Acampamento de Inverno para Músicos (nem tão) Talentosos

Capítulo 24 - Isso ainda vamos ver

As primeiras fotos mostravam o acampamento vazio, só com o pessoal da organização. A música no fundo era calma, mas eu estava mesmo em pânico. O que será que ia ter naquele vídeo? Pelo amor de Deus... Havia uma alta probabilidade do meu vídeo cantando e dançando Vai Ter Que Rebolar estar realmente nele, mas nem era isso que me deixava mais nervosa. E se tivesse alguma coisa minha com Bruno? Quem será que fez a seleção das fotos? Espero que a organização tenha tido a DECÊNCIA de olhar o vídeo antes de colocá-lo para tocar. E que tenha visto e EDITADO AS PARTES QUE BRUNO APARECIA, aquele maldito.

Espero que eles tenham editado todas as coisas constrangedoras, na verdade.

E espero muito, MUITO MESMO, que aquele elevador não tivesse câmeras.

Tipo muito.

Tipo muito.

― Olha, é a gente! – Lila gritou e eu pisquei, focando para enxergar melhor o vídeo.

Era uma foto do primeiro dia, onde todo mundo estava no lobby aguardando as chaves e eu estava jogada num cantinho, com cara de quem queria estar morta. Eu ri. Mal sabia aquela Amanda da foto que tanta coisa ia acontecer em 30 dias. Mal sabia aquela Amanda da foto que ela ia ter experiências únicas no lugar que considerou tão inóspito. Mal sabia aquela Amanda que ela ia sair daquele acampamento namorando o melhor garoto dele.

As fotos continuaram passando, com lembranças do primeiro dia. Do jantar de boas-vindas, com suas filas quilométricas. Das mesas, com um monte de gente sem graça, se vendo e conversando pela primeira vez. Do dia seguinte, nas outras filas quilométricas para registro nas matérias. E lá estava eu vestindo minha roupa inapropriada para o clima do dia. Todos estavam rindo e conversando na festa, mas eu juro por Deus que ouvi um grunhido característico do meu pai quando essa foto apareceu e minhas pernas desnudas roubaram a cena no cantinho.

O acampamento continuou passando diante de nossos olhos, com um monte de fotos de pessoas que eu já vi de vista, de gente que fazia aula comigo e até de nós mesmos. Fotos que eu nem lembrava de ter tirado, mas que quando apareceram no telão eu lembrei de Lila esticando a mão e dizendo para todos se juntarem para uma selfie. No decorrer do vídeo, Eduardo começou a aparecer conosco nas fotos e eu sabia que, seja lá o que ele queria que eu visse, devia estar perto.

E logo apareceu.

Nós quatro cantando Sandy e Junior. Os três começaram a rir de novo, junto com o resto das pessoas, e eu me encolhi, constrangida. Porém eu também estava rindo. A vergonha era enorme, mas a lembrança era engraçada. Pelo menos era uma parte curta do vídeo, que não envolvia muito minhas reboladas. Eduardo enfiou a mão por dentro do meu cabelo, puxando-me pela nuca na direção dele e levantando minha cabeça na direção do vídeo.

― Fique olhando, Amanda!

Eu não entendia o motivo para ele querer tanto que eu continuasse olhando o vídeo depois de já ter passado nosso karaokê, mas fiz o que ele queria e levantei a cabeça. Depois do nosso vídeo, aparecemos mais vezes ainda. Tinha uma foto de nós quatro na fogueira e uma só de Eduardo, carregando um monte de latas de refrigerante. Eu ri, encolhendo-me para cima dele, que me abraçou, rindo também. Igor e Ana Júlia também apareciam muitas vezes, inclusive com uma foto do dueto dos dois na aula de Maurício. Logo em seguida tinha um pequeno vídeo meu e de Eduardo, cantando na aula dele também. Na verdade, o vídeo mostrava o exato momento que Eduardo ia embora e me deixava cantando sozinha.

Todo mundo riu, sem entender a situação muito bem, mas o vídeo continuou passando e esse momento constrangedor foi superado por outras fotos. Tinham fotos de Gustavo e Lila dançando também, nos ensaios, inclusive. Uma em especial consistia na Lila carregando uma flor na boca, derrubada nos braços de Gustavo. Todo mundo riu de novo. Eles eram um casal muito bonito, eu tinha que assumir. Claro que eles enchiam o saco às vezes, mas era só porque eles viviam em um mundo mágico e colorido que quase ninguém conseguia ver. Mas não é só porque não conseguimos ver, que ele não existe.