Desde que eu consigo me lembrar, Nii-san, eu sempre desejei ser como você. Sempre desejei continuar brincando de pega-pega, na minha cabeça, iríamos continuar assim até que eu conseguisse te alcançar, conseguisse passar a vez para você, alguma hora, eu conseguiria te tocar. Você nunca reclamou, nunca reclamou que eu ficasse correndo atrás de você, que o seguisse por todo o canto, você sempre achou tão divertido o fato de ter alguém que pudesse ensinar; afinal, tudo o que eu sabia, eu havia aprendido com você, como escrever, contar números e até fazer cálculos. Eu havia me tornado um menino tão independente graças a você, Nii-san, caso o contrário, eu não poderia sobreviver as coisas que eu tive que passar. Mas um dia, eles chegaram a conclusão que não poderíamos mais estar juntos, eu não poderia mais correr atrás de você, não para sempre; eu atrapalharia os planos que haviam feito para você, o Grande Prodígio dos Seis Olhos. Após isso, mamãe e papai, se mudaram de casa, iriamos para algum lugar longe de você, e tudo bem, dessa forma você cresceria absurdamente mais, sem alguém para te atrapalhar; afinal, um mundo grande desse seria muito solitário para duas crianças boas demais.
Em uma manhã normal, Shoko, Geto e Eu, estávamos esperando como sempre que chegasse logo, iríamos almoçar em algum lugar que Geto havia escolhido. E então, você apareceu com a menina mais linda de todo esse vasto mundo desconhecido por mim; a voz angelical e o sorriso calmo, congelaram o turbilhão de sentimentos que rodavam em mim, os barulhos contínuos haviam cessado, e tudo o que restava, era o som da sua voz. Paralizado, ainda, eu sentia meu peito pesar, como se a qualquer momento fosse explodir, e assim que seus olhos puderam vim de encontro aos meus, eu vi a única cor que eu notaria daqui para frente, aquela que se tornaria minha preferida, a única que se residiria em meu mundo vazio e solitário. Querida e bela, Akane Kurosawa, se antes, em algum momento completamente acabado, eu pudesse ver a beleza que residia em seus vastos cabelos negros, com certeza, me fariam ser um homem melhor.
Caminhando calmamente, ainda em sua companhia, eu via melhor, com vontade e animação, as coisas que você admirava, as flores, o céu azul, e o cheiro do verde em nosso redor. A beleza daquelas flores brancas que você tanto adorava, não se comparariam com o vazio de seus olhos, Kurosawa, aquela escuridão que você carregava e convivia, não se comparavam as flores que você amava; entre mil cores pastéis, ainda assim, a escuridão de seus olhos, me chamariam para mais perto. Todos os dias do fim daquele ano, foram dedicados a você, todos os segundos, minutos e horas, foram passados com você; o sentimento vívido que eu sentia ao seu lado, nunca se compararia com o tremor amordaçado de uma batalha ganha. Todos os anos, eu a amei da forma que desejei, Kurosawa, e ao te pedir em casamento, eu larguei todas as coisas que um dia conquistei, apenas para viver ao seu lado; amigos, objetivos, sonhos, aquele uniforme azul escuro, eu larguei tudo para todos os dias voltar aos seus braços, após um longo dia de trabalho em uma padaria com pessoas tão gentis quanto o inferno que a Escola Jujutsu havia me mostrado. Todos os dias eu voltava aos seus braços, Kurosawa, para ver o sorriso que mostrava quando me via entrando pela porta; todos os dias, eu ouvia sua voz doce e gentil, me chamando para comer; todos os dias, eu sentia o calor do seu corpo ao meu lado, quando íamos dormir. A sensação vívida nunca havia ido embora, ou sumido, muito menos diminuído, eu a sentia com mais intensidade todos os dias enquanto ainda estava ao seu lado.
— Mas... você... nunca sentiu, Kuro- — Sam cuspiu sangue, sentindo a faca mais fundo — Sawa.
Você nunca havia sentido a sensação vívida, eu era o único que amava por nós dois, Kurosawa, era o único que havia largado tudo porque sentia o amor calorento por minhas veias. O engraçado, é que eu sinto, bem no fundo da minha alma, Akane, que se eu pudesse voltar ao tempo e lhe conhecer de novo, eu faria tudo novamente, e com todo o cuidado do mundo, iria tentar impedir que a minha insuficiência fizesse você ter tido essa decisão; eu acredito que não tenha sido forte, ou bom o suficiente para você, querida.
— Expansão de domínio... — Kurosawa falou, fechando seus olhos fortemente.
Mas... tudo o que eu posso me lembrar de ter feito, nunca foi ruim ao ponto de que tomasse essa decisão tão cruel, Kurosawa. O gosto metálico em minha boca, me faz questionar o que te fez querer isso, usar sua expansão de domínio em um homem indefeso.
— Purificação Êfemera. — Por fim, Kurosawa cria esferas nas pontas dos seus dois dedos com seu oxigênio em um sopro.
Se algum deus infeliz e com tédio, ouvir minhas preces, se de fato, realmente existir algum, e me conceber a segunda chance, por favor, permita-me matar a menina dos meus sonhos vívidos. Permita-me ser forte o suficiente para arrancar sua cabeça e a fazer sentir o mesmo gosto metálico em minha boca. Me permita fazê-la sofrer da mesma forma que seu amor um dia fez. Me permita matá-la como seu amor fez. Ouça as preces de um humano que caiu no desespero, que se enganou com um vazio tão belo quanto aquele; que pensou que alguma vez, nessa maldita vida, iria ser amado.
E mais uma vez, Nii-san, me desculpe. Eu não conseguirei ir aquele restaurante novamente. Muito menos beber com Geto uma última vez. E se de fato, eu realmente tive alguém, obrigado Shoko por enxugar minhas lágrimas e não me achar um bebê chorão tão infantil quanto eu fui. Pela última vez...
— Eu... vou matá-la, Akane Kurosawa. — Sam disse sem forças, finalizando, caindo sem vida no chão do quarto que dividia com a pessoa que certamente um dia amou.
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SAM: A Maldição de Morrigan ─ Jujutsu Kaisen | zxichiro [CONCLUÍDO]
Fanfic─ Sam, um Feiticeiro de Nível não tão Especial quanto seu Nii-san, decide deixar de lado todos os seus sonhos, objetivos e conquistas, dedicando sua vida toda a quem amou um dia. Cego pelos sentimentos que criou, foi morto pelas mesmas mãos q...