- Najarah... - chamei em sussurros - Najarah... - Acho que estava próxima demais porque a mesma fez uma careta furiosa antes de sequer abrir os olhos.
- O que, por todos os infernos, você quer? - ela resmungou.
Inclinei uma das sobrancelhas para a grosseria. Eu poderia muito bem chutá-la nas costelas mas, por conta de minha ansiedade para a viagem, me contentei em dizer:
- Está na hora.
Najarah respirou profundamente e eu me afastei. Como eu não tinha, literalmente, nada para levar comigo, arranquei uma fita da minha saia maltrapilha e trancei firmemente os cabelos até o final das costas.
- A areia ainda nem esquentou direito - aprendi que isso significa que está muito cedo - Há quanto tempo está acordada? - Najarah também havia dormido pronta, então só havia se levantado para lavar a boca.
- Você já deveria saber que tenho o sono leve. - Ainda haviam estrelas no céu mas eu não diria à ela que mal tinha pregado os olhos por conta da animação .
Najarah suspirou novamente, fiquei com vontade de dizer que o estresse dela era contagiante! Mas me mantive calada.
Ficou acordado entre o Bando que nos encontraríamos na fronteira do vilarejo, mais ou menos onde ficava a primeira Tenda em que despertei depois do portal. Como é relativamente longe de onde estou com Najarah minha mente tentou trilhar o caminho mais curto até lá a noite toda então estou com um pouco de pressa e isso pareceu incomodar Najarah porque ela me encarava como se fosse jogar um de seus sapatos na minha cara.
E realmente jogou.
- Ei! - consegui me defender do ataque pegando o sapato entre as mãos por reflexo. - Cuidado! - o par do qual seguro chegou próximo aos meus pés logo depois que terminei de falar.
- Você não pensou que iria passar horas montada em um cavalo no deserto usando uma das minhas camisolas, pensou? - o jeito que ela falou me fez sentir burra.
- Não é como se eu tivesse outra coisa para vestir. - Rebati, tirando minhas sandálias para poder calçar os sapatos novos.
Najarah cerrou a mandíbula, chutando com cuidado a tampa de um baú para trás. Me aproximei para ver melhor o conteúdo e me surpreendi com a quantidade de cores misturadas lá dentro. Texturas. Detalhes. Poderia jurar que algo brilhou ali. Não consigo imaginar Najarah usando nada além do preto desbotado padrão entre o Bando, então jamais passaria pela cabeça que ela tivesse um estoque desses.
- Pega o que quiser. - Ela me deixou com o baú e foi terminar de reunir as flechas restantes da besta que, com certeza, carregaria nas costas.
É de se imaginar que, apesar de eu ter meus quatro pares de roupa(contando com a versão masculina) a diversidade de formas e cores do baú de Najarah brilhou aos meus olhos como um tesouro. Minha criança anterior teria enlouquecido completamente e resolvido usar um pouco de cada até deixar o baú vazio. Eu neguei para a ideia mas ri também. No final das contas, peguei um par todo escuro, não exatamente preto, poderia ser uma variação de marrom. As mangas eram longas e leves apesar da textura típica do deserto. As calças tinham certa elasticidade, então acredito que não atrapalhariam na hora de cavalgar.
- Para o seu tamanho essas roupas são bem maiores, não? - perguntei enquanto dava a volta num cinto de bordados retos e de mesma cor, para prender à blusa à calça.
- É mais confortável assim e ajudam contra o frio, você vai entender. - Ela estava passando uma pedra negra pontiaguda na linha abaixo e acima dos olhos e desenhou outra sobre as pálpebras.
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Entre Dunas
FantasyEudora Fazad cresceu em Fossa, uma cidade ressecada pelo deserto Vhial, que a circunda. A opressão que seu povo sofre não a impede de aprontar de vez em quando,principalmente, se a barriga exigir o alimento que ela só consegue por meio do roubo e de...