Quatro semanas vendo Johann todos os dias e não temos nada de novo, ele simplesmente continua a me ignorar todas as vezes que pergunto algo. Ele tentou me desligar de seu caso na semana passada depois do que aconteceu na sala do castigo, porém o diretor não permitiu.
Como em mais um dia estou em sua frente, batendo o lápis no fichário de madeira que prende o papel com suas informações, o qual não tenho quase nada anotado. Johann, diferente dos outros dias, não está deitado ou dormindo, apenas está me encarando fixamente. Apesar de estar parado, parece que seu corpo nunca quer repousar totalmente, é como se ele tremesse descontroladamente. Os dedos tocam a palma de suas mãos repetidamente, sem descanso algum.
Levanto-me da poltrona e me aproximo dele. Johann me acompanha com o olhar, contudo não diz uma palavra.
— Posso tocar em você? — Peço permissão.
— Para quê?
— Quero tentar fazer com que seus espasmos melhorem.
Estudei na faculdade que massagens melhoram espasmos musculares. Apesar de que não sou a pessoa especializada para fazer isso, ainda assim é uma boa tentativa. Encosto em seu deltóide do braço esquerdo e desço até o bíceps fazendo uma leve massagem no local. Como Johann quase sempre tem espasmos nos braços, acho que devo começar por aqui.
— Está sentindo algo? — Pergunto.
Ele negou com a cabeça.
— Você é minha psicóloga, deveria estar me fazendo perguntas e não massagens. — Ele olha para o braço onde massageio.
— Eu sei, mas você nunca responde minhas perguntas.
— Eu já disse que não quero ser tratado.
— E prefere continuar assim para sempre?
Johann não responde nada, apenas ergue o olhar e me fita de cima a baixo. Parece que seu limite diário de palavras acabaram. Ele mexe o ombro, encaro isso como um aviso de que devo parar com a massagem, logo desisto. Não importa o que tento fazer, sempre pareço estar errada.
O relógio desperta mais uma vez, indicando o fim de mais uma sessão que, como sempre, não teve muito resultado. Johann, quando você vai me ajudar a te ajudar?
— Até mais, Johann. — Digo, antes de sair da sala.
Caminhando apressadamente pelo corredor, nem ao menos percebo quando uma bela moça de cabelos negros e olhos esverdeados surge em meu caminho. Nós nos esbarramos e eu deixo cair a pasta que carregava em meus braços. As informações dos pacientes se espalham pelo chão e eu logo me abaixo para os pegar antes que alguém veja algo.
— Me desculpe, senhora. — Peço perdão, sem nem ao menos levantar a vista.
Vejo o braço feminino, que veste uma luva branca, alcançar o chão, pegando justamente a ficha de Johann.
— Senhora... — Ergo a visão e o par de olhos verdes que a garota trazia me parece demasiadamente familiar.
Hoje é quarta-feira, dia de visitas e não me surpreende que tenha pessoas transitando no hospital, mesmo que não sejam muitas. Observo as roupas da jovem moça, não se parece muito com as que alemãs usam atualmente. É chique e devidamente arrumada. Com casaco de lã e saia combinando, os dois na cor rosa, que dão harmonia à luva em sua mão. O cabelo devidamente arrumado em uma boina, com joias espalhadas pelas mãos, braços e pescoço. Nem uma pessoa em sã consciência viria à Alemanha com esse luxo.
— Você conhece Johann? — Ela pergunta de repente.
— Sou a psicóloga que está encarregada por ele.
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Estação Balham
RomantikNo fim da Segunda Guerra Mundial, Miranda Reed - Uma psicóloga recém formada - se muda para Berlim com a intenção de trabalhar em um hospital psiquiátrico que acolhe ex-soldados de guerra com traumas devido ao combate. Johann Goldmann, ex-piloto da...