It's what Friends do

Mother of Woe

          O dia estava pesaroso, e isso trazia à Wednesday um sopro reconfortante. O caminho de volta à Nevermore nunca esteve tão silencioso, Tropeço dirigia o grande carro dos Addams e Mãozinha balançava nos ombros da menina. Estava encarando aquelas mensagens novamente. Aquelas de quem a perseguia. E mal podia esperar para enfrentar seu novo inimigo e, quem sabe, com uma pitada de sorte, estar cara a cara com a morte novamente.

Xavier estava em uma daquelas fotos. Será que o garoto resistiria a mais uma rodada de investigações e desconfianças sobre ele? E, além de seu número estar naquele celular, quem mais teria seu número? Bom, àquela altura, talvez, toda Nevermore. Principalmente dado às milhares de mensagens que recebeu de sua colega de quarto. Ou, talvez, sua melhor amiga.

Revirou os olhos. Afinal, aquelas palavras ainda lhe soava nauseantes. Havia mesmo uma melhor amiga em sua vida? É evidente que tinham evoluído em seu relacionamento mas amigos é pra quem ousa confiar. E melhores amigos é pra quem ousa ser tolo o suficiente para se permitir cegar e esquecer completamente a razão.

**

         Diferente de sua primeira vez no prédio, ao perceberem sua chegada, diversos olhares saudosos e sorrisos genuínos se puseram sobre ela. Aquilo a enojava. Mas apesar dos pesares, sentia falta do cheiro de mofo e dos perfumes exagerados em Nevermore. Agora, porém, havia um único mistério que cercava sua mente: quem estava sob o comando de Nevermore após a morte da antiga diretora? Ao olhar mais atentamente, percebeu e ouviu alguns burburinhos que a revelava que não era a única que se questionava.

        Ao subir suas malas ao dormitório Ofélia, que era, de longe, o menos glamuroso entre os demais, abriu a porta e sentiu a pesada lufada de perfume que lhe invadiu as narinas. Enid. É óbvio.

Adentrou calmamente, verificando sorrateira o outro lado do quarto. Enid não estava ali, mas deixou seu cheiro bem registrado. Sequer sabia se iriam ser colegas de quarto novamente, mas, sem admitir a si mesma, sentiu uma onda de conforto e pequena euforia ao ver o mar colorido que era o outro lado do quarto. Até mesmo pensou duas vezes em vir com aquele vestido, por causa de Enid, que deixara claro que não havia se agradado dele. Mas não se delongou em se apossar de seu lado do quarto, satisfeita com a falta da faixa no meio delas. Ou melhor, no meio do quarto. E aproveitou para instalar sua máquina de escrever e adicionar em seu romance novas ideias que acabara de obter ao adentrar o lugar.

- Aí está você. Eu devia saber que estava se escondendo de novo. - ouviu uma voz madura demais para ser a de Enid, mas era ela, não precisava sequer checar. Olhou para o seu relógio na escrivaninha e percebeu que já se passara trinta minutos desde que havia sentado ali. O tempo voou como um corvo sorrateiro e sequer havia notado - Tem alguém lá embaixo que quer muito te ver.

- Deixe-o querer. Já não basta as inconvenientes mensagens que me mandou durante o recesso.

- Me assusta ver sua frieza com ele. Embora seja fria com todos aqui.

- Xavier é bem crescido, vai superar.

- Eu não estava falando do Xavier. - aquela pequena pausa deu a Enid o que ela supôs ter sido um vacilo da amiga, a máquina de escrever não mais batucava pelo quarto - Falo do Eugene.

Um quase sorriso florou no rosto de Wednesday, mas se levantou quase de imediato. Assustando Enid com sua euforia contida. Os olhos escuros e atentos de Wednesday dava a ela um conforto conflitante, estava com saudades daqueles olhos. Daquele olhar. Na verdade, morria de saudades internamente. E sua vontade era de se jogar nos braços dela novamente. Mas não o fez.

- Oi, colega de quarto. - disse com tom de vitória, agora com Wednesday a encarando de volta, e se aproximou para que estivessem frente à frente - Percebi que organizou suas roupas sem mim. Achei que, como te ajudei a arrumar quando saímos, deixaria eu fazer de novo quando voltamos.