Capítulo VIII - Instintos de Ackerman

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Já havia se sentido submerso a escuridão mais vezes do que gostaria de contar. Aquela sensação parecia tão natural quanto respirar. Mas ao mesmo tempo parecia gelada e escura, algo que transmitia medo e angústia.

Não sabia ao certo o que fazer a não ser abaixar a cabeça em agradecimento pelo comparecimento de alguns familiares no enterro de Kuchel. O altar estava cheio de flores. Lindas flores brancas e violetas, combinavam com o sorriso delicado da mulher na foto. Sakura soube bem organizar aquele “evento”.

Seu tio estava em um espécime de barraca, agradecendo a vinda de alguns familiares mais distantes, e ao seu lado Sakura, recebia pequenas ofertas.

A cada rosto conhecido, ou desconhecido, que passava por si, ele se perguntava se poderia ir embora. Não queria estar ali, não queria continuar aquela farsa estupida. Ver sua mãe como viu seu pai naquela época, trazia o gosto amargo da solidão de volta a ponta de sua língua.

Ikitaru nem sabia o que estava acontecendo. A inocente criança sorria para alguns parentes que comentavam o quão adorável ele estava, mas muitas vezes, o pequeno garoto olhava seu tio com pena. Se perguntava por que Levi parecia tão tristonho.

Levi não quis tentar explicar. Não tinha forças.

Des da ligação com Mikasa, a mesma não havia ligado ou sequer mandado uma mensagem seguinte. Nem mesmo no dia em que desligaram os aparelhos de Kchuel ou durante o enterro. Também não importava mais, seu coração já estava abalado o suficiente, não precisava de mais preocupações.

Ver o caixão de sua mãe ser fechado e ter que se ajoelhar para se despedir, não fora o que mais doeu. Talvez olhar para o lado enquanto abaixava a cabeça até o chão, na tentativa de esconder as pequenas lagrimas que insistiam em sair, fora uma péssima ideia. Ver seu tio derramar lagrimas pesadas no tatame sem expressar uma miséria expressão, o pegou desprevenido.

Kenny derramava tantas lagrimas quando qualquer outro parente presente. Mesmo que ele soasse frio por muitas vezes, Levi sabia que ele sentiria falta da irmã. Mas jamais imaginou ver tal cena. Seu rosto intacto, apenas molhado e salgado.

Seu cocarão abalou.

Já era hora de o cemitério fechar quando a maioria dos parentes se foram. Kenny comentou que iria para casa e decidiu que levaria Ikitaru com ele. Levi nem questionou. Queria ficar um tempo sozinho.

Ou era isso que pensava.

Olhando para aquelas arvores secas do fim do outono e começo de inverno, traziam um clima exagerado para a ocasião. Era como se tudo estivesse acontecendo por aquele momento.

Seus olhos tristes acompanharam uma folha seca cair da arvore e voar em alguma direção distante daquele lugar. Se imaginou como aquela folha. Fugindo de qualquer que seja o próximo evento caótico que sua vida lhe entregasse.

Olhando aquele céu cinza, não imaginou que o dia poderia ficar mais anti-climaco. A não ser que chovesse. E claro, choveu.

Gotas finas e delicadas caíram pouco a pouco em seu rosto pálido, e gradativamente as gotas engrossaram e começaram a machucar sua pele. Imerso aquela sensação dolorida, mas suave das gostas de água, pegou-se imaginando a época que era apenas um adolescente.

Um bobo e inocente garoto que amava compor músicas e viajar. Amava o campo e odiava a cidade grande. Não possuía complexidade em sua vida e não precisava se preocupar com quantas empresas fecharia negócio no mês.

Sua vida era mais calma antes do acidente, e teria continuado se aquele dia seu pai não tivesse tão distraído. Mas não se culpou.

Culpou o destino.

Preto no branco - levisakuOnde histórias criam vida. Descubra agora