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- Naer, fica quieto, merda! - Najarah tentava segurar um pano todo manchado de sangue contra a cabeça de um agitado Povan.

- Eu estou quieto. - Ele protestou...inquieto.

Sua voz embargada como se tivesse passado pelo menos três dias bebendo não lhe trazia credibilidade nenhuma, de qualquer jeito.

Olhei para o lado de fora da entrada da gruta e notei que ainda era noite do mesmo dia, talvez, não tenho certeza quanto tempo passamos lá dentro.

- Como uma maldita pulga. - Najarah apertou o braço dele para que o obedecesse mas ela era bem mais baixa, mesmo se conseguisse não seria por muito tempo.

Povan ainda estava sob o efeito pesado do alucinógeno. Talvez nem esteja sentindo o ferimento aberto acima de um de seus olhos. Olhos esses, que brilhavam num violeta vívido. Me lembrou a cor de um raio.

Todos estavam com os olhos assim mas com tonalidades diferentes. Depois que deixamos a parte interna da gruta e fomos para a claridade do luar nos Lençóis, consegui perceber melhor o fenômeno nas nossas íris oculares. Povan e Grillo tinham os tons mais intensos ao redor das íris, como um aro. Com os olhos brilhantes pareciam animais noturnos. Tarek tinha também, mas o tom era menos brilhante, apenas presente. Em Najarah o aro era opaco, sem vida alguma, poderia muito bem ter nascido com ela e só agora consegui notar. Mas seu olhar não estava menos fatal. Talvez esse aro tenha sido o motivo pelo qual Tarek não acreditou quando eu disse que estava sóbria.

Najarah, bem conhecida pela Gruta como já haviam me informado, foi obrigada a deixar a companhia do seu par de gêmeos, depois de uma visão com Povan, para separar a briga que, aparentemente, o próprio Povan havia começado ninguém sabe há quanto tempo mas a violência era genuína a ponto de alguém perder uma das orelhas. A considerar o sangue manchado no queixo, e a presença das duas orelhas, acredito que o outro envolvido tenha saído na pior.

Agora entendi porque não se pode entrar com armas lá.

- Apaga ele, é mais fácil. - comentei mas não estava brincando.

Grillo riu de onde vomitava e me lembrei que ele não era muito chegado a sangue.

- Falar é fácil! Vem me ajudar! - Quando avancei em direção a Povan, que parecia ainda ter energia para continuar a briga, Grillo não me impediu como fez na cela vidas atrás. Mas Tarek sim.

Os gêmeos de Najarah haviam interrompido nossos beijos no escuro para avisar sobre a briga justo no momento que Tarek me fez descobrir, e arfar, com um tipo muito indecente de massagem no mamilo enrijecido. Foi o último contato que tivemos até então.

Tarek barrou minha passagem apenas apertando a mão que segurou, a que tinha a cicatriz recente na palma. Ele foi no meu lugar e pediu para que Najarah se afastasse. O pano com sangue caiu no chão e por lá ficou porque Tarek passou um dos braços do molenga Povan pelos ombros e sustentou o amigo para fora da entrada da gruta sem apagá-lo.

- Eu vou matar ele quando acordar. - Najarah resmungou, seguindo os dois enquanto limpava seus braços e abdômen das manchas de pó cintilante. Aposto que os gêmeos estavam apreciando esses mesmos lugares antes de ela ser interrompida.

Fui por último mas não deixei o buraco de pedra sem Grillo. Ele limpou a boca com a camisa manchada de pó e se levantou, meio cambaleante e com um sorriso besta no rosto. Ficava engraçado porque ele sempre vivia cheio de sorrisos bobos mesmo sóbrio.

Como Tarek, ofereci meu corpo para que ele se equilibrasse mas Grillo negou, indicando que só precisava de ajuda para chegar até os dois mais à frente. Provavelmente não confiava em si na segurança de seus passos naquela areia fina demais. Então o guiei até lá. Tarek parou e Povan xingou centenas de coisas sem sentido quando Grillo passou o braço restante do amigo ferido por cima de seus ombros altos e os três, então juntos, começaram a se arrastar como se fossem um só em confiança e desequilíbrio. Quem disse que isso tudo impediu Povan de comecar a cantar muito desafinadamente?

Entre DunasOnde histórias criam vida. Descubra agora