Lentamente abro meus olhos e o clarão da luz invade meu olhar. Onde estou? Tento buscar por algo ao meu lado, pelo visto estou em um quarto, contudo não acredito que estou no hospital. Olho em volta, há um pequeno criado mudo do lado da cama onde há um copo de água. Me estico para pegá-lo, mas quando minhas mãos finalmente alcançam o copo, alguém agarra meu pulso, tirando a taça de mim.
— Isso não é adequado para beber.
Pela voz, não há quem não consiga reconhecer. Johann.
— Estou com sede.
— Vou pedir para que alguém traga água para você.
Minha cabeça dói, é como se um caminhão de toneladas tivesse passado por cima de mim. Como isso foi acontecer? Como sempre, a ignorância de Johann nos levando a mal lugares. Maldito momento em que decidi vir para essa festa. Como vou trabalhar amanhã? Eu preciso de psicológico para atender alguém e isso, definitivamente, é algo que não estou tendo agora. É incrível como Johann consegue sugar toda a minha energia e pelo visto, agora, ainda consegue me machucar fisicamente.
— Onde estamos?
— Esse é o quarto de hospedes da casa da Evelyn. Você torceu o tornozelo, fiz uma atadura, mas recomendo que vá ao médico quando chegar na cidade.
— Como se existisse médico nesse lugar. — Sussurro, tentando me levantar.
— É melhor ficar deitada, do que adianta sentar? Você não pode andar.
Eu juro que vou matar esse homem.
— Culpa de quem?
— Sua. Preste mais atenção na próxima vez.
É sério isso? Ele ainda diz que é minha culpa? Johann é a pessoa mais egocêntrica que conheci, não consegue assumir seus erros nem por um segundo. Eu estou cansada disso, estou prestes a abandonar seu caso de vez, pouco me importo se ele vai parar em um manicômio. Se nem ao menos ele parece se importar, quem sou eu para sentir o mínimo de pena?
Johann se afasta de mim, indo até o móvel próximo a janela. Não consigo ver o que ele está fazendo, contudo observo que seus músculos se movimentarem. Quando ele finalmente vira, está com um copo d'água em suas mãos. Ele se aproxima novamente, entregando-o em minha mão.
— Obrigada.
Johann acena com a cabeça.
— Só vamos voltar para a cidade amanhã, é tarde demais para irmos.
— Amanhã?!
— Sim, algum problema?
— Como vamos avisar ao diretor?
— Não se preocupe com isso.— Ele se aproxima da cama, sentando-se na beira. — Agora, feche os olhos e durma. Vai se sentir melhor amanhã.
— E você?
— Vou dormir no chão.
— Não! — Percebo que falei alto demais, logo me recomponho: — Não, esta cama é grande o suficiente para que eu divida espaço com você.
Ele abre um sorriso debochado, algo que tem especialidade em fazer.
— Não somos casados para dormimos na mesma cama.
— Você é cristão?
— Não praticante.
— Então do que se importa? Em situações como essa é possível abrir exceções.
— Miranda, eu estive na guerra por anos, sei muito bem dormir no chão.
— Se você diz... não se arrependa depois.
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Estação Balham
Roman d'amourNo fim da Segunda Guerra Mundial, Miranda Reed - Uma psicóloga recém formada - se muda para Berlim com a intenção de trabalhar em um hospital psiquiátrico que acolhe ex-soldados de guerra com traumas devido ao combate. Johann Goldmann, ex-piloto da...