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Expliquei para os dois como funcionava a planície de areia movediça atrás do presídio, como isso poderia ter relação com a "lama" que Najarah procurava mesmo sem fazer ideia do motivo.

- Existem...rochas escavadas do outro lado da planície, pode ser que tenham atravessado o terreno para se esconder lá. - Tentei demonstrar um pouco do que dizia enquanto desenhava no chão com o dedo indicador.

- Não é rocha escavada. É uma cratera. São comuns desse lado do deserto. - Tarek falou enquanto analisava meu desenho.

- Nunca ouvi falar essa palavra. - Não quis parecer ignorante. A teoria era minha então as palavras são minhas. - De qualquer forma, faz sentido que tenham se escondido lá, visto que a cidade não é mais segura.

- Tem como fugir por esse caminho? - Ele me perguntou.

- Não sei, acho que não. A Base é cercada por dois montes. - Meu desenho no chão ficou parecendo um montinho de grama crescendo dentro de um jarro longo.

- Areia movediça, Tarek. É uma armadilha. - Najarah interveio.

- Não é impossível de passar, é firme em alguns pontos. Podemos usar a nosso favor. - defendi minha ideia com convicção.

- Vamos nos contentar em chegar à cratera então. - Ele, por fim, decidiu.

Quase imediatamente tramamos um plano para chegar até lá a partir de uma rápida passada pelo acampamento no presídio, afinal de contas, Grillo e Povan conseguiriam se esconder perfeitamente entre os trabalhadores das minas que estavam ali já que eles também estavam disfarçados com as roupas que eu roubei.

No fim das contas, o movimento intenso e os disfarces de Najarah e Tarek ajudaria bastante, mas minhas roupas não. Me tornei um pouco descartável agora e isso não é um bom sinal, não com os dois armados de um lado e um aglomerado de extremistas do outro.

- Vamos ter que nos separar. - Declarei, apagando com o pé o esquema que tínhamos montado no chão. - É perigoso demais para mim chegar perto daquele prédio e imagino que não vão me deixar esperando aqui.

Os dois permaneceram em silêncio provavelmente esperando que eu explicasse meus argumentos de forma mais sensata.

- Sei que a ideia inicial não era essa, mas não tem jeito. Vocês estão invisíveis mas eu sou praticamente uma fogueira na noite vestida com roupas femininas. E acreditem quando digo, se tem algo que eles gostam mais do que sangue derramando é uma mulher perambulando por aí.

Continuaram em silêncio, até o olhar analítico de Tarek encontrar com o meu.

- Está certa. Faremos isso. - Tarek assegurou, apertando meu ombro com uma das mãos - Você e Najarah ficam juntas para chegar até a areia movediça enquanto eu os procuro entre o acampamento dos trabalhadores forçados. - ele concluiu, me oferecendo uma de suas duas lâminas curvas.

A própria Najarah parecia confusa (e como sempre, enfurecida) com o gesto aparentemente simples de Tarek, não sei o quão simbólico possa vir a parecer para ela, mas certamente era contra todos seus instintos. E ainda assim, Najarah não o impediu. Ou confiava em Tarek ou o achava um completo imbecil.

Hesitei em pegar.

Ele era louco? Ingênuo ou simplesmente confiante demais?

Sinceramente fico na dúvida do que pensar sobre Tarek, seu comportamento é tão singular e ao mesmo tempo parece extremamente calculado. Talvez ele seja assim...expressivo. Ao mesmo tempo que é o homem que acariciou as costas de Najarah de forma empática, é o mercenário arisco que estava disposto a invadir o território inimigo com sangue nos olhos.

Entre DunasOnde histórias criam vida. Descubra agora