14. Como uma faísca que finalmente explode

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NOTAS:  Olá! Queria agradecer demais a quem comentou no último capítulo, e a noticia boa é que os comentários de vocês me incentivaram demais, fiquei muito feliz em receber esse feedback e consegui deixar o capitulo pronto em 1 semana ao inves de 15 dias, como normalmente faço! Muito obrigado mesmo <3 se a recepção aos capítulos continuar boa assim, vou tentar continuar ir atualizando toda semana pra vocês! 

Espero que gostem do capítulo de hoje (que foi um dos meus favoritos de escrever, pra ser sincero.) Não esqueçam de me contar o que estão achando e de votar. Boa leitura! 

 Boa leitura! 

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Katriel

Estava cada vez mais difícil dizer o que era real. Mesmo depois que Flávio foi embora, foi como se ele continuasse ali. Seu cheiro. Suas mãos em minha garganta. O sangue escorrendo no meu pescoço. Todas as outras vezes que fui reduzido a nada, que tive minha essência arrancada fora, despedaçada, retorcida, todas as vezes que não passei de um brinquedo nas mãos de Flávio pareciam repetir constantemente em minha cabeça. Eu não sentia o tempo passar, nada parecia real. Aquiles me levou para o hospital. Eles fizeram exames, perguntaram coisas que eu não podia, não sabia responder. Me deram remédios que aliviavam a dor física, mas não faziam nada pela sensação de vergonha, nojo e arrependimento que corria pelo meu corpo.

Aquiles brigou com uma enfermeira. Ele sabia o quanto hospitais me apavoravam: ficar sozinho com pessoas desconhecidas, ter estranhos encostando em mim para me examinar, ter que ser vulnerável na frente de alguém, tudo isso me deixava à beira de uma crise. Aquiles sabia. Ele havia prometido que ficaria do meu lado durante todo o tempo, e só por isso eu aceitei ir. Quando disseram que ele não poderia ficar comigo enquanto eu fazia os exames, Aquiles brigou com as enfermeiras até que deixassem. Eu quis chorar de alívio. Passei todo o tempo tentando focar na mão de Aquiles segurando a minha, em sua voz baixa me dizendo o que era real, no seu toque, nas palavras me dizendo que ia ficar tudo bem. Eu segurei firme a mão de Aquiles e tentei não deixar minha mente me levar a lugares perigosos, mas estava sendo difícil. Meus sentidos iam e voltavam. O tempo inteiro era como se Flávio ainda estivesse ali, em cima de mim, e não havia nada que eu - ou Aquiles- pudesse fazer para que a sensação fosse embora. Eu queria gritar. Talvez eu tenha gritado, não lembro bem.

Mesmo assim, mesmo que eu estivesse sendo irracional e difícil de lidar, Aquiles ficou do meu lado durante todo o tempo que passei no hospital. Mesmo quando eu não estava fazendo sentido, quando não conseguia falar mais que "sim" ou "não", mesmo sendo eu. Eu não sabia se conseguiria aguentar aquilo sem ele, e o pensamento me apavorava. Eu tinha medo que ele fosse embora- do hospital ou da minha vida, eu não sabia bem. Tinha tanto medo que Aquiles fosse embora que eu mesmo acabei o afastando antes que ele pudesse fazer isso.

Quando finalmente fui liberado do hospital, e Aquiles me levou para casa, eu entrei no quarto, fechei a porta e não deixei Aquiles entrar por um bom tempo. Por uma semana, tudo que eu dizia era "eu quero ficar sozinho", e Aquiles respeitou meus desejos. É claro que respeitou. Parte de mim o odiava por isso. Toda vez que ele batia na porta para ver como eu estava, eu murmurava alguma reclamação e me cobria com o cobertor. Todo dia de noite, ele ia ver se eu estava bem, mas eu repetia as palavras que não poderiam ser mais falsas: eu quero ficar sozinho.

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