Capitulo 3: Quem sabe

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Nicoly Munhoz point of view

Após organizar o estoque e cuidar da limpeza da loja, abri as portas e encarei uma manhã cheia de clientes. Quando meu estômago começou a reclamar, não perdi tempo e corri para a praça de alimentação. Escolhi um restaurante de comida baiana e pedi meu prato clássico de segunda-feira: Arroz de Hauçá, com arroz cozido, leite de coco, carne seca e azeite de dendê.

Sentada em uma mesa mais afastada, mergulhei meu olhar no prato. Foi aí que senti uns olhares intensos. Levantei o rosto e me deparei com aqueles olhos castanhos me encarando profundamente. Ficamos uns 15 segundos nesse "olha olha", mas ele simplesmente virou as costas e foi embora.

Fiquei ali, encarando a nuca dele, os membros longos e os músculos tonificados, deixando meus dedos coçando para tocá-lo. Ai, preciso dar um basta nisso. Desejar o Pedro está quase virando gostar dele, e ainda não estou pronta para essa porta, se é que algum dia estarei.

Restou só a frustração, querendo mais daqueles olhos.

Quase levantando para levar meu prato, eis que o Pedro se senta na minha frente. Uma agitação toma conta de mim, feliz por vê-lo.

- Oi, Linda - ele diz, colocando um copo de açaí na minha frente. - Trouxe para você.

- Por quê? - pergunto suspeita, sem responder ao aceno.

- Eu queria comprar algo pra você, vi que já estava almoçando, daí o açaí, como sobremesa.

- Tá tentando me cortejar? - pergunto, sorrindo.

- Bingo, linda.

- Valeu pelo açaí.

- Falando em comida, quando vai ser?

- Vai ser o quê, doido?

- Nosso encontro, linda. Tava pensando em um restaurante perto da praia, fim de tarde.

- Legal o plano, mas sem chances, lindo.

- Isso é um nunca?

- Talvez, um quem sabe.

- Não desisto fácil, linda. - Um grandão musculoso chega.

- Já podemos ir, parça? - o musculoso fala.

- Porra, gordinho, tô cortejando minha gata aqui, não me atrapalha.

- Foi mal aí, cuzão - ele diz e me olha. - Aí, suave?

- Suave - respondo. - A gente já acabou aqui, já tô indo.

- Tá doida? Não acabamos porra nenhuma.

- Tchau, lindo. - Levanto da mesa e sigo até a loja.

O restante do dia segue tranquilo, estou organizando minhas coisas para ir para a faculdade. Às vezes, as pessoas pensam que já tenho tudo na vida por ter conquistado algumas coisas, mas a realidade é diferente. Alguns dizem que foi sorte, mas a verdade é que meu pai nos trouxe da Bahia em busca de um futuro melhor. Ele batalhou muito, minha mãe não estava presente, e minha irmã assumiu o papel de mãe em casa. Eventualmente, meu pai se cansou, e minha mãe voltou para a Bahia.

Meu pai é mecânico, minha irmã Naiara é costureira, e meu irmão Nicolas é barbeiro. Todos têm seus próprios negócios. Enquanto isso, estou prestes a me formar como pedagoga.

Se me perguntassem alguns anos atrás se era meu sonho, eu teria dito que não. Eu queria ser bióloga, mas a vida me mostrou que esse não era o meu destino. Descobri que nasci para trabalhar com crianças, talvez influenciada pela falta de atenção que senti da minha mãe na infância.

Meu erro Onde histórias criam vida. Descubra agora