002

105 10 14
                                    

Desde criança, o rei sempre dormir muito pouco, no máximo umas três horas por noite. Ao contrário do que se possa pensar, a falta de sono não o prejudicava. Estava sempre bem disposto e ainda aproveitava as horas a mais para a leitura, sua grande paixão.

Tinha uma rotina. De madrugada ainda, após dormir o que julgava suficiente, pegava o livro, deixava seu quarto e ia para o jardim particular. Lá acendia duas tochas penduradas no muro que dividia com seu vizinho, o Han, sentava em um banco de madeira e lia até o amanhecer.

Numa dessas madrugadas, no final da primavera, descobriu que uma pessoa o observava parcialmente oculta atrás de uma pilastra. Surpreso, olhou em sua direção. Ninguém ia ao Jardim; Todos sabiam quanto o rei valorizava sua privacidade naqueles momentos de leitura.

— Quem está ai? —intimou.

Era uma moça alguns anos mais nova do que ele. De pele muito clara, como se há tempos não tomasse sol, era pequena, delicada e gordinha.

— Oi... —ela murmurou, timidamente.

Viera de dentro do palácio real, mas o rei não se lembrava da moça, de um lugar nenhum. Talvez fosse uma criada que ainda desconhecesse as regras da casa. Seu vestido simples apenas confirmou a teoria.

Ela usava os cabelos escuros trançados com capricho. E parecia ter sido lavado há pouco, não compartilhando o péssimo hábito de evitar os banhos. Esse pensamento o fez sorrir.

Diante de sua reação, ela se animou e saiu do esconderijo.

— Sobre o que é o livro? —perguntou.

— É uma novela de cavalaria. —o mesmo responde.

— Há príncipes e princesas? —a mesma, pergunta curiosa.

— Vários. —responde com boa vontade.

— E pergos?

— Muitos.

Quando se deu conta, o rei falava pelos cotovelos sobre o livro, o que geralmente acontece quando se gosta de uma história.

— Desculpe. —ele disse.— Falo demais quando me em polgo.

— Tudo bem. —sorriu.— É bom ouvir a sua voz. —diz timidamente.

— Posso emprestar o livro se você quiser. —o rei ofereceu.

— Não sei ler. —respondi com um tom triste.

— Descupe. Esqueci que a maioria das mulheres não sabe ler nem escrever.

— E elas não apredem nada? —perguntou.

— A cuidar da casa, e dos filhos. —diz o Rei

— E por que não podem ler e nem escrever? Isso parece meio machista.

O príncipe não encontrou uma resposta. Sempre foi assim e ninguém mais se recordava do motivo.

— Fale-me mais de você. —disse para mudar de assunto.

A moça retraiu-se, sentindo-se acuada. Ele achou melhor não insistir.

— Aproxime-se. —pediu.— Vou lhe mostrar as letras.

Trêmula de emoção, ela obedeceu. Sentou-se ao seu lado e mordeu os lábios, esperou que o rei lhe mostrasse o texto.

— Esta é a letra "A". —ele indicou.— E quando ela se une a outra letra, forma uma sílaba, que formará uma palavra e que poderá dar origem a uma frase e...

— Significa que está tudo ligado entre si? —perguntou a moça.

O rei gostou daquele modo de ver o mundo.

— É verdade, tudo está ligado entre si. —concordou.— E cada palavra tem um significado que se une a outra, que forma um texto que...

— Como se o autor tecesse uma tapeçaria? —perguntou.

— Exato!

Ela era uma moça esperta e ele admirável pessoas com quem pudesse manter uma conversa inteligente.

Ensinou-lhe outras palavras, leu-as em voz alta, soletrou palavras. Não percebeu o nascer do sol e os primeiros raios que iluminaram o jardim e os arredores.

— Preciso ir embora! —avisou a moça.

— Espera. —a moça para no meio do caminho e olha para ele.— Você pode me dizer o seu nome? —perguntou.

— S/n. —a moça diz.

O rei se aproxima da mesma e estende a mão.— Prazer eu sou o rei Christopher Bang, mas pode me chamar de Bang Chan ou de Chan como preferir.

A mesma olha para sua mão estendida e eu o aperta, em seguida faz a oferenda e vai embora. E, antes que ele pudesse impedi-la, desatou correndo para o interior do palácio real.

𝙊 𝙍𝙚𝙞 𝘾𝙝𝙧𝙞𝙨𝙩𝙤𝙥𝙝𝙚𝙧• 𝘉𝘢𝘯𝘨 𝘊𝘩𝘢𝘯 (𝘚𝘵𝘳𝘢𝘺 𝘒𝘪𝘥𝘴)Onde histórias criam vida. Descubra agora