse momento me lembrei do homem que estava com ela, será que tinha sido ele que havia feito isso? Na mesma hora sentia que deveria ve-lo.

Kauê

Assim que vi ele correndo com ela nos braços, senti os soldados me levantando, eles me arrastaram para fora, olhei ao redor e vi vários soldados meus mortos. Me colocaram dentro de um dos carros e fiquei lá por um tempo.

Eu não conseguia pensar em outra coisa, olhava minhas roupas e ainda tinha o sangue dela, será que ela estava bem, será que havia sobrevivido, porque ela entrou na frente, ela não precisava fazer aquilo, eu queria ter levado aquele tiro por ela.

Vi alguém entra no carro e começaram a dirigir. Depois de alguns minutos chegamos a uma base enorme, pararam o carro e logo vi uma mulher com semblante sério parada do lado de fora.

Abriram a porta e me tiraram de lá, senti quando bateram em uma de minhas pernas para que eu ajoelha-se.

- Um passarinho me contou que você é o general da base que atacamos. - diz um homem- levem ele para a cela.

Me levantaram e me arrastaram para dentro de um dos prédios, fomos andando por um corredor largo, em seguida observei diversas celas. Paramos em frente a uma delas e eles me jogaram lá.

Antes de irem, fui até a grade.

- Soldado. - chamei um deles.

- Oque foi?

- Ela tá viva? A Carol ela sobreviveu? - perguntei.

- Isso não é da sua conta. - diz indo embora.

Fiquei furioso e chutei com tudo a grade da cela. Eu só queria saber se ela estava viva, eu não aguentava mais, eu precisava saber disso.

...

Já haviam se passado horas desde que me deixaram lá, eu ficava o tempo todo repassando na minha cabeça nossa última noite juntos, fechava os olhos e tentava sentir seu corpo de novo, queria senti-la novamente.

Estava com os olhos fechados, pude ouvir passos vindo pelo corredor. Me levantei e olhei em volta e vi um homem parado em frente a cela.

- Quem é você? - ele me perguntou.

- Me chamo Kauê - disse olhando em seus olhos - e você?

- Me chamo André. - na hora o reconheci, ele era o cara que levou ela.

- Aonde ela está, você a levou, ela sobreviveu? - perguntei me levantando e indo perto da grade.

- Porque quer saber dela, você a sequestrou, e pelo que vi a machucou também - falou quase cuspindo as palavras em mim.

- Eu não fiz nada com ela, a única pessoa aqui que realmente feriu ela foi você, seu merda - senti raiva.

- Isso aconteceu por sua culpa, seu filho da puta. - disse segurando a grade da cela com ódio.

- Eu a deixei ir, deixei ela ir com você, e você atirou nela. - falei tremendo - e agora você não me fala se ela sobreviveu ou não, você realmente é um merda.

Nesse momento senti a fúria em seus olhos, ele pegou uma chave abriu a cela e veio pra cima de mim, eu não fiz nada, só fiquei parado enquanto ele me batia, só sabia que tinha que ficar vivo até ela aparecer de novo.
Depois de um tempo ele parou e foi embora sem dizer mais nada.
Eu ainda estava ajoelhado no chão, sentia meu rosto queimar, me arrastei até o canto da cela, me encostei na parede e dormi. Queria esquecer tudo aquilo.

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