Raiva: Raiva

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Título muito criativo, tlgd ;) /p

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Em um pensamento filosófico é recomendado que, ao não conseguir tirar um pensamento de sua cabeça, pense em outra coisa.
Veja, se dissesse aos senhores "não pense em um urso", logo pensariam em um urso, é inevitável.
Então, caso não queriam pensar em um urso, pensem em um gato.

E Genya seguirá isso.
Para não pensar em usa morte, pensará em outra coisa.
E ele ama arte.

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Bonsai é considerada uma arte, cultivando árvores em pequenos potes.

Etimologicamente, essa palavra - bonsai - vem dos termos "bom" que significa bandeja e "sai" que significa árvore.
Árvore em bandeja.
Essa arte surgiu na China, depois de dois séculos veio ao Japão.

E com isso ela passou a ter um significado filosófico e até mesmo sagrado.
A essência dessa arte esta em imitar a natureza, copiando os estilos reais das florestas ou árvores. E para isso, é necessário muita paciência - algo que Genya, convenhamos, não tem.

E isso é possível notar ao observar ele cuidando de um bonsai.
São árvores sensíveis. Por isso, demorou para ele pegar o jeito. Mais do que ele tem orgulho de dizer.

Resmungando, observava mais irritado ainda para outra plantação falha.

- Árvores bonsai não servem somente como tendências de estética, jovem - ouvia Gyomei falar, e sua raiva diminuía, surpreendente um homem com uma capacidade de anestesiar a raiva de uma cão raivoso igual Genya - funcionam, também, como um modo de pôr em prática princípios únicos de pensamento.
- Bonsai não é, tipo, manipular o crescimento da árvore? - perguntava Genya, afinal, assim que foi ensinado para ele.
- Sim, mas não somente isso; quando os budistas chineses começaram a ensinar as suas tradições para nós, o bonsai era algo pequeno, mas crucial. - dizia, com aquele tom de voz educacional e sentimental - um bom bonsai não deve demonstrar traços de intervenção humana. E ao contrário da arte vinda da Europa ou das Américas, a arte bonsai não deve ser simétrica, na verdade, deve ser assimétrica.
- Não? Mas para a arte a assimetria é criticável, repugnante! - respondia, nervoso novamente.
- Sim, mas não estamos falando de qualquer arte. Veja, Genya, uma regra que cultivadores de bonsai seguem se baseia em duas visões - dizia, calmamente, mesmo diante de mais uma explosão do jovem - o Zen, do budismo, que é um movimento construído para superar a falta de sentido inerente à existência através da paciência e autocontrole, e o wabi-
- Sabi - susurrava Genya, reconhecendo a palavra dita.
- Um conceito japonês, interessado em aceitar as muitas imperfeições da vida através do silêncio, da solidão, e de uma atitude inabalável. Apreciando como o tempo afeta o mundo.

Após isso, os dois mantinham-se em silêncio, Genya observando o bonsai caído e destruído em sua mão, enquanto Gyomei escutava atentamente a respiração - agora calma - do jovem.

- Ao cultivar bonsai, você está colocando essas duas filosofias em prática, ao contrário das estátuas esculpidas pelo Uzui, bonsai é um organismo vivo. As pinturas do Tomioka podem manter todos sentimentos que ele guarda por centenas de anos, mas as árvores bonsai estão sempre em mudança. E até mesmo a música produzida por Mitsuri se distingue da arte bonsai, afinal, a música não pode ser tocada, só ouvida e marcada pela nossas memórias, enquanto a bonsai permanecerá conosco pelo toque e, para alguns, pela visão.

Bonsai esta em constante mudança, uma obra de arte que nunca será finalizada, e Genya, estranhamente, acha isso reconfortante.

Com isso em mente, decide plantar mais um bonsai, e, com um sorriso triunfante em seu cansado rosto, observa a árvore.
Talvez devesse avisar Himejima de seu sucesso, mas decide pelo contrário.

Se adormecer, espero não acordar. Onde histórias criam vida. Descubra agora