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Batuquei a minha mesa pensativo sobre o que tocar na feira da universidade, já procurei por rascunhos perdidos no meu estúdio e infelizmente não achei nada, ao menos não o suficiente para o evento. Nenhuma ideia que surgiu foi inspiradora para compor algo sólido e bom, como medida de desespero sentei na cadeira do meu piano acariciando as teclas procurando com qual iria começar a compor, apertei a primeira que tanto agrada os meus ouvidos, mas nada surgiu e cada vez a insatisfação foi dominando o meu corpo, o amargor da inutilidade foi piorando e indo para a minha mente dando uma bela dor de cabeça, apertei aquela tecla repetidas vezes até bater com força em todas as outras descontando a minha raiva.

A minha apresentação é a principal da noite e por minha causa não vai acontecer, por causa da porra de um bloqueio criativo idiota, eu fui atrás do professor, me humilhei, implorei para ser a estrela e falei com todas as letras que podia cofiar em mim, agora por minha culpa não vai acontecer o evento mais importante para mim e como estou no último ano não vou ter outra oportunidade. O pior são as ideias que veio a mente, melodias brutas e grotescas, pedidos de ajuda velados em um som tão agressivo, a letra quase sem sentido e desconexa acompanhava a atrocidade que nem deveria ser considerada música, preciso de algo suave e profundo, doce como o mel. É como se um grande azul pálido me dominasse, um azul sem vida como sempre me senti ( ou sentia? ).

Sai do meu estúdio para espairecer a minha cabeça e aliviar a dor que surgiu, eu preciso fugir do barulho, lá está barulhento demais e está atrapalhando a minha concentração, o meu estúdio está recheado de pensamentos meus, pensamentos antigos que por mais que o lugar seja novo os sentimentos ainda permanecem ali me perseguindo como um parasita pronto para sugar toda a minha vitalidade e lembrar de quem eu sou, como a porra de um perseguidor que sempre lembrará de cada pesadelo meu e tirar o meu sono a noite.

Verifico se o meu bebê precisa de alguma coisa e saio de casa em seguida, com a audição atenta prestei atenção nos sons a minha volta, os pequenos ritmos discretos que são confundidos como "barulho" é como uma inspiração para os meus dias azul pálidos. Respiro fundo procurando alguma forma de alívio para a pressão que o meu cérebro está sofrendo, como se aquele ar pudesse lavar a minha alma e meu interior, que piada.

Deixo os meus pés me levarem para onde quiserem, não me atentei no caminho, não olhei se vinha algum carro quando atravessei a rua, apenas andei, como se o meu corpo soubesse onde é o meu refúgio, entrei no parque tão conhecido por mim. Uma risada de uma criança me tirou um pouco dos pensamentos e olhei na direção da voz acabando por sorrir e apreciar o que o pequeno ser fazia, por um momento me deixei levar imaginando um pequeno eu correndo por esse parque e me arrastando enquanto falava algo animado, a criança sumir do nada por ser algo Min de se fazer e claro as bagunças estão inclusas, além da birra e ser mimada na lista, quero que esse seja o meu ensinamento para a minha geração.

Passei boa parte do caminho chutando uma pequena pedra que encontrei por aí, apenas percebi onde estava ao quase bater o rosto na árvore tão familiar, a árvore mais alta de todo o parque, essa pequena colina dá uma vista divina para a cidade e é de tirar o fôlego. Sentei apoiando as costas na madeira, relaxando os músculos e repetindo mentalmente que estou em casa e não preciso me sobrecarregar tanto.

Um dia desejo trazer quem gosto aqui, dividir esse momento tão especial e único, ver o meu tão amado pôr do sol, fazer juras de amor e quem sabe até trazer os meus futuros filhos para esse lugar, correr com eles, fazer novas lembranças e contar das antigas, não sei o que seria de mim se derrubarem essa árvore sem mais nem menos, quero ao menos ensinar os meus pirralhos a como subir nessa árvore e jogar fruta na cabeça dos desavisados.

Encolho as minhas pernas observando tudo lá embaixo, as pessoas preocupadas com as suas próprias vidas, cada um lutando o que deveria ou fugindo, com problemas profundos ou simples, a maioria sucumbindo ao sistema capitalista. Quando descobri sobre, nunca fiquei tão mal, acabou com o meu psicológico, passei semanas depressivo, quero que ao menos os nossos funcionários ganhem de forma justa. São tantas vidas, é legal reparar o comportamento de certas pessoas e ver como reagem a vida, observar os outros me faz pensar sobre mim e me relaxa, é estranho alguém ficar encarando os outros? Talvez, mas sinto necessidade às vezes como agora no caso.

O meu pôr do solOnde histórias criam vida. Descubra agora