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 O ambiente estava mergulhado em uma atmosfera pesada e caótica. O calor estranhamente intenso do dia pairava sobre tudo, aumentando a sensação de sufocamento. O ar estava impregnado com sons dissonantes que compunham um sinistro coro de desespero.

Do lado de fora, mulheres gritavam, suas vozes rasgando o ar em agonia. O som penetrante cortava a calmaria do ambiente, contribuindo para a tensão que se espalhava como uma névoa.

No meio desse cenário, cavalos relinchavam, adicionando uma nota selvagem à sinfonia caótica. Seus relinchos eram agudos e estridentes, ecoando através do tumulto como um aviso iminente.

O choro de crianças se misturava aos outros sons, uma nota aguda e desoladora que ecoava em meio ao caos. A inocência perturbada pelas circunstâncias adversas contribuía para a sensação de desespero que pairava no ar.

Diversas pessoas gritavam em uma cacofonia desordenada, cada voz carregando uma história de sofrimento e aflição. O ambiente, impregnado com o barulho incessante, parecia uma manifestação palpável do caos que reinava naquele momento.

Nesse cenário, o dia quente e sufocante tornava-se um elemento opressivo, intensificando a sensação de desconforto. O ambiente pesado refletia a tensão no ar, criando uma experiência sensorial que mergulhava todos na crueza da realidade tumultuada que os cercava.

Ela percebia claramente que a segurança não existia naquele vilarejo hostil. A urgência de fugir tornava-se imperativa, e a escolha de fazê-lo durante o dia era uma questão de vida ou morte. As ruas, antes vivas com o cotidiano do vilarejo, agora ressoavam apenas com os estalos do fogo que crepitava nas fogueiras.

Caminhar pelas ruas durante a noite seria uma sentença de suspeição automática. No meio do caos e da escuridão noturna, qualquer figura que ousasse aventurar-se pelas ruas desertas seria alvo iminente de acusações de bruxaria. O vilarejo, nunca acolhedor para ela e sua família, tornara-se um terreno ainda mais perigoso, onde cada passo dado podia conduzi-los à fogueira ou a punições ainda piores, cujos detalhes ela preferia não imaginar.

A luz do sol, enquanto aquecia o ambiente, representava uma ameaça constante para os seres como ela. O ritual de proteção contra a luz solar, vital para a fuga, dependia de uma tinta específica. Essa tinta, no entanto, havia acabado a dias, e a única esperança de encontrá-la residia nas mãos de um grupo   de mulheres, bruxas que viviam secretamente na floresta próxima.

As histórias sobre essas bruxas eram envoltas em temor. Aldeões evitavam a floresta a todo custo, alimentando as lendas sobre os poderes das mulheres que lá habitavam. Não havia alternativa senão adentrar a escuridão da floresta e procura-las. 

Ela saiu sorrateiramente, oculta pela sombra de uma capa marrom que envolvia todo o seu corpo. Contudo, mesmo com a tentativa de passar despercebida durante o dia, sua presença não passava despercebida. Cada passo que ela dava ecoava grunhidos de dor, uma agonia silenciosa evidente em seu olhar, o sol a queimava e o medo de perder tudo aquilo que tinha a perseguia.

A atmosfera do vilarejo estava impregnada, o cheiro da morte pairava pelo ar. Homens, clamando pelo nome de Deus, invadiam casas e arrastavam mulheres pelos pescoços, utilizando coleiras metálicas cruéis. Os gritos sufocados ecoavam pelas ruas, marcando uma cena de fanatismo que arrepiava a espinha.

Aquela visão era uma confirmação brutal de que o vilarejo não oferecia refúgio nem compaixão. Ainda envolta em sua capa marrom, sentia a urgência de escapar desse pesadelo antes que sua própria existência fosse descoberta. 

Mas antes mesmo de chegar à entrada da floresta, ela se viu subitamente cercada. Cada passo era uma agonia, a dor penetrante corroendo sua pele sensível, uma tortura sob a luz do sol inclemente. Foi então que três sombras emergiram, homens de expressões cruéis que a agarraram pelos braços, enquanto o terceiro, com um sorriso perverso, arrancava brutalmente seu capuz. O grito angustiante que escapou de seus lábios quase arrebentou suas cordas vocais, uma resposta à tortura de sentir sua pele queimando sob a intensidade implacável do sol.

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