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As obrigações que Xiiza exigiu estavam concentradas em um pergaminho de couro sob a posse de Tarek.

Ele juntou os companheiros na cratera para trilhar a melhor rota pelas "cidades-livres" que precisaríamos passar e, em resumo, levaria quase uma semana ida e volta pelo deserto.

Quando sugeri que usássemos o anel novamente, por mais impressionante que pareça, apenas Najarah concordou comigo, mas como maioria, os rapaz se recusaram argumentando que era perigoso e impreciso demais já que eles não sabiam exatamente como usar.

Minha mente rapidamente me levou aos breves relatos que eles mesmos me deram sobre o fato de o portal ter nos jogado em alguma parte do Vhial antes de conseguirem chegar até o vilarejo de Xiiza. Serviu de motivo suficiente para eu desistir também.

Com minha ideia descartada, nosso planejamento se reduziu ao que eles já haviam previsto sobre a viagem de sete dias. Tentei não parecer muito ansiosa, afinal de contas, iria conhecer lugares novos muito distantes do lado que minha antiga cidade ocupava do deserto.

Partiríamos antes do nascer do sol de depois de amanhã, ou seja, ainda tínhamos um dia para organizar nossos suprimentos, armas e água. O horário era tranquilo para mim e nenhum de nós reclamou, até porque, segundo Grillo, os cavalos ficariam menos exaustos até chegarmos na primeira cidade para trocar as montarias.

Finalmente, depois de termos constituído nossa estratégia, deixamos a cratera e fomos todos jantar. Tarek não saiu de perto dessa vez, apesar de não ficar ao meu lado, porém, vez ou outra ele perguntava sobre o ferimento e minha resposta era sempre a mesma: bem. Parte de mim considerou o fato de que ele gostaria saber da origem do corte mas Tarek não insistiu.

Najarah não se ocupou com o rapaz dos destilados, na verdade, fingiu não o conhecer (isso não impediu o coitado a nos servir a bebida). Povan, apesar de bem servido, mal tocou na comida, parecia reflexivo, certamente efeito da visão de Najarah. Grillo foi o único que continuou cheio de olhares para uma corada Rkta. E eu, faminta como estava, e satisfeita das pequenas vitórias do dia, comi tudo o que meu corpo perdeu durante o período que passei "perdida" nas alucinações não tão irreais da tenda das Matriarcas.

No dia seguinte, Tarek e Najarah me instruíram a aproveitar e relaxar o quanto pudesse porque depois que se iniciasse a viagem, dificilmente teria a mesma oportunidade. Felizmente, nenhum deles tentou me fazer mudar de ideia, e melhor ainda, cada um se preocupou com a própria vida o que me permitiu perambular sozinha.

Passei longe da tenda das Matriarcas para reforçar a história seja lá qual Najarah decidiu contar. A verdade, no entanto, é que me sinto muito melhor em comparação à primeira purificação. Não posso negar que está, sim, me fazendo bem, apesar as circunstâncias.

Minha mão ferida pulsou em resposta.

Duvido muito que Tigresa tenha sido real, o ferimento incontestavelmente é, contudo, não acho que teria acontecido algo pior se permanecesse lá. Fui tirada à força, Xiiza disse, e isso poderia ser a resposta pelo motivo de eu não conseguir alcançar a luminosidade tão facilmente.

Bom, arrancada de lá ou não, acho que somente na próxima alucinação eu possa conseguir encontrar algum sentido nisso tudo. Ou não, porque, nada na caverna de Tigresa parecia ter alguma relação à sala de banho da primeira purificação. E não tenho garantia nenhuma de que essas alucinações significam alguma coisa afinal, isso descartando o fato de que me fizeram enxergar a abstinência em cincino.

Absorta nesses pensamentos dignos de uma lunática, finalmente, consegui cumprir minha vontade de dar uma volta ao longo de todo o rio que abastecia o oásis. Não era tão extenso e não tinha nascente, pelo menos não visível entre as enormes rochas que estreitavam uma ponta dele. Na ida acenei para as mesmas pessoas que Tarek me obrigou durante minha primeira vez ali, não sei dizer exatamente o motivo, só pareceu o certo a fazer. Consegui também um espetinho assado, doces de mel e tinta espirrada quando um grupo de crianças passou correndo sujando uns aos outros. Não conhecia nenhum deles.

Entre DunasOnde histórias criam vida. Descubra agora