Capítulo 4

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Eu não consigo descobrir quase nada sobre o Johann durante as consultas, na maioria das vezes tenho que observar suas ações durante o dia, quando não está dentro da sala comigo. Vejo-o pela janela de meu quarto andar pelo pátio ao lado do hospital, seus passos são difíceis e seu corpo parece tremer ao andar. Mais espasmos. Nunca tinha o visto tendo isso ao andar. Johann para por um instante, ele encara o homem à sua frente, antes de de repente partir correndo, agarrando as pernas do interno, o jogando no chão e socando seu rosto. Os guardas do hospital usam o apito para chamar a atenção de Johann e correm para o tirar de cima do outro indivíduo. O que você fez, Johann?

Comportamentos agressivos

Os guardas, com muita luta, conseguiram tirar Johann de cima do outro paciente. Ele não tinha motivos aparentes para fazer isso, o que realmente aconteceu? Preciso fazer ele falar algo, me dizer o que realmente está acontecendo. Alguém bate na porta, e eu me viro para, deixando de lado a cena que estava observando.

— Pode entrar. — Digo.

A maçaneta se vira e George entra em meu quarto, perguntando:

— É seu dia de folga hoje, não é?

— Sim. — Respondo, voltando meu olhar para a janela, mas Johann não está mais no pátio.

— Você quer sair para andar um pouco?

Viro-me para ele, tentando acreditar em suas palavras. George está me chamando para sair? Aqui? No estado que se encontra essa cidade?

— Agora?

— Quando mais seria? — Ele dá de ombros.

— Você realmente sai para caminhar pelas ruas de Berlim? Sem medo dos soviéticos?

— Sim. Nós não somos alemães, os soviéticos não podem fazer nada com a gente. Venha comigo e você verá como é bom sair um pouco para respirar de vez em quando.

Penso por um segundo, apesar de ser meu dia de folga eu não consigo me desligar do meu trabalho, ainda mais nessa cidade. Berlim está totalmente destruída, as pessoas lutam para ter o que comer, eu não quero sair e ter que me deparar com essa cena. De qualquer forma, decido aceitar o convite de George, talvez sair um pouco vai me fazer pensar melhor no caso de Johann.

— Tudo bem. Vamos ver no que isso vai dar.

— Não leve nada de valioso com você. De preferência, não leve nada.

— Claro. — Sorrio.

Pego minha boina no cabideiro ao lado da porta e ajusto em minha cabeça, reforçando o nó da gravata logo em seguida. Sigo George pelos corredores, tentando sempre manter uma distância ao seu lado, não quero que as pessoas deduzam que somos um casal. Do lado de fora do hospital a Alemanha continua a mesma e, sinceramente, me admira que George gosta de sair para caminhar, afinal não é uma das melhores visões para se ter logo de manhã.

— Porque gosta de sair aqui? — Pergunto, observando os escombros do que, um dia, foram prédios.

— É bom para refletir.

— Refletir em um lugar assim?

— Não consegue admirar a beleza da guerra?

Eu paro imediatamente. Como assim observar a beleza da guerra? Desde quando a guerra tem uma beleza para se admirar? Parece que o psiquiatra do hospital está precisando de um psicólogo.

— Beleza da guerra? — Ironizo, rindo de desespero.

— Sim.

— Desde quando a guerra tem uma beleza?

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