O destino era algo, ele não lembrava dela, não até que a viu, em meio aos civis.
Por um instante ele para, é algo quase corriqueiro, vê a mistura de tempos que se sobrepõe, desde pequenas coisas como um objeto que envelheceu ou mudou, a própria cultura, alimentos e palavras, o tempo fez tudo mudar, guardando sua essência ou não, nada se mostrou imutável. Essa memória em especial é amarga, um de seus muitos arrependimentos. Se ele tivesse sido mais rápido, se ele tivesse sido mais, e mais, é tantos e se, uma suposição após a outra, após a outra, das quais pouco importava quando o passado se foi e o presente era uma série de consequências, das quais cabia a ele saber o que faria daquilo, se o deixaria corroer, ou continuaria, mesmo que doa, em uma ferida metafórica, ainda sangrenta, ainda crescendo.
É uma surpresa que ela ainda viva, aquela mulher oni que estava com Muzan naquele dia, o dia em que Yoriichi o deixou escapar. Como ela se chamava mesmo? Ele não sabe, uma vida veio e foi, algumas memórias permaneceriam mais vividas que outras. De qualquer forma, foi ela o oni que ele rastreou hoje, seu nariz aguçado como era pegando seu cheiro mesmo sob a multidão, ainda que parcialmente oculto pelo cheiro de flores.
Ele não sente o cheiro de sangue, não como a maioria dos onis que encontrou até agora tinham, a podridão da perversão não a contamina. Da mesma forma, o mesmo se aplica ao seu companheiro, o garoto oni que a segue com zelo, fazendo caretas para os pedestres que ousam se apaixonar demais. Tanjiro pondera, ele não sente a necessidade de os matar, ele nem o quer, mas ainda, a curiosidade lhe faz se mover - é engraçado, amargo, como um estranho de seu passado lhe fez temer muito menos que sua própria família, que ela não o fita com hostilidade ou o tenta para um ataque.
A mulher oni para ao notá-lo, seus olhos se arregalados por um mero instante, antes que seus traços se suavisassem. O menino oni diz algo, mas ela o silencia, segurando seu braço quando Tanjiro para em a frente a eles. Os pedestre continuam a passar indiferentes, leigos dos predadores em seu meio.
- Olá.- É um cumprimento bastante mundano, Tanjiro sorrir, para que haja um entendimento de que aquele encontro deveria ser pacífico. Logo, ele acrescenta: - Podemos conversar, por favor?
Diálogos assim deveria ser mais simples, em algum momento foi, não mais, não desde que ele lembrou, agora, os traços carismáticos de Tanjiro estão manchados pelo ser mais introvertido de Yoriichi - ele não pode deixar de temer o dia em que o menino brilhante se perca totalmente, eles deveriam ser os mesmo, mas não importa o quanto tente negar, há uma clara dissonância ali, uma única alma, mas duas mentes.
O menino reage primeiro, tentando avançar e logo sendo frustrado, o aperto da mulher é firme, ela não o deixa sair de seu lado.
- Pare Yushiro.- Ainda que seu tom seja suave, não é um aberto a questionamentos, não que seja necessário, o menino é rápido em ouvi-la, recuando, deixando que ela tome a frente, mesmo que seus olhos agudos denunciem seu desgosto.- Primeiro, creio que uma apresentação seja mais adequada.
Sentindo suas bochechas esquentarem, Tanjiro se agita sob o olhar da mulher, sua mãe o teria repreendido severamente por isso - doi pensar em sua família, doi mais permitir que suas lembranças deles se percam, esquecidas por vontade própria ou não, assim ele as agarra, não as deixando ir, muito menos as negando.
- Desculpe, você tem razão, apenas presumi que não seria necessário, que você também se lembraria.
Foi ingênuo da sua parte, ele sabe que sua aparência mudou, crescendo, perdendo o ar de menino, mas ele nunca seria como foi, se ele tivesse algo a dizer, ele tentaria conservar o máximo que pudesse do menino Tanjiro. Aquela mulher não era Mishikatsu, ela não o conhecia o suficiente, nem tinha desenvolvido em sua mente a certeza de o quão aberrante ele foi, dessa forma, era claro que ela não deduziria como fez o irmão, de igual forma, ela também não acreditaria tão rápido em uma possibilidade inédita como foi a sua, ele supõem.
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Sol Nascente (Hiatus)
FanfictionAgora, seu nome era Tanjiro Kamado, mas em outra vida, ele foi chamado de Yoriichi Tsugikuni.