15. Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte

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Aquiles

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Aquiles

Minha mãe batia na porta do banheiro com força enquanto eu tentava pensar em um jeito de, ambos, esconder que Katriel estava ali comigo e esconder que tinha alguém morando no quarto ao lado.

—Eu estou tomando banho — respondi, a voz trêmula. — Já saio.

—É bom você ter uma explicação quando sair — foi o que ela respondeu.

Eu não tinha. Eu não queria ter que explicar, não deveria ter que explicar. Olhei para Katriel, o cabelo molhado, mal cortado, os olhos azuis acinzentados me olhando fixamente, sua mão segurando minha cintura, minha boca ainda sentindo o calor de seus lábios. Aquilo não deveria ser errado, não deveria parecer errado. Não pareceu errado quando minha boca percorreu seu pescoço, quando minhas mãos exploraram sua cintura. Quando eu e Katriel nos beijamos até perder o fôlego, nada nunca pareceu tão certo. Entretanto, quando minha mãe bateu na porta e o que estive escondendo por tanto tempo ameaçou ser exposto, a palavra pecado passou pela minha mente. Pecado. Dever. Era meu dever reprimir aquilo. Era o que eu havia prometido a mim mesmo que faria, muitos anos atrás, quando descobri que a única maneira de continuar tendo uma família era sendo hétero.

Essa era a parte curiosa: eu deveria reprimir meus desejos por outros homens para que, aos olhos da minha mãe, eu continuasse puro, limpo, digno do céu, digno de Deus. Mas eu nunca me senti tão próximo de Deus quanto quando as mãos de Katriel percorreram meu corpo.

Me doía saber que não importava. Não importava quão certo parecia. Eu tinha um dever a cumprir.

Levantei da banheira, as roupas molhadas, a água escorrendo pelo chão.

— Fica aqui — sussurrei para Katriel, e fechei a cortina da banheira, o escondendo. — Eu vou arrumar uma desculpa, eu vou dar um jeito. Só fica aqui escondido.

Tirei a blusa e a calça e me enrolei na toalha, pronto para sustentar a farsa de que estava tomando banho.

Assim que saí, minha mãe foi atrás de mim, falando:

— De quem são essas coisas? Tem alguém morando aqui com você?

— Não — respondi, seco, tentando fechar a porta do quarto. — Será que eu posso colocar a roupa primeiro?

Ela continuou falando na porta do quarto, e eu coloquei a roupa o mais rápido possível, tentando evitar que ela fosse até o banheiro e achasse Katriel. Quando saí, minha mãe estava no quarto de Kat, revirando suas coisas.

— Como você pode dizer que não tem ninguém aqui? Essas roupas não são suas! — Ela jogou algumas roupas no chão, e eu respirei fundo, tentando ficar calmo. — Tem uma mulher morando aqui com você? — falou, segurando um top. — A Noelle sabe?

— Não tem uma mulher morando aqui — respondi, o que tecnicamente era verdade.

— Aquiles, se eu for até aquele banheiro, vai ter uma garota lá dentro?

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