Capítulo 11: "Gosto quando você me olha"

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Nicoly Munhoz point of view

Desde aquela maldita festa de ontem, não consigo me livrar do que aconteceu no banheiro. Ele simplesmente mexeu comigo de uma forma que eu não consigo explicar. Por mais que eu tente focar no trabalho, minha mente sempre volta para aquele momento.

Respiro fundo e tento organizar meus pensamentos, mas é inútil. Como alguém pode me deixar tão confusa com meus sentimentos assim? Eu quero tanto, mas ao mesmo tempo tenho tanto medo.

Ele fez exatamente do jeito que eu gosto. O problema é que agora estou me sentindo vulnerável. Nunca fui boa em lidar com esse tipo de coisa. Sempre preferi manter meu coração e meus desejos sob controle, mas agora tudo desandou.

Eu ainda sinto o calor daquele momento, a forma como ele me olhava, como me tocava. Parece que estou vivendo em um filme, mas sei que é real. Só não sei o que fazer com isso.

Tenho medo, medo de me entregar, medo de me machucar, medo do desconhecido. Mas ao mesmo tempo, quero mais. Quero entender o que está acontecendo comigo, quero explorar esse lado desconhecido de mim mesma.

O tempo na loja voou, e após uma rápida passagem pela papelaria, repleta de evas e fitas coloridas, segui em direção à faculdade. Ao chegar, me deparei com Bruna, animada com o início do estágio, algo que eu tinha esquecido completamente.

A necessidade de enviar uma mensagem para minha patroa e pedir demissão se tornou evidente; era impossível conciliar o estágio e o trabalho na loja.

A cena do banheiro ainda ecoava na minha mente, obscurecendo o pensamento sobre o essencial.

Era hora de retomar o controle da minha vida.

O tempo na faculdade passou tão rapidamente quanto na loja.

Ao retornar para casa, encontrei-me na cama, perdida em pensamentos sobre aquela maldita cena do banheiro.

Meu celular interrompeu meus devaneios, exibindo o número de Pedro Henrique. Respirei fundo e atendi.

"Oi," disse eu.

"Boa noite, princesa. Está em casa?" perguntou ele.

"Estou sim, por quê?"

"Quer ir comer alguma coisa? Terminei o show agora pouco e queria te ver."

Aquelas palavras arrancaram de mim um sorriso sincero.

"Promete que não vamos voltar tarde?" perguntei.

"Claro, marca 10 que já estou aí."

Desliguei a ligação e comecei a me arrumar. Prendi meu cabelo em um coque baixo, vesti um vestido branco com detalhes verdes e uma papete preta. Adicionei um colar e um brinco de ponto de luz, e antes que percebesse, o interfone anunciava que ele já estava embaixo, pedindo para que eu descesse. E assim fiz.

Chegando perto do carro, Pedro abaixa o vidro para eu entrar. Faço uma cara feia, e ele já saca, descendo para abrir a porta.

Meu pai sempre dizia que tenho que pedir muito, porque pouco não basta.

Entro no carro, ele fecha a porta, e o cheirinho do perfume do Pedro me faz sorrir. Adoro homem cheiroso. Ele senta, dirige, e a gente vai conversando sobre várias coisas.

Só que percebo que estamos meio longe do normal e pergunto:

- Pedro, tá me levando para onde, cara?

Ele responde meio bufando:

-Cara são teus amigos, preta. Só aceito vida e amor.- Dou risada.

- Desculpa, moreno, mas vamos para onde, em?- pergunto rindo.

-Já andamos uns 35 minutos, e tu vem perguntar agora? Prometo que vai gostar, preta.- Eu só concordo, curiosa para saber o que vem por aí.

Pedro sempre me surpreende, suas atitudes nunca são previsíveis. Quando penso que ele vai agir de uma maneira, ele faz exatamente o oposto. Não sei se isso me assusta ou me alegra. Pedro tem uma energia intensa, vive tudo de forma vibrante, e isso me fascina.

Ele me olha com um sorriso malicioso e pergunta

- Isso está te enlouquecendo, não é?

- Um pouquinho, vai que você é um maníaco me sequestrando.- brinco.

Ele solta uma risada sincera, e em breve, chegamos a um restaurante afastado da agitação de São Paulo. Ao sair do carro, noto Pedro me observando de cima a baixo.

-Você está maravilhosa. Enquanto te olhava saindo do seu prédio, eu tentava decidir se quero te exibir ou te cobrir com um lençol para que ninguém mais olhe para você.

Sorrio e pergunto:

-E?

- Eu quero te exibir. Mas talvez rosne caso alguém fique olhando por mais tempo do que é considerado educado.

Rimos, e eu elogio a beleza dele também. Antes de entrarmos no restaurante, ele pede um beijo. Achei que ele estava brincando até sentir sua mão me puxar pela cintura, nossos corpos se encontrando, e seus lábios nos meus. Foi um beijo cheio de paixão, como se fôssemos as únicas pessoas no mundo.

Pedro me solta, puxa meu lábio inferior com os dentes e usa o polegar para limpar abaixo do meu lábio.

- Pronto, agora podemos entrar.- ele diz, me guiando para dentro.

O restaurante é escuro, e seguimos até um pequeno pátio surpreendente, com uma árvore decorada com luzinhas cintilantes. Sentamos, a garçonete nos entrega o cardápio de vinhos, e Pedro puxa uma cadeira para mim.

-Isso é tão inusitado. Eu não fazia ideia de que havia um espaço ao ar livre. É tão lindo. Estou feliz por ter vindo- comento.

Ele pergunta se eu pensei em não vir, e eu tento minimizar dizendo que não teria deixado ele plantado.

- Mas você pensou em não vir?- ele insiste.

Balanceio a cabeça.

- Eu sempre questiono tudo, fico pesando prós e contras.

- Me fala os seus prós e contras para essa noite.- ele pede.

- Você só quer ouvir os prós para massagear seu ego.- respondo, provocando um sorriso dele.

- Normalmente, isso seria verdade. Mas, quando se trata de você, estou mais curioso para saber os contras. Se eu não souber o que está quebrado, não tenho como consertar.

- É segredo de estado.- brinco.

- Ridícula. ele diz, arrancando uma risada sincera de mim.

O garçom apareceu para servir nosso jantar. Optamos por peixe grelhado e risoto à milanesa com aspargos e camarão. Meu estômago roncou só de olhar para os pratos sendo colocados à nossa frente. Pedro dividiu os pratos e me entregou um, e eu salivei, ansiosa para saborear aquelas delícias.

Ao longo das horas seguintes, conversamos sobre diversos assuntos. Pedro compartilhou histórias engraçadas de sua infância, arrancando risadas sinceras de mim. Pedro paga a conta. E pega minha mão e me guia até o carro dele, abrindo a porta para mim, o que me arranca um sorriso.

Nessa noite, ele conseguiu arrancar muitos sorrisos de mim. Que garanhão, pensei, divertida com a situação.

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