Cap. 5

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Enid Sinclair – POV

Passei grande parte do caminho de volta para casa relendo o bilhete do meu "carteiro das flores misterioso", admirando a linda flor que ele me enviou. Suas pétalas eram tão delicadas e únicas, quase como se tivessem sido feitas sob medida para mim. Não consigo me lembrar da última vez que recebi flores — deve ter sido antes de eu começar a namorar. É incrível como um gesto tão pequeno pode ter um impacto tão grande. Aquela flor, em sua simplicidade, definitivamente melhorou o meu dia.

Mas, no fundo, minha mente ainda estava na conversa que teria mais tarde com Yoko. No momento, parecia que estava lidando bem com tudo, talvez anestesiada pelo choque de realidade e pelo "presente" que carregava na bolsa. Contudo, sabia que quando a madrugada chegasse e o silêncio "ensurdecedor" tomasse conta do meu quarto, o choro voltaria com força total. Eu estava apenas adiando o sofrimento, consciente disso.

Depois de uns 40 minutos, o metrô finalmente chegou à estação onde eu desceria. Esperei a multidão se dissipar antes de me levantar e passar pelas portas. Ao sair, segui pelas ruas frias e tranquilas. Aqui não é o centro, então o movimento é bem menor. Mas, de manhã, ah, era um caos total. Aquele horário é para quem vai trabalhar, e eu não posso julgar.

Mal posso esperar para ter um carro, poder andar de um lado para o outro sem me preocupar em sair de casa uma hora antes só para pegar o transporte público, que muitas vezes atrasa ainda mais. Sonhar não custa nada, não é? Já tenho minha carteira de motorista, tirei antes, só por precaução. Vai que surge uma emergência e alguém que conheço precisa de ajuda? Ah, a Ninid dirige! É só me passar a chavita del carrito e eu cuido do resto!

Mas, para isso, preciso de um trabalho, e a situação está complicada.

Continuei andando até passar em frente à loja onde Yoko trabalha. Decidi dar um "toque" para que ela soubesse que já estava de volta, já que não havia ligado como ela pediu. Parei na porta da loja e procurei por ela, mas não a encontrava de jeito nenhum. O lugar não era grande e, felizmente, minha visão estava boa. Imagina se fosse o contrário? Estava quase desistindo quando, finalmente, vi alguém acenando para mim de um canto quase obscuro do estabelecimento.

O susto que levei foi inexplicável. A garota estava tão escondida na escuridão que parecia uma vampira, com a pele mais pálida que o normal, iluminada apenas pela luz do computador. Arrepiei na hora.

Acenei de volta e fiz um gesto para mostrar que estava indo para casa. Ela estava toda sorridente, provavelmente achando que eu havia conseguido a vaga. Ai, quem dera, Yoko... Ela apontou o dedo em um joinha e gritou suavemente que, no horário de almoço, iria pra casa conversar comigo. Até lá, teria aproximadamente uma hora e meia para preparar meu psicológico para finalmente contar sobre a 8ª decepção desse mês, de novo.

Sentindo o peso do que estava por vir, respirei fundo. A ansiedade crescia, mas ao mesmo tempo, uma pequena parte de mim se sentia grata por ter alguém como Yoko ao meu lado. Essa conversa seria difícil, mas eu sabia que, no fundo, ela sempre saberia o que dizer para me ajudar a enfrentar essa nova fase.

Nos despedimos com dois beijos lançados no ar e, finalmente, segui em direção ao apartamento, que era bem pertinho. Passei pela recepção, cumprimentei alguns moradores que estavam por ali e parei para um rápido bate-papo com Joaquim, o porteiro do prédio. Sempre o chamei de "Seu Joaquim", é um costume.

Ele era um homem razoavelmente alto, com cabelos castanhos quase grisalhos, pele parda e sempre vestia seu traje clássico: calças pretas, camisa social azul clara e gravata azul escura. Devia ter por volta dos 49 anos, se não me engano, e era a simpatia em pessoa.

The Mysterious Boss - (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora