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Lily Mitchel

Lily sentiu a satisfação profunda e perturbadora que sempre a acompanhava após um desses momentos de selvageria. Seu corpo estava repleto de energia, de vitalidade, como se cada gota de sangue que drenara da vítima a rejuvenescesse. A luxúria insaciável que a possuíra momentos antes agora se transformava em um sentimento de poder e controle.

Seu apartamento, normalmente um reflexo de seu gosto impecável, voltou à sua condição intocada. Tudo estava limpo, as janelas abertas deixavam o ar fresco da noite entrar. A decadência daqueles momentos fugazes, quando ela era pouco mais do que uma besta, havia desaparecido. Seu rosto, que recentemente exibia uma expressão de voracidade desumana, havia retornado à sua atitude costumeira de desdém.

Lily sabia que isso não era novidade para ela. Era uma rotina, um ciclo infinito. Cada vez que a fome incontrolável se apoderava dela, uma parte de sua humanidade se desvanecia. E a cada dia que passava, ela esquecia mais de seu passado, da vida que costumava levar, e de todas as pessoas que já estiveram ao seu lado. Lily estava só, e sua sede de sangue tornava isso mais claro a cada vítima que deixava para trás.

Mas algo persistia em atormentar Lily. Era o olhar apavorado de Dante, aqueles olhos que a haviam encontrado nos momentos mais sombrios. Eles eram uma lembrança de seu passado, uma parte de sua humanidade que teimava em persistir. O olhar de Dante era uma sombra que se recusava a se dissolver, e Lily sabia que, de alguma forma, ele estava intrincado em sua existência. E ela não poderia fugir disso por muito tempo. Dante era a única pessoa em quem confiava, e era a única pessoa que ela sabia que estaria ao seu lado, mas não depois de tudo o que viu.

Lily, ainda tentando recuperar sua sensação de normalidade, voltou a organizar sua casa. Enquanto retirava as coisas de sua bolsa do baile, encontrou um número de telefone rabiscado em um guardanapo de papel, com o nome "Bianchi" escrito logo abaixo. A curiosidade a dominou, talvez fosse a hora de buscar uma conexão humana, uma distração.

Lentamente, com uma sensação de incerteza, ela pegou o telefone e discou o número. Enquanto o telefone chamava, ela começava a cogitar se deveria fazer aquilo. Lily sabia que esse era um passo em direção a um território desconhecido.

Ela ouviu o telefone chamar algumas vezes antes de Bianchi finalmente atender:

- Alô? - sua voz era suave e misteriosa.

- Bianchi, sou eu Lucy, nós nos encontramos no baile, lembra-se?

Houve um breve silêncio, e então a voz de Bianchi soou, cheia de charme.

- Claro que me lembro. Como poderia esquecer de alguém tão encantadora? A que devo a honra?

Lily sentiu um arrepio percorrer sua espinha enquanto respondia:

- Estou apenas... entediada e pensando que talvez pudéssemos nos encontrar novamente.

Bianchi parecia intrigado e, ao mesmo tempo, divertido:

- Bem, o tédio é um convite para a aventura, não é? Em qual horário eu posso te buscar?

Lily ponderou por um momento. Ela não tinha certeza do que estava buscando, mas a conversa que tivera com Dante ainda ecoava em sua mente.

- Que tal o Lusso Aroma? - sugeriu, mencionando o restaurante próximo ao Coliseu, que era conhecido por seu ambiente romântico e requintado - mas eu prefiro que nos encontremos lá.

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