Aquiles
Enquanto eu levava Katriel do hospital para a minha casa, milhões de coisas passaram pela minha cabeça. A primeira delas é que ele, definitivamente, não deveria estar saindo do hospital. Katriel mal conseguia andar, e sua aparência estava péssima. De vez em quando, ele começava a respirar forte e eu não sabia se estava tendo uma crise de asma ou apenas sentindo dor. Mas ele era teimoso demais para admitir que estava mal, e eu sabia que tentar convencê-lo a, pelo menos, me deixar levá-lo a outro hospital seria inútil. Eu estava preocupado, mas minha preocupação diminuiu quando começamos a conversar. Vez ou outra, eu olhava para Katriel e era como se ele se esquecesse de interpretar aquele personagem, o personagem durão, distante, e só.... existisse. Eu evitava movimentos bruscos e tomava cuidado com todas as palavras que saiam da minha boca, porque sentia que, se fizesse algum movimento errado, então ele lembraria que estava carregando consigo o peso do mundo. Aquela viagem de carro... foi como se entrássemos em outra dimensão. Katriel estava visivelmente em abstinência, e com muita dor, mas, mesmo assim, aquela foi a primeira vez que eu o vi sorrir. Sorrir de verdade, fora do trabalho, onde seus sorrisos são perfeitamente fabricados.
Foi uma sensação estranha, e em breve ele voltou a realidade, se fechou novamente. Mas eu tinha visto, e sabia que ele estava ali: um Katriel capaz de sorrir. Um Katriel capaz de fechar os olhos e sentir o vento, de me olhar dirigir enquanto esconde um sorrisinho bobo no canto dos lábios.
Depois de um tempo calado, nos últimos minutos da viagem antes de chegarmos até a Moonlight, Kat se recostou no banco e fechou os olhos. Não pude deixar de observar como Katriel era bonito, o cabelo longo com o toque de vermelho na frente, os cílios castanho-claros, a feição relaxada evidenciando as sardas e marcas em seu rosto. Eu seria capaz de parar o carro apenas para olhá-lo dormir.
Quando chegamos na Moonlight, eu fui até seu lado da porta e a abri, oferecendo meu braço para o ajudar a levantar.
— Não precisa — murmurou, e então mordeu a bochecha segurando um gemido de dor ao tentar levantar— Eu vou lá sozinho, pode ficar no carro.
O deixei tentar sair do carro sozinho umas três vezes antes de levantar uma sobrancelha, e oferecer meu braço de novo. Ele suspirou, frustrado, finalmente aceitando.
—Não vai dar problema para você se te virem entrando na Moonlight? — perguntou, e então eu tirei um boné e uma máscara da mochila, e coloquei— Ótimo. Agora eu tenho um segurança.
—Você reclama demais para alguém que vai desabar no momento que eu te soltar.
—Literalmente ou figurativamente?— Katriel perguntou, e eu olhei para o lado, com vergonha.
—Eu não quis dizer....
Ele soltou uma risada e me interrompeu.
—Como você é romântico. Eu sou tipo um gato que você achou na rua e decidiu adotar?
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Reminiscência [LGBT]
RomanceAquiles sempre sonhou com as coisas ruins antes delas realmente acontecerem. Após conhecer Katriel, um stripper misterioso, ele sonha com o garoto sendo brutalmente assassinado. Ao se aproximar de Katriel para tentar impedir a tragédia, Aquiles se v...