Capítulo 07 - Andar abaixo

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Meu cérebro não processou a situação rápido o bastante para me poupar de ainda mais constrangimentos. Eu ainda estava tentando entender porque tinha uma mulher seminua no meio do quarto do garoto com quem estou ficando (e porque essa menina seminua parece tão familiar), quando ouvi esse mesmo garoto dizer:

― Ninguém. Só mais uma aluna pedindo a chave mestra – ele respondeu, entrando no quarto.

A menina seguiu-o com os olhos quando ele passou na frente dela e pegou alguma coisa em cima da cômoda. Depois voltou na minha direção e meu cérebro ainda não estava processando a informação rápido o bastante, porque eu continuei imóvel. Bruno estendeu a mão e colocou algo na minha. Eu baixei os olhos e vi um monte de clips.

― Pronto, aí está a chave mestra – ele disse, quando eu fechei a mão, tentando ainda entender o que estava acontecendo. – Não esqueça de devolver.

― Agora, querida, se nos dá licença... – disse a seminua tirando o pirulito da boca, pendurando-se no pescoço de Bruno e esticando-se para beijá-lo.

Eu fiquei esperando uma reação. Achei que Bruno ia empurrá-la para longe e me explicar o que estava acontecendo. Que ia gritar com ela e dizer que nunca mais queria vê-la. Que ia puxar aquele pirulito ridículo e jogá-lo no chão, aos berros. Só que ele não faz nada disso. Na verdade, ele apertou a cintura da seminua, puxando-a ainda mais contra si. Ela empurrou Bruno na direção da porta, ainda beijando-o e esticou sua mão (que ainda segurava o maldito pirulito) por cima do ombro dele, para fechar a porta na minha cara.

Ouvi algo quebrar dentro de mim. Depois percebi que foram só os clips, que deixei cair no chão. Abri e fechei a minha mão, subitamente dormente. Minhas unhas tinham feito marcas na palma da minha mão. Apesar de nada ter quebrado, a dor era tamanha... Eu estava sendo traída.

Ou melhor, talvez a seminua estivesse sendo traída. Afinal, não era eu que estava esperando de shortinho e sutiã dentro do quarto dele.

De qualquer maneira, isso não mudava nada. Seja traíra ou amante, nenhum dos dois postos era algo que eu almejava. Eu só queria um relacionamento normal. Eu só queria alguém que não mentisse descaradamente para mim enquanto estivesse dormindo com uma seminua que ama pirulitos!!!!!

Comecei a andar pelo corredor, dominada por uma fúria repentina. Eu não podia ir pro quarto, ah não. Era provável que eu quebrasse toda mobília, que eu passasse a noite chorando na cama ou, pior, que eu cantasse A Lua Me Traiu a plenos pulmões no banho. Eu precisava ir para outro lugar.

Eu precisava mesmo era dar um jeito de sair desse lugar horrível!

Apertei o botão do elevador freneticamente. O corredor estava vazio e eu agradeci aos céus. A última coisa que eu precisava nesse meu momento ridículo era que alguém tivesse gravado, igual a cena ridícula de Sandy e Junior. Na verdade, preferia fazer mil cenas de Sandy e Junior do que passar por essa HUMILHAÇÃO com Bruno. Eu estava acabada. A ponto de querer puxar meus cabelos e gritar enlouquecida. Como pude ser tão burra? Eu deveria saber? Eu deveria suspeitar?

 Entrei no elevador, envolta em meus pensamentos, mas puxei o celular para mandar uma mensagem perguntando onde Lila estava. Achei que não ia receber resposta, visto que ela passou a me responder sempre muito atrasada depois que conheceu Gustavo. Porém, para minha surpresa, no momento seguinte estou encarando sua mensagem em resposta:

Eu estou na fogueira! Vem pra cá!

Fogueira? Esse acampamento tem uma fog...

Eduardo acabou de falar que talvez você não saiba que o Acampamento tem uma fogueira. Tem sim. É entre o prédio das nossas aulas e a entrada principal do Acampamento.

Acampamento de Inverno para Músicos (nem tão) TalentososOnde histórias criam vida. Descubra agora