"Ooh, let's talk about chemistry
Cause I'm dying to melt though
To the heart of her molecules."- Sleep Token
E é assim que realmente começa, Maeve estava se libertando, abandonando cada dia de merda, trabalho e faculdade.
E aqui estou, no Aeroporto Internacional de Chicago, uma passagem de ida e duas malas, sentada sozinha e tentando pela décima vez avisar meu pai que estou a caminho da Irlanda, indo morar com ele.
— Oi, papai? Desculpe... — dois toques e ele finalmente.
— Oi, filha. O que houve? — e com uma simples pergunta, eu chorei, chorei por que sabia que mesmo após tantos dias sem minhas respostas meu pai estava lá, firme e forte me aguardando, aguardando sua Maevezinha.
— Estou no Aeroporto de Chicago, estou pegando o primeiro voo para a Irlanda pai, você pode me buscar? — eu esperava que ele dissesse sim, fazia anos que eu não ia para a Irlanda, desde que John apareceu na vida de minha mãe tudo ficou ainda pior.
— Pego você em Dublin, filha — eu podia sentir a felicidade na voz dele, tudo o que eu não sentia a anos com minha própria mãe.
Foram sete horas de voo, sete insuportáveis horas. Mas eu estava em solo irlandês, em Dublin. Tinha acabado de desembarcar quando uma garota esbarrou em minha mala, derrubando café no meu suéter.
— Shit craic! — disse a mulher ruiva tentando limpar meu suéter, mas o que raios era shit craic?
— Ei, tudo bem! É só um suéter velho, não tem problema — disse eu, com quase um kilo de ódio no coração — Se não for incomodo, qual seu nome? E o que raios significa shit craic?
— Ah, me desculpe. Shit craic é uma expressão nossa, geralmente usamos quando acontece algo desagradável ou bem decepcionante, e derrubar meu café em você com certeza está nessa lista — disse a ruiva entre risos — E meu nome é Kira, Kira Meadows. E o seu?
— Maeve, Maeve Gray.
— Bom, Maeve. Eu tenho que ir para o centro de Dublin, quer me acompanhar? Posso aproveitar e te dar um suéter novo — Kira disse em risos novamente.
— Obrigada pela oferta, mas tenho que encontrar meu pai, ele deve estar me procurando por aqui nesse exato momento.
— Bem, então me passa seu número, assim pode ter uma colega enquanto passa as férias em Dublin — eu realmente queria que fossem férias, estaria um pouco mais feliz, eu acho.
— Maeve, filha! — e lá estava meu pai, com uma placa de papelão enorme e com uma frase em letras garrafais: MAEVE, PAPAI ESTÁ AQUI.
— É mais fácil eu te achar no Instagram, Kira, tchau! — Não dei nem tempo para Kira dizer tchau, me virei e fui ao encontro de Will Gray, meu pai.
— Oi pai, você esperou muito? — papai não tinha mudado nada, continuava com a mesma barba
— Não filha, e como foi a viagem? — disse papai já pegando minhas malas e me levando para a saída do aeroporto.
— Foram sete horas aguentando uma criança birrenta e o chulé de um cara sentado bem ao meu lado, tirando isso, foi ótimo — papai não aguentou e teve uma crise de riso.
Ao chegarmos no estacionamento do aeroporto de Dublin papai organizou minhas malas, enquanto eu aguardava no carro. E foi nesse momento que eu o vi descendo do carro, do outro lado do estacionamento. Ele era como um ímã, atraindo tudo para si, era alto, forte, tinha uma linda bunda, e pelo visto, não pulava os treinos de perna.
— Maeve? Filha? Estou falando com você — papai pareceu curioso sobre meus devaneios.
—Ah, desculpe — foi o que consegui dizer, ainda sentindo uma energia em todo o corpo, como se ele fosse uma Divindade Celta, atraindo tudo e todos para si próprio — Estou meio cansada pela viagem, pai. Podemos ir?
— Vamos para a casa filha — casa, eu sentia falta disso.
Foi um trajeto silencioso até a cidade, havia um bosque maravilhoso que a cercava, e pelas palavras de papai nossa casa agora tinha o fundo para o bosque, as coisas estavam diferentes agora. E não era só a casa e meu pai, eu finalmente me sentia diferente, sentia uma conexão com o bosque e com Dublin também. E assim foi o nosso caminho todo até a casa de muros vermelhos, olhares compreensivos do meu pai e uma estranha sensação dentro de mim, me chamando diretamente para dentro dele, para bosque, as folhas pareciam sussurrar em minha mente.
— Pai, pode deixar que eu subo minhas malas — eu estava descendo do carro quando meu pai já havia tirado as duas e estava na metade no caminho.
— Deixe comigo. Pegue a chave reserva no vaso de flor, a partir de agora ela é sua. Suba e vá ver seu quarto.
A casa estava totalmente diferente do que eu me lembrava, quadros com fotos minhas ainda estavam em todos os lugares, e uma me chamou a atenção. Nela estavam eu, mamãe e papai, quando ainda éramos uma família. Sinto falta desses momentos, mas mamãe optou por uma alternativa definitivamente péssima.
Subi a escadaria e logo na primeira porta estava escrito, Maeve, com corações e flores. Ele definitivamente esqueceu que eu já tenho 24 anos.
Era amplo, paredes lilás, teto branco e cortinas pretas, minhas cores favoritas. Papai nunca esqueceu.
Tinha uma porta de vidro enorme e a única coisa que a tampava era a cortina. Ela dava para um mini terraço, era uma sensação totalmente diferente de quando estava em Chicago.
— O bosque é tão lindo...
— Com toda certeza, ele é lindo — papai deixou minhas malas e logo saiu.
— Ele entra como um fantasma e sai como um fantasma — eu disse em meio aos risos.
Eram exatamente duas da manhã quando comecei a desfazer minha mala, tive que me organizar com a rematrícula da faculdade e procurar emprego no site informativo da cidade.
A porta de vidro estava aberta, uma leve brisa batia nas cortinas, até que um vento forte se fez presente, fazendo os papéis da rematricula voarem.
— Que merda, agora está tudo bagunçado. — e foi aí que eu senti, um frio subindo dos pés até a cabeça, arrepiando todos os pelos do braço, e no vocabular chulo, fiquei com o cu na mão.
Era como se uma melodia ressoasse no fundo da minha mente, a mesma do trajeto do aeroporto até a casa, era como se eu já a conhecesse, como se já estivesse gravada em minha alma.
E foi aí que o bosque me seduziu, desci as escadas fazendo o mínimo de barulho para não correr o risco de acordar o velho e segui para os fundos da casa, que dava em uma clareira. E era lá, toda a tensão, era palpável, toda energia e sensações vinham de lá. Ela estava me seduzindo, isso já havia ficado claro.
— Mas que merda eu estou fazendo? — mesmo fazendo essa pergunta para mim mesma eu continuei o caminho, seguindo para o coração do bosque.
Caminhando entre os troncos imponentes, ela se viu em uma clareira banhada pela luz suave da lua, filtrada por galhos e folhas. Uma sensação de poder latente permeava o ar, envolvendo-a em aura mágica e misteriosa. E foi quando Maeve tocou a casca lisa de um carvalho de aparência milenar, que se fez ouvir um murmúrio, carregado pelo vento suave, ecoando em toda a clareira, e incitando-a recitar palavras desconhecidas.
— Ádh mór, tabhair ar ais an cheimic, an Dia dorcha, an diabhal agus an domhan thíos. Fás do anam, tá a fhios agat do mhian agus dúil Dé, cailleach bheag, fiú má chailleann tú gach rud, grá, saol nó anam beidh tú fós ina bhall dó agus beidh sé shábháil tú. — o que eu havia dito? Nunca estudei uma língua como essa, eu nem mesmo havia ouvido algo igual a isso até hoje, até os sussurros do vento em meu ouvido.
Uma onda de energia reverberou do solo seguindo por todo seu corpo e alma, foi quando um torvelinho de sombras envolveu toda a clareira, engolindo-a junto. A magia se fez mais forte, dois pontos brilhantes surgiram, dois olhos vermelhos feito sangue, brilhando incansavelmente, e possessivamente direcionados a ela.
O coração de Maeve estava em um turbilhão de emoções, uma montanha russa prestes a perder um parafuso e desmoronar em mil pedaços. Definitivamente não era um sinal de Deus, o Deus que sua mãe tanto falava. Os olhos vermelhos eram diferentes, e ela sentiu no primeiro piscar de olhos, havia invocado algo poderoso e profano, algo que nunca teve contato em seus anos de vida, algo que iria deformar sua mente e vida de uma forma jamais vista. E por um segundo, ela sabia que estaria mentindo se dissesse que não gostou da sensação de poder, magia, medo, do calor surgindo no meio de suas pernas e dos olhos possessivos direcionados a ela. Foi uma conexão, ao menos era isso que ressoava em sua mente.
E do mesmo jeito que os olhos vermelhos surgiram, eles se foram, sem aviso prévio.
A sombra desapareceu, o vento estava voltando ao normal, o murmúrio em sua mente e o poder latente não estava mais presente.
— Mas que merda, preciso voltar pra casa — o que eu havia feito? O que foi essa merda toda?
Sim, eu corri como uma maluca obcecada, eu devia estar mesmo maluca, vendo olhos, e o pior, sentindo tesão por simples olhos vermelhos e a sensação de possessividade, foi extremamente palpável, tal qual está sendo agora, tenho que confessar, estou extremamente molhada.
— Maeve, seja racional, você está molhada assim por que não trepa a séculos — era isso que eu estava dizendo em voz alta a mim mesma. Mas quem em sã consciência fica molhada em uma situação dessas, não é mesmo?
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Fogo e Éter: Vessel and Maeve
RomanceMaeve é uma jovem que, após uma série de eventos traumáticos em sua vida, decide fazer uma viagem à Irlanda em busca de paz e cura. No entanto, o que ela não esperava era encontrar-se em um antigo bosque, onde, acidentalmente, convoca Vessel, que tr...