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          A garotinha se olhava no espelho. Os cabelos arruivados estavam presos em um coque e a roupa era apropriada para a ginástica daquela época. Estava em um dia importante e, por mais que a maior parte das pessoas ficasse alegre, ela estava ansiosa de um jeito levemente negativo. Tinha inseguranças, medo de não se sair tão bem, e o nervosismo a consumia de dentro para fora. Se eu for ruim a mamãe vai jogar isso na minha cara pelo resto da vida, pensou consigo. reflexo, outra menina de mesma idade, idêntica a primeira. Essa era mais charmosa. Roupas coloridas, pulseiras e o cabelo solto.

— Por que você está tão hesitante, Holly? — Gwen perguntou, desabando em cima da cama. Ela a conhecia melhor do que qualquer pessoa no mundo inteirinho. — Achei que ginástica fosse seu sonho desde que leu sobre uma performance naquela revista que a mamãe pega com o jornal. Eu até ajudei a convencer ele a pagar suas aulas.

— E eu estou animada, só que... com um pouco de medo. Não sei o que esperar disso. Parece uma coisa difícil de se fazer.

— Só vai descobrir se tentar, irmã. — Ela se ergueu da cama e veio alisar os ombros tensos. Com um beijo na bochecha, confortou o coração de Holly. — Você se sai bem em tudo que faz. Mamãe pode não perceber isso, mas eu, Glenda e papai notamos todas as notas altas que tira na escola. Você ainda vai ser o orgulho dessa família, sabia? — Holly sentiu-se melhor com as palavras da gêmea. Elas se olharam por um momento pelo espelho e então ela teve certeza de que era capaz. Se Gwen disse que sim, era verdade. Tudo que ela dizia era. Uma buzina tirou as gêmeas de cabeça laranja do momento genuíno na frente do vidro.

— É papai. Vamos, Holly. — Falou a mais extrovertida. Ela estava com uma linda blusinha com mangas e cerejinhas bonitas.

A dupla dinâmica saiu do quarto com a futura atleta carregando sua bolsa e desceram porta à fora. Glenda, a empregada preta, apareceu para dar um beijo na testa de Holly. Ela segurou a mochila da pequena e deslizou um pote com sanduíche natural de pasta de amendoim para dentro.

— Boa sorte, filha.

— Obrigada, Glen. Vou dar o meu máximo. Prometo.

O carro simples onde um homem de bigode e aparência cansada esperava no volante. Apesar dos traços de cansaço, ele parecia muito grato e contente quando as meninas passaram pelo banco. Elas entraram pelo banco traseiro. O pai deu vida ao motor e eles partiram pelas ruas da pequena cidade de interior.

— Animada com a primeira aula de ginástica, meu amor? — O senhor Divine quis saber.

— Ela está se tremendo, papai. — Gwen desabafou. — Não sei porquê. Nós dois sabemos que Holly vai ser nota mil. — Ela nem sempre sabia o que estava dizendo, mas adorava ser positiva, porque Holly confiava no que era dito por Gwen.

— Claro que ela vai. Só precisa confiar mais em si mesma. — Aconselhou o homem.

— Obrigada, papai. — Harleen proferiu. — Vou tentar dar o meu melhor para que o dinheiro do senhor não tenha sido gasto sem motivo.

Ele confirmou pelo vidro do retrovisor, sorrindo, e voltou a ficar com enfoque na estrada. Miunstton não tinha acidentes, mas o senhor Divine era sempre muito perfeccionista e cuidadoso, evitando qualquer minúscula chance de entrar nas estatísticas negativas. As meninas jogaram uma brincadeira de bater palmas e cantar, algo que inventaram durante o tempo sozinhas em casa. Quando pararam em frente ao estúdio da Flowers, Holly ficou um pouco mais quieta. O pai e a irmã desceram do carro com ela. Uma mulher esguia de cabelo louro escuro preso a aguardava na entrada, sorridente como um girassol. Holly engoliu a seco. Gwen a abraçou e desejou sorte por um sussurro. Seria a primeira aula. Holly agradeceu pela carona ao pai e timidatamente se despediu da irmã.

Ultraviolência: FragmentosOnde histórias criam vida. Descubra agora