Capítulo III ─ ″ Estranheza ″

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       O vento bruscamente me fez acordar, eu me sentia totalmente molhado, mas o frio não me incomodava, era estranho. Me levantei, ouvindo o som dos pássaros que voavam livremente e toda sua cantoria, olhei ao meu redor, vendo a margem do rio que parecia nunca ter um fim, eu a segui, a passos lentos, mas segui. Caminhei de forma lenta e desesperada, cambaleando, ansioso pelas coisas que estavam me esperando, e ansioso pelo o que eu iria fazer daqui em diante... ─ Eu voltaria? Teria uma casa para voltar? ─ Pensei comigo mesmo, sentindo a brisa do vento pesado; andei por toda a margem até sentir o cheiro das árvores de cerejeira ─ Que visão... ─ O sol refletia de forma cega, pela primeira vez, eu pude notar com total clareza o quão belo eram essas árvores rosadas que Shoko amava.
        As ruas grandes e cheias de Tokyo pareciam secas e solitárias, estar de volta em casa me fez notar o quanto as coisas haviam mudado. Os painéis gigantes que nos grandes prédios mostravam a data e as últimas notícias... ─ Quatro anos se passaram ─ Pensei comigo mesmo, eu ainda seria bem vindo? Ainda teria uma casa ou um abraço para voltar? Essas questões bagunçavam minha mente como um oceano. Respirei fundo, sentindo os olhares curiosos, horas se passaram de caminhada até chegar no Bar daquela época, já era de noite, risadas altas saíam daquele lugar, e de repente por fim, eu ouvi a voz alta e animada dele.

Fizemos um ótimo trabalho!! ─ O rapaz disse de forma feliz, abraçando de lado a mulher ao seu lado, sorrindo.

        Ele continuava da mesma forma, seus cabelos brancos como a neve e seus olhos azuis como o céu, ainda refletiam o mesmo brilho daquela época; mas estranhamente seus olhos agora eram vazios, mesmo que refletissem brilho, era algo ilusório. Virei as costas me preparando para sair, eu não poderia mais estar na presença deles, eu não estava mais no mesmo mundo que eles, eu não poderia mais tentar seguir Nii-san e isso de toda forma, era como aquela época que tive que ir embora, mas dessa vez, eu não consegui sentir nada em relação a isso, que estranho, não? Eu deveria me importar.

Ei! Você está bem? Precisa de alguma ajuda? Está todo ensopado. ─ Uma voz calma questionou o garoto.

       Senti meu corpo paralisar, eu sentia o forte perfume de Shoko, o seu cheiro não havia mudado nada, e a voz gentil dele ainda estava da mesma forma. Continuei da mesma forma, ainda parado, eu não sabia o que fazer nessa situação, minha vontade real era apenas o abraçar e chorar, mas eu não conseguiria, eu não era mais desse mundo, e muito menos me pertencia. Me virei lentamente, sentindo o nervosismo me invadir, de repente, vi seus rostos surpresos, Satoru lentamente tirou os braços de Shoko e lágrimas ameaçavam cair, ele tentava me alcançar de forma lenta e desorientada; eu não consegui falar nada, nem mesmo piscar, eu não queria que fosse dessa forma que Satoru me visse assim.

Sam... ? ─ A voz rouca e fraca de Satoru finalmente havia quebrado o silêncio ─ Meu... Sam? Como? ─ Ele dizia de forma surpresa e desorientada.

      Me perdoe, Nii-san, eu não sabia como te responder, eu não sabia o que fazer, eu não tinha mais o direito de estar ao seu lado, o meu corpo, minha mente e minha alma não me pertenciam mais... Eu não me pertencia mais.

─ Vamos, Sam. Dê a devida despedida. ─ A voz do Deus disse de forma feliz.

      Eu não poderia mais. Eu não era mais o mesmo Sam, ó céus, tudo o que eu queria era te abraçar e pedir perdão, pedir perdão por me rebaixar a esse nível... Mas eu nunca descansaria em paz ou até mesmo teria minha alma liberta se eu simplesmente deixasse minha morte ser dessa forma. Me perdoe, Nii-san...

─ Como... Eu... Te vi morto, eu vi você dentro daquele caixão... ─ Satoru ainda tentava se aproximar, porém o garoto dos cabelos brancos, havia finalmente se movido mais para trás, causando confusão ao homem alto em sua frente ─ Sam? Há algo de errado? ─ Satoru perguntou, de forma confusa.

─ Talvez... Talvez não seja nosso Sam, Satoru. ─ Shoko tentou rir de forma descontraída, caindo na própria mentira.

Não tente mentir para mim, Shoko! Você também está vendo não é? Não sou louco! ─ O homem disse forma grossa.

─ Terei... Que tirar todo o seu poder, Sam? Quer que eu devore sua alma nesse instante? Devo executá-lo e fazê-lo se tornar novamente aquele casco vazio que encontrei no fundo do rio? ─ Kami, o Guloso, dizia de forma tentadora ao menino.

─ Vamos... Vamos, humano! Diga, diga a eles, diga o que tanto anseia! DIGA! ─ O Deus gritou, rindo de forma insana.

─ Eu... ─ O menino havia quebrado o silêncio, atraindo a atenção de ambos ali presente ─ Eu não posso, Nii-san... ─ Lágrimas ameaçavam cair ─ Eu não sou mais o mesmo Sam... ─ O menino choroso disse em tom de tristeza, apertando seu peito fortemente, esse sentimento queimava ─ Eu não pertenço mais a mim. ─ Sua esclera, de repente se tornou preta, deixando de ser o mesmo, e caindo de joelhos.

─ Sam... Seus olhos... ─ O homem questionou de forma aterrorizada ─ Seus olhos estão...

─ DOURADOS FEITO OURO! ─ A voz do Deus ecoou. Sua marionete permanecia de joelhos, ele ria de forma insana, a única coisa que passava em sua cabeça e seus pensamentos, era sobre o humano formidável que havia tido a sorte de achar. Aos olhos de Kami, Sam não passava de um baú cheio de relíquias que os mortais não haviam descoberto ainda como usar.

─ Sam... Sam! ─ Shoko tentava acordar o menino do transe que estava, enquanto Satoru encarava de forma assustada o grande demônio em sua frente. Seus olhos dourados certamente seriam inesquecíveis a visão daqueles que estavam o testemunhando.

─ Quem é você? Por que o Sam está dessa forma? O que você fez com ele? ─ Shoko, desesperada, o questionava.

─ Eu sou aquele que fará da humanidade, minha. As suas almas parecem tão... Apetitosas para mim... Será que eu posso experimenta-las? ─ O Deus questionou, mostrando seus grandes dentes afiados, enquanto sorria.

De repente, de forma inesperada, todos ali presentes, escutaram de forma calma e serena, uma gota de água se esvaindo pelo chão. A marionete ainda de joelhos, em total transe, então pronunciou.

─ Expansão de Domínio...
Singularidade. ─ De forma rápida, um portal se abriu, em seguida, Sam continuou ─ Malevolência Única.
─ Sem escolhas, Sam puxou seu deus entediado para sua realidade, sumindo da visão dos humanos que lutavam pela sua vida.

─ QUE PORRA É ESSA? HUMANO INÚTIL! ─ Kami disse com raiva, de repente, escutando uma leve risada.

─ Peço mil perdões, meu lorde. Não achei que seria certo, você matar coisas que são importantes ao seu receptáculo. Caso o contrário, o faria perder a confiança em você. ─ A voz disse, saindo das sombras daquela expansão e se revelando, assim, por fim, se curvando ao Deus irritado.

─ Leamas? Pensei que você ainda estivesse na missão que o enviei. ─ Kami disse com nojo.

─ Oh sim, eu já fiz o que me pediu, meu lorde... Imaginei que precisasse de mim para seu retorno, então me dediquei a voltar o mais rápido possível. ─ O servo disse de forma gentil.

─ Maldição nojenta... Nunca mais se atreva a me atrapalhar dessa forma. ─ O Deus Guloso disse, finalmente desaparecendo.

SAM: A Maldição de Morrigan ─ Jujutsu Kaisen | zxichiro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora