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          A frequência cardíaca acelerada quase me matou, mas eu não parei de avançar pelo asfalto para o fim da rua. Cada vez mais indo, adiante, sem parar. "Escorpianos são emotivos, mas evitam demonstrar essa parte, porque constantemente passam uma imagem de força... Intensos, muito ciumentos e possessivos. Eles têm essa necessidade absurda de controle, geralmente regida pelo medo da rejeição. E são ardilosos. Sabem exatamente o que dizer e o que fazer, de acordo com a fraqueza dos outros, claro. Adoram pegar o seu ponto fraco. Um dos signos mais manipuladores de todos.", Georgia disse isso para mim ontem e desde então eu tenho a evitado o máximo que eu pude. "São mestres em te ferir quando magoados, até porque eles amam uma boa vingança. No fundo, pessoas carentes que procuram cuidado e proteção... E para eles, principalmente os homens, é difícil lidar com uma mulher independente dentro de casa". Eu não quis saber de mais nada a partir daí. Como algumas características podiam bater tão certeiras com Howard Fletcher? Não era possível. No fundo, eu não admitia que era verdade.

Mas com relação a Ethel, tive mais suspeitas. "Peixes... Compassivos, dedicados, às vezes bipolares... Sabia que a maior parte dos atores e atrizes são desse signo? Eles têm um talento natural para fingimento e atuações de mentirinha... e acreditam no que estão fazendo como se fosse a realidade, mesmo que por um pequeno espaço de tempo. Não precisam nem ensaiar para ter um convencimento nato". Eu assemelhei Ethel. Georgia também me explicou poucos pontos positivos em Escorpião e Peixes, mas eu me apeguei aos piores, como toda boa capricorniana pessimista — ou realista. Sim, era besteira me doar a acreditar em astrologia tão de repente, mas agora que ingressei nisso, ficou impossível não comparar tudo e querer saber mais.

— Droga... — Enfim cheguei ao ponto final. Diferente de um muro, encontrei um alto portão de ferro branco. Nenhuma guarita ou modo de passagem a não ser por ele. E dois rapazes o vigiavam, os mesmos que vi alguns dias antes. Eram os únicos vizinhos além de Georgia, Ethel e o trisal. — Bom dia, vocês podem abrir pra mim? Preciso ir à farmácia.

Um deles, que tinha cabelo raspado, fez um gesto negativo.

— Não têm seu controle, moça? Se não, é impossível passar.

— E por quê?

— Porque perdemos o nosso. — O segundo respondeu rapidamente. — Mas cada morador recebe o seu quando entra aqui. Nós demos um ao seu marido.

— Fale com ele. — O careca instruiu, com uma cara de poucos amigos.

Eu me virei. Não era a coisa mais estranha do mundo que eles negassem abrir um portão? E perca de controle remoto? Quem acreditaria naquela falsária? Diferente de Ethel, péssimos atores.

***


Não era cisma minha, tinha alguma coisa acontecendo naquela droga de condomínio e eu descobriria o que era mais cedo ou mais tarde. E dessa vez não por Howard, porque de nada adiantaria confrontá-lo. Eu teria o mesmo resultado de todas as outras vezes. Mas o que quer que fosse o esquema ali, o porquê de não ter muitos moradores em casas tão boas e eu não poder sair como faria em qualquer outro complexo de casas no mundo, viria à superfície. Meu sexto sentido afirmava que eu estava correndo algum perigo, então seria bom fazer tudo com calma para não ser taxada de louca. O importante era não despertar alarde.

— Você está linda. — Fletcher roçou o nariz na minha nuca enquanto eu tombava o rosto para ajustar o segundo brinco de estrelinhas na minha orelha esquerda.

Nós iriamos passar a noite na casa de Cherrie, Carlos e Shani, bebendo e comendo petiscos. Escolhi um vestido verde de alças grossas e decote de coração, abaixo da metade da coxa e uma sandália de tira. Simples, nada espalhafatoso ou inadequado para a ocasião.

Ultraviolência: FragmentosOnde histórias criam vida. Descubra agora