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Para mim festa de Halloween é como baile de máscaras, algumas pessoas ficam irreconhecíveis com as fantasias. O bom é que isso permite se esconder um pouco da realidade.
As festas do mês de Outubro são uma das minhas favoritas, me vestir para esse evento é como preparar para um personagem novo. Gosto de toda à produção, e quando estou fora de mim — na minha nova pele — gosto de incorporar por completo. Eu sempre dou o nome no que visto.
Para festa que fui convidada irei usar uma fantasia típica dessa data, aqueles sem criatividade normalmente apostam nela, só que no meu caso não é falta de criatividade, é saber entregar o conteúdo.
Hoje o diabo não vestirá Prada ou preto, estará vestido na cor quente, assim como o inferno. Vermelho.
Eu nos meus quase 50 anos nunca me imaginei em uma festa que começa às 22:00 da noite. Normalmente nesse horário eu já estou na cama. Só que estou de pé, de salto alto ainda por cima. Essa noite será o dia de relembrar os velhos tempos, minha juventude, dia de ser sapeca. Afinal, o propósito dessa tradição assombrosa e doces ou travessuras, e nesse segundo requisito sou muito boa.
Além de gostar de festas nesse estilo, não foi minha única motivação para esse evento. A minha disposição para essa noite tem nome e sobrenome. Se ele não estiver aqui, terei que me recompor e praticar minhas travessuras em outro lugar...ou com outro alguém.
O relógio bate 22:30. Já está bem cheio por aqui. Não sei quem é host, há todo uma equipe por trás, apenas fui convidada, assim como vários amigos meus. Andando pelos corredores procuro pro rostos familiares, mas como disse, "as fantasias são disfarces do mundo real." E a meia noite às máscaras irão cair, a realidade batera na porta e linda carruagem voltará a ser uma abóbora.
Peço um drink, preciso me embebedar um pouco. Na mesa ao meu lado há diversos doces, todos temáticos. Opto por um pirulito em formato de esqueleto.
Me junto as minhas amigas, todas estão magníficas. De fato, Halloween é única época do ano que podemos nos vestir como putas sem julgamento. Minha roupa é brutal, perigosa e nada inocente nem decente, pode ser considerada um verdadeiro pecado.
Meus olhos percorrem o ambiente atrás do outro anjo. Há tantas pessoas que fica difícil saber quais delas é ele, a penumbra do lugar também não ajuda muito. Mas como o universo sempre está ao nosso favor, nossas almas irão se encontrar.
De relance vejo Karen, está vestida de vampira. Não sabia que conjugues eram permitidos, se eu soubesse teria vestido meu marido de palhaço, bobo da corte, vikings...
Se Karen está aqui ele também está. O fato dessa mulher estar aqui me assombra mais que a decoração do ambiente. Sigo com a minha postura confiante, mas no fundo estou desconfortável com a situação.
Clamei em minhas orações para que hoje Alexandre fosse só meu. Como podemos ver minhas pressas não foram ouvidas, talvez minha fantasia seja a culpada disso. Queria poder torturá-lo até o fim e depois levá-lo ao céus.
Engato em uma conversa, estamos a falar de projetos, conto um pouco do meu. Beleza Fatal está com tudo, Elvira Paixão promete muito, irá barbarizar demais.
A bebida do meu copo se esvazia. Vou em direção ao bar atrás de refil. Peço ao barmen um shot de vodka e um drink com o nome spooky eyes. Ao esperar me viro para o lado e pego mais um pirulito. Próximo a mim há uma pessoa, está de costas, fico encarando, estou tentando entender que fantasia usa.