Busco por algo no baú que guardo minhas coisa que menos uso, e um vestido para um baile é um deles. Nunca precisei usar isso, contudo sei que tenho vestidos sociais, ou pelo menos uma roupa adequada para um aniversário de uma pessoa da alta classe.
Abro um sorriso ao, por fim, encontrar um vestido amarelo no fundo do baú. Hoje deve ser meu dia de sorte.
Já participei de bailes parecidos, eu vivia em boas condições antes da guerra, meus pais tinham uma boa condição, porém, infelizmente, a empresa do meu pai declarou falência depois de um ataque a fábrica. Claro que tenho raiva de tudo que aconteceu, se não fosse a guerra a minha vida seria totalmente diferente.
Experimento o vestido de mangas longas, perfeito para o frio da Alemanha, com decote em V. Coube perfeitamente em mim, mesmo que eu tenha perdido peso depois que cheguei em Berlin, afinal a comida daqui não é das melhores.
Observo meu reflexo no espelho. Quanto tempo que não me via assim, totalmente arrumada, sem um jaleco e uma pasta na mão. Que loucura.
Arrumo meu cabelo em um coque, casual o suficiente para a ocasião, e em meus pés calço um salto branco que também encontrei em uma de minhas malas. Espero que não seja convidada para bailes assim novamente, já que estou usando minha única roupa casual agora.
Passo em meu rosto o resto de maquiagem que sobram na minha penteadeira, algo que quase nunca uso, contudo o momento pede por isso. Olho para o remédio da parede, que agora ocupa o espaço a cima da porta, são quase sete horas da noite, provavelmente o carro já deve estar chegando. Será que Johann já está pronto?
Saio do meu quarto, cruzando até o outro lado do dormitório, já que o seu quarto não é muito longe do meu. Eu espero muito que ele não tenha desisto de ir. Conviver com o soldado é sempre uma caixinha de surpresas.
Dou algumas batidas na porta, esperando por uma resposta. Não quero ser invasiva e apenas entrar no seu quarto sem sua permissão. De repente, Johann sai de seu aposento, me assustando com sua tamanha altura que agora cruza em minha direção.
Johann, como um bom soldado, esta trajado com um terno verde oliva, e em seu blazer alguns broches de patentes são exibidos com muito orgulho. Ele ajeita o quepe em sua cabeça antes de me olhar de cima a baixo, com desdém, como se eu estivesse vestida como um palhaço.
— Pelo visto, encontrou algo descente para vestir.
— Digo o mesmo de você, Johann. — Forço um sorriso.
Como alguém pode me irritar tanto? Eu juro que se tivesse outra escolha não iria com ele a essa festa.
— Vamos logo, o carro já deve estar nos esperando. — Saio em sua frente, supondo que ele está me seguindo.
Com seus passos longos, rapidamente Johann consegue me alcançar, ficando ao meu lado.
— Tem medo de se perder? — Provoco-o.
— Não, mas tenho medo de perder você. Com esse tamanho pode ser confundida com as formigas.
— Idiota. Eu tenho um tamanho normal para uma mulher inglesa, é você que é muito alto.
Vejo um sorriso de canto se formar em seus lábios. Talvez eu esteja conseguindo amolecer seu coração de pedra. Sei que Johann é um bom homem, apenas está em um momento difícil, assim como todos nós.
Na recepção do hospital, vejo pela porta três Jeep militares, em comboio. A primeira e a última tem uma bandeira da Alemanha presa próxima aos refletores. Isso não vai chamar muita atenção? As pessoas não se revoltarão na rua ao ver um carro do exército circular por aí? Aposto que sim.
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Estação Balham
RomansaNo fim da Segunda Guerra Mundial, Miranda Reed - Uma psicóloga recém formada - se muda para Berlim com a intenção de trabalhar em um hospital psiquiátrico que acolhe ex-soldados de guerra com traumas devido ao combate. Johann Goldmann, ex-piloto da...