CAPÍTULO NOVE

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O clima era de tensão.

Eu estava sentado em frente ao Sr Delacoir em seu escritório.

Já haviam se passado três dias desde que Ashley tinha me levado para conhecer a floricultura do avô. A decisão estava nas minhas mãos, já que o senhor Alfred disse que por ele, eu já estava contratado.

Naquele mesmo dia, cheguei na mansão Delacoir e logo contei a Laras, que me apoiou e disse que eu deveria aceitar, era uma oportunidade que poderia não aparecer novamente.

Estive pensando, apesar de no fundo meu coração e a minha mente já ter feito uma escolha.

Quando me peguei sozinho, refleti sobre toda a minha vida ali, e a única coisa boa que havia me acontecido era Laras, sem sombra de dúvidas. Ela era a amizade que eu levaria comigo para sempre, além, de ter sido a primeira mulher da minha vida e o meu primeiro amor.

Mas por outro lado, eu não podia negar que o que havia acontecido entre eu e Marie havia de certa forma, mexido comigo. Sim, eu estava meio apaixonado, ou talvez muito apaixonado.

Mas talvez, não por ela em si, mas por quem eu gostaria que ela fosse.

Ela não iria mudar, era nítido. Jamais trocaria toda a sua riqueza, a sua mordomia e confortos por mim. Ela jamais se apaixonaria por um negro.

Mas apesar de tudo, eu não podia deixar de ser grata a ela e aos pais por terem me dado um teto por todos esses longos anos. Ainda que, não tenha sido nada fácil de aguentar.

— Jake. — o Senhor Delacoir disse suspirando. — está me dizendo que vai se mudar é isso? Por quê arranjou um emprego?

— Isso, senhor. — afirmei ainda de cabeça baixa, sem jeito.

— Posso saber, onde ? — perguntou seriamente.

— Em uma floricultura, senhor. — disse e então o olhei.

— E por quê você quer sair daqui? Você está conosco desde sempre, é quase da família... — disse com um falso pesar.

— Eu agradeço tudo que fizeram por mim senhor Delacoir, reconheço que vocês foram muito importantes, senão eu não estaria aqui hoje, mas... eu quero tentar, viver sozinho, trabalhar... — disse juntando as mãos uma na outra, estava nervoso.

— Marie fez alguma coisa? — o homem perguntou, acendendo um cigarro.

— O q-quê? Não... claro que não senhor... — neguei rapidamente. — A senhorita Delacoir não tem nada a ver com isso.

Tinha sim. Mas ele não precisava saber.

— Você vai ficar bem? Você viveu a vida toda aqui. — ele perguntou seriamente. — É uma pena que você vai nos deixar, não sei o que está se passando em sua cabeça agora, Jake. Mas, eu tenho a consciência de que minha mulher e eu... fizemos tudo que podíamos, e até mais...por você... Nós o criamos, como um filho...

Filho? Tive vontade de rir, era engraçado. Eles me criaram como um escravo.

— Eu sei disso, mas eu vou ficar bem. Peço por favor que entenda minha decisão. — disse um pouco mais sério.

— Eu aceito, mas não entendo... — o homem me encarou.— Se é o que você quer...

Observei quando ele saiu detrás da mesa e caminhou até um pequeno armário que havia no canto da sala. Tirou de lá uma pasta preta e voltou para a mesa, logo pegando um envelope a me entregar.

Pude ver o nome da minha mãe e o meu escritos no envelope branco.

— São os documentos da sua mãe, e também sua certidão de nascimento e algumas fotos, pertenciam a sua mãe. — o Sr Delacoir disse sério. — Já que vai sair daqui, é sua responsabilidade cuidar deles agora.

Assenti concordando e tirei alguns papéis do envelope, e também uma foto.

Reconheci minha mãe e um bebê em seu colo, assim como um homem ao seu lado. Com certeza, o meu pai.

— Estou chateado Jake, profundamente chateado com sua decisão depois de tudo que fizemos por você. — o homem diz com um misto de irritação e chateação. — É uma pena que eu não possa lhe impedir, já que é maior de idade.

Não disse nada, mas guardei o que havia pegado de volta no envelope e me levantei.

— Eu sinto muito senhor, mas essa é a minha decisão. Peço licença para me retirar, preciso arrumar as minhas coisas. — disse ao homem que assentiu ainda meio perdido.

A casa grande jamais estará preparada para perder alguém da senzala.

[...]

Enquanto olhava a paisagem através da janela do carro, senti uma mão tocar de maneira delicada meu joelho, então me virei para olhá-la.

— O que foi, está arrependido? — me perguntou com um leve sorriso e neguei.

— É só que...parece que estou sonhando...não parece real...eu realmente saí de lá... — disse ainda confuso e aliviado.

— Sim, você saiu. — ela sorriu largamente. — Estou tão feliz por você.

— Obrigada Ashley, eu não teria conseguido sem a sua ajuda. — disse porque era verdade, era graças a morena que eu havia conseguido sair da mansão.

— Você não precisa agradecer, eu fiz o mínimo. — ela suspirou e se concentrou na estrada.— Como eu disse, você pode escolher, ficar com o vovô na casa dele ou...ficar comigo no meu apartamento.

— Bom, eu... — não sabia o que dizer. A melhor opção com certeza era ficar com o senhor Alfred, pois seria estranho ficar só nós dois no apartamento dela.

— Eu sei no que está pensando. — ela sorri de lado sem me olhar. — nós dois no meu apartamento, mas olha... não tem nada demais nisso, meu apê tem três quartos, então não vamos dormir juntos nem nada do tipo, eu só acho que seria melhor pra você ficar comigo, mais divertido... — ela sorri.— Eu amo o meu avô mas...

— Entendo.— arrisquei a sorrir um pouco.

— E além disso, você não vai morar comigo pra sempre, é só até encontrarmos um lugar pra você. O que me diz? — ela insiste e eu acabo cedendo.

Talvez, a experiência ruim que tive com Marie estava tentando me bloquear com Ashley pois o tempo todo eu pensava que a morena ia querer algo em troca.

Sexo em troca. Então, eu estava sempre na defensiva.

— Não precisa ficar sem jeito, juro que vou fazer de tudo para não te deixar desconfortável, eu prometo. — ela sorriu.— E para comemorar sua liberdade, vamos tomar um vinho hoje, você já tomou?

— Nunca. — eu neguei enquanto voltava a olhar a paisagem pela janela.

Paris sempre foi linda, mas naquele dia estava bem mais. As ruas pareciam muito mais movimentadas e alegres, o tempo estava ensolarado e muitas crianças tomavam sorvete com suas mães.

Bom, eu não podia tomar sorvete com a minha mãe, mas em compensação, a partir daquele dia poderia não só tomar sorvete sozinho, como vinho e qualquer outra coisa que eu quisesse.

Era como se eu tivesse adquirido, minha carta de alforria.


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Gente socorro, a luz foi embora aqui na minha cidade, tá chovendo horrores KSKSKSKSKSKSK sem internet, aproveitei pra escrever.

🫀




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