18

1 0 0
                                    

Dante Gavino

A cada segundo que se passava, Dante parecia afundar ainda mais em seus pensamentos, como se tudo o que conhecia, ou pelo menos achava que conhecia, estivesse desmoronando diante dele. Era como se, mesmo com seu próprio império de pé, todo o resto estivesse desabando sobre ele, e a agonia em seu peito parecia sufocá-lo a cada noite mal dormida.

Isso não escapou aos olhos atentos de Alesso, mesmo que muitas coisas lhe fossem alheias, ele percebia que algo estava errado muito perto dele. Seu irmão parecia cada vez mais preso e arrastado por Renzo, e isso incomodava o garoto. Embora ele gostasse do homem, não podia ignorar que aquele não era mais o Renzo Moretti que havia conhecido há cinco anos. Inicialmente, ele pensou que era apenas por causa de que o homem saíra da cadeia a poucos meses, mas Alesso não encontrava mais vida nos olhos de Renzo.

Ele não via mais Lily a semanas, ela havia desaparecido, e Cassandra fazia questão de o manter o mais longe possível da mulher, a todo custo, mas aquela era uma ordem da qual ele ainda se questionava do motivo. Lily foi quem reergueu Dante quanto finalmente se tocou do que havia feito com o homem que tanto amava, ela o ajudou durante anos, o ajudou a erguer seu império, sem ao menos questionar o que Dante havia feito.

Traição. Era uma ferida aberta, uma chaga que dilacerava todos os poros de Dante. A cada respirar, a agonia martelava em sua cabeça como um tambor incessante. Ele realmente havia entregado o homem que dizia amar para a polícia? A resposta persistia, como um eco sombrio, afundando-o ainda mais na escuridão da sua própria culpa. Cinco anos se passaram desde aquele ato traiçoeiro, e agora, com o dinheiro obtido, Dante resgatava o homem que ele mesmo havia condenado à prisão.

O peso dessa traição, como uma corrente de ferro, continuava a assombrar a consciência de Dante, criando um fardo insuportável que ele carregava consigo a cada momento. Cada olhar de Renzo, mesmo que silencioso, era uma punição viva, uma lembrança constante do preço que ambos pagaram pela decisão impiedosa de Dante. A atmosfera ao redor deles era carregada de tensão, a angústia pairando como uma sombra constante sobre o que antes fora um amor.

- O comércio de drogas em Roma vem diminuindo gradativamente, após a queda de Ettore - Alesso expressava enquanto examinava os relatórios.

Dante, Alesso e Cassandra estavam sentados no escritório de Dante. Cassandra divertia-se com o fato de que Dante parecia não ter ouvido um terço do que o garoto dizia, enquanto estava imerso em cálculos, com uma expressão de raiva estampada no rosto.

- Ettore era um homem repugnante. Minhas fontes indicam que os Galli tomaram todos os territórios de Vitalle e fecharam todas as boates clandestinas de tráfico humano daquele homem por Roma - Alesso agonizava ao observar as folhas e documentos sobre mulheres que haviam desaparecido e nunca mais voltado.

- Estou começando a gostar dos Galli.

- Eles não são heróis, Cassandra - Alesso respondeu rispidamente. - Digamos que apenas trocaram a carne por metal, mas matam tanto quanto os Vitalle.

- Não seja hipócrita, querido. Vocês não são tão melhores. Vestem apenas uma máscara de bons moços e querem varrer o contrabando de armas dos Galli de Roma, mas o que os motiva é o dinheiro e o poder que isso vai render - ela riu, cruzando os braços. - Com a extinção dos Vitalle e dos Galli, tanto as empresas de comércio de vinho quanto o contrabando em Roma ficam nas mãos dos Gavino.

Dante, que parecia ter retornado à realidade, interveio.

- Não podemos negar que há sujeira em todos os cantos desta cidade. Mas, sejamos francos, não estamos aqui para discutir os méritos morais. O que precisamos é garantir que os Galli não se tornem uma ameaça ainda maior - Disse ele entrelaçando os dedos sobre a mesa, tomando sua pose ereta novamente.

- Precisamos agir estrategicamente. Conhecer nossos inimigos, suas fraquezas e pontos fortes. Só assim podemos manter o equilíbrio de poder e proteger nossos interesses - Alesso continuou tentando ignorar tudo aquilo que Cassandra havia dito - Precisamos apressar Lucca e as informações da faculdade, agora que ele voltou para lá, um Galli na faculdade ainda me é muito estranho.

- Interesses... sempre essa palavra - ela cruzou os braços - Às vezes, acho que vocês precisam ser sinceros consigo mesmos. A quantidade de assassinatos pela cidade, se vocês fossem realmente os mocinhos, por que ainda não se encarregaram de tirar todas essas pessoas da rua? - Cassandra riu novamente, uma risada carregada de cinismo.

- A coisas que não nos é encarregado, Cassandra - Disse Dante irritado - afinal, de que lado você está?

- Eu estou sendo paga, Dante, não duvide - ela tirou o sorriso de seu rosto - eu morrerei pelos Gavino se for necessário, apenas estou dizendo, de que quando vocês deixarem os papéis de bons homens, as coisas vão ficar mais claras.

- Não fale como se nos conhecesse - Alesso começou a se estressar com Cassandra.

- Há um padrão, Alesso - ela apenas o encarou.

- O poder é o que nos mantém vivos neste jogo, Cassandra. Sem ele, somos apenas peões em um tabuleiro - Dante olhou-a nos olhos, a seriedade em seu olhar contrastando com a leveza de suas palavras. - Chega - ele exclamou, se levantando de sua mesa - Vocês estão me dando dor de cabeça, preciso respirar, nos vemos novamente à noite e continuamos a reunião.

- Renzo não está em casa, Dante - Alesso riu, encarando-o, e Dante se virou sem atender - não é ele quem você tem vigiado nos últimos dias? - Está preocupado com o homem com quem ele tem andado?

- Por acaso, você está me vigiando, Alesso? - Dante riu indignado.

- Estou cuidando das pesquisas de campo, apenas o meu trabalho - disse ele, levantando as mãos em rendição. - Aliás, o que te preocupa? A proximidade desse homem com Renzo, ou o fato de ele não ter nenhum registro há anos?

- Você tem estado insuportável ultimamente, Alesso - Dante disse entre dentes.

- Se você não me diz, Dante, eu descubro - ele sorriu inocente e se levantou, andando até a porta do escritório, com os papéis em suas mãos. - Não vai demorar até que eu descubra o que você tem escondido sobre Lily também - antes de sair, ele parou e encarou seu irmão - Mas não irei me surpreender que você tenha estragado tudo, assim como fez com Renzo.

- DESGRAÇADO! - Dante gritou com toda aquela angústia que havia esmagado em seu peito. Ele iria correr atrás de Alesso, mas foi impedido por Cassandra.

- Resolva isso antes que esse garoto se enfie em uma furada - ela sussurrou, também deixando o escritório.

Após ficar horas sozinho no escritório, Dante decidiu que  iria até Lily, mesmo não sabendo o que faria, ou se algo iria mudar.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: May 16 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Ano zeroOnde histórias criam vida. Descubra agora