Wednesday estava confortável. Havia trazido fones de ouvido e há alguns minutos ouvia imóvel a orquestra de cisne negro. Ela tinha uma boa razão para estar de fones. E as batidas em seu ombro a aborrecia gradativamente. Mas, eventualmente, aceitou que estava fadada a encarar sua realidade e retirou os fones, os dedos de Mãozinha a cutucava como um sinalizador. E ele sinalizava aquilo que Wednesday pôde ouvir assim que retirou os fones.
- Ai meu Deus! Ai meu Deus! Ai meu Deus! O que é que eu estou fazendo aqui? Por quê eu fui inventar de fazer essa loucura? Agora minha namorada está morta e eu não consigo sair daqui!
- Enid, acabe com esse drama. - falou em seu tom habitual, imparcial e apático
- Wednesday! Graças a Deus você está aí! O que houve com você?
A menina batia com as mãos na gaveta ao seu lado, realçando a impaciência dentro de si.
- Você não calava a boca. Então coloquei fones de ouvido.
- Você estava ouvindo música este tempo todo?! - gritou entre os dentes, enraivecida
- Se não falar mais baixo, seremos pegas. E você prometeu que...
- Eu sei. Eu sei. Mas eu prometi fazer isso com você. E você simplesmente sumiu.
- Eu estou bem do seu lado.
- Eu não estou te vendo! Ok? Esse espaço? Muito apertado. E olha que eu queria dividir uma com você. Eu estou aqui tem vários minutos e...
A loira é interrompida pelo abrupto movimento de Wednesday ao abrir a porta da gaveta e puxa-la para fora. Ela não esperaria Enid terminar de surtar pra tira-la daquele martírio, por isso havia saído sem delongas de sua própria gaveta.
- Eu disse que você não iria aguentar. - alertou - Gavetas de necrotério é o meu lance, como você diria. Não o seu.
- Eu prometi e eu consigo.
- Está deitada imóvel mesmo do lado de fora. E não para de tagarelar enquanto eu tento apreciar.
- É, mas você estava...
- Vamos embora.
- Não. Não... Wednesday. Ainda faltam cinco minutos.
- Você já fez o que prometeu. Não é necessário ficar aí se você está com medo e com nojo.
- Não, Wedneday. - a menina puxou a mão dela para si desesperadamente - Eu consigo. Eu juro. Só não fique em silêncio. Achei que tinha morrido aí dentro.
- Você não achou. Senão teria saído e tentado me reanimar.
Enid buscava por outra desculpa no fundo de sua mente, mas não admitiria que entrou em pânico.
- Só mais uma chance. Eu vou ficar na minha. Prometo.
Ela estava miserável, Wednesday podia ver. Mas não desistiria. E embora estivesse sendo tola, reconheceu que tal atitude a fizera sentir vontade de recompensa-la. Então se inclinou para frente e a beijou nos lábios. Logo a latina pôde sentir a mão grande e gelada de Enid em sua cabeça, a mantendo o mais perto possível. E sentiu a temperatura do próprio corpo subir, e assim desejava que também estivesse acontecendo com a loba.
Ao se desvencilhar de seus lábios, ergueu-se e a observou. Os olhos da loira pareciam tranquilos, transformados, perdidos em um mundo terno e caloroso.
- Irei recompensa-la.
Enid não a respondeu, apenas continuou a encarando, até finalmente sorrir.
- Me joga logo pra dentro. Sei que quer fazer isso.
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It's what Friends do
RomanceDe volta à Nevermore para mais um ano do que Wednesday considerava uma tortura peculiar, a filha mais velha dos Addams precisa enfrentar as consequências daquele ano que se passou. Seja do interesse primitivo de aproximação dos novos "amigos", seja...